
Eu participava de um grupo relacionado à minha área há muitos anos de forma bastante intensa, até o dia em que o nome de George Soros e sua “Open Society” – ou Sociedade Aberta, nome derivado de um livro do filósofo conservador Karl Popper – entrou em debate pelos colegas. A questão se relacionava à participação do grupo em uma licitação para receber um “grant”- um financiamento – da Open Society para dar conta de projetos ligados à Humanização do Nascimento. Minha postura, como seria de se esperar, foi evidentemente contrária à qualquer ligação da nossa instituição com George Soros. Argumentei que este cidadão era um representante do “capitalismo sem fronteiras”, e um conhecido financiador de rebeliões neoliberais, o que faz das suas doações a grupos identitários uma perfeita cortina de fumaça objetivando encobrir suas ações de reforço ao neoliberalismo transnacional e sem barreiras, modelo que tanto admira.
Imediatamente as pessoas do grupo se colocaram contra minha posição, tratando-a como radical e baseada apenas em preconceito. Afinal o senso comum o trata como um homem progressista, defensor da democracia liberal e da diversidade, dos trans, negros, gays, mulheres, etc. Que mal poderia haver em um bilionário de bom coração, interessado em distribuir o que ganhou para causas que reconhece válidas e importantes?
Por certo que estas ações mudaram a vida de algumas – ou muitas – pessoas, mas nada produzem de diferença na estrutura social, que se mantém intocada, permanecendo injusta, desequilibrada e perversa. A ação desses bilionários da “caridade identitária” é exatamente essa: fomentar a divisão da sociedade por identidades e separá-la em guetos distribuídos por etnia, orientação ou identidade sexual, gênero, etc. Muda-se a vida de poucos para que a estrutura que comanda a todos não se altere.
É exatamente esse tipo de perspectiva política o que faz com que um negro pobre e miserável perceba como inimigo um branco igualmente pobre, desviando a atenção do fato cristalino de que ambos são vítimas de um modelo social injusto e excludente que produz uma enorme massa de pobres (de todas as cores, gêneros e orientações sexuais) que é explorada por uma elite invisível de bilionários – como George Soros.
Não há como confiar num sujeito cuja riqueza depende da nossa miséria.
Minha posição firme, baseada na minha perspectiva marxista e anti imperialista, foi rechaçada violentamente pelo coordenador do grupo, sendo que até as referências que usei para sustentar minha tese (uma entrevista golpista de Soros se opondo à eleição de Lula em 2002 na Folha de SP) foram desconsideradas e tratadas como “fake news”.
O resultado foi o meu cancelamento sumário e a minha posterior saída do grupo. Não havia maturidade para um debate mais profundo sobre as raízes de nossa dependência e as armadilhas criadas pelo imperialismo para sequestrar nosso ativismo. Ok, vida que segue. Todavia, minha saída tem uma interpretação que pode ser bastante pedagógica.
O objetivo desses institutos internacionais neoliberais (Soros, Gates, Koch, etc.) é a divisão da sociedade em elementos artificiais (criados pela própria sociedade para a divisão do trabalho) como etnia, orientação sexual, gênero, etc., fazendo-nos esquecer elementos muito mais gritantes como as classes sociais que nos dividem pelo capitalismo. Portanto, servem para nos separar, pois unidos em torno das reivindicações de classe somos mais fortes e mais vigorosos no combate à iniquidade social.
Pois a divisão causada nesse grupo pela figura sinistra do bilionário Soros cumpriu exatamente essa função. Separou e desuniu e nos fez esquecer o que nos unia exaltando a artificialidade – a defesa da benemerência colorida – que nos diferenciava. Tristemente didático. Fez lembrar um filme “Proposta Indecente”, com Robert Redford. Na trama, a história de um dinheiro oferecido cuja ideia dissimulada e perversa era separar e desunir, desviando o olhar do fato de que havia amor para além das posses.
Agora ficamos chocados com as informações trazidas a nós através do Ministério de Defesa da Rússia de que várias entidades ucranianas, georgianas e estadunidenses estariam se preparando para a produção de armas químicas. Particularmente, segundo esta fonte militar, o funcionamento destas instalações estaria sendo financiado e controlado por uma gama de organizações americanas, entre as quais o Fundo de Investimento Rosemond Seneca, dirigido por Hunter Biden, filho do presidente americano, e o fundo administrado por George Soros. A subsecretária de Estado americana, Vitória Nuland, reconheceu a existência desses laboratórios, assim como Avril Haines, diretora de inteligência Nacional dos Estados Unidos, que também declarou a existência destas instalações, porém, ambas negaram que em tais laboratórios houvesse a produção de armas químicas.
É importante entender que, quanto mais se investigam as ramificações de poder destes bilionários, mais aparecem seus tentáculos produzindo a exploração e a miséria de povos subjugados. O mesmo George Soros que controla a “Open Society” tem conexões com entidades fascistas ligadas ao golpismo na Ucrânia. Como pode haver ainda alguma dúvida de que sua presença no Brasil deveria ser rechaçada pelo conjunto das forças de esquerda ou por qualquer instituição que deseja ser livre das imposições do capital predatório internacional? Por que aceitamos que um candidato que se posiciona à esquerda do espectro político nacional esteja ligado a instituições golpistas como o NED, a CIA e o próprio Soros?
A atitude marxista mais justa e coerente será sempre lutar pela soberania dos povos e pela ruptura dos laços de subserviência ao imperialismo. Qualquer união com golpistas, por mais inocente que possa parecer, será um passo na direção oposta.