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Leftismo

Acho curioso que, ao ser perguntado, sempre informo que sou um sujeito de esquerda. Mas isso acontece apenas quando estou no Brasil; se estivesse nos Estados Unidos eu jamais poderia sequer imaginar me associar aos movimentos da esquerda americana. Apesar de entender a dicotomia da política americana – onde um partido único de direita se separa em dois, sendo um chamado “right” e outro “left” – ainda acredito que não existe nada mais reacionário do que ser um “leftist” do partido liberal (democrata) de lá.

Nos Estados Unidos ficou muito evidente a aposta no “fim da história” preconizada por Francis Fukuyama. No ano de 1989, quando o mundo viu caírem os muros que separavam Berlim, o cientista político e economista americano Francis Fukuyama publicava seu famoso artigo com o provocativo nome de “O fim da história?” na revista The National Interest. Nele o economista antevia que a disseminação sem contraposição das democracias liberais e do capitalismo de mercado eram os sinais inequívocos de que estávamos dando um passo definitivo para o progresso econômico e cultural da humanidade, sendo o modelo disseminado pelo Império Americano aquele se seria o fim da nossa busca por um sistema global de justiça social. Três anos mais tarde, Fukuyama publicaria o livro “O fim da História e o Último Homem”, onde explorava com mais profundidade essas ideias.

Por esta razão, o bipartidarismo americano se assenta sobre essa premissa: nenhum dos partidos tem necessidade em debater a estrutura liberal da sociedade, pois se trata de um debate morto, solapado pelo tempo e pelo fracasso do socialismo real. Todavia, para manter a face enganosa de “duas propostas” políticas, dividem-se pelas questões de costumes como aborto, direitos para gays, negros, transexuais, imigrantes, etc. Para qualquer observador atento, fica claro que se trata da mesma proposta capitalista e imperialista que está presente no “ethos” de ambos partidos, o que se pode ver facilmente pela política externa, onde o imperialismo, o apoio a Israel, o incentivo à guerra e o controle do planeta com mãos de ferro são inequívocos pontos de confluência.

Aqui no Brasil é possível ver muitos reflexos do “leftismo” importado dos americanos no debate político contemporâneo. Partidos ditos de esquerda estão apostando muito mais do debate identitário do que no combate ao capitalismo, no imperialismo e suas mazelas. A exemplo do que ocorreu com o partido Democrata, parecem que apostam em pequenas reformas e na representatividade de setores ditos oprimidos para que a base da injustiça social não seja tangenciada. Aqui, suas pautas se expressam no identitarismo e no wokismo que, infelizmente, contaminaram setores significativos dos seus militantes. Para levar adiante suas propostas e sua visão de mundo não se envergonham de estabelecer contatos profundos e íntimos com instituições imperialistas e golpistas, como a CIA, USAID e NED. Os focos principais são as instituições em defesa das mulheres, do antirracismo, as que oferecem apoio à comunidade gay e aos transexuais, financiados pelas onipresentes “Fundação Ford”, “Gates Institute”, “Open Society” e aquelas ligadas aos irmãos Koch.

Se Lula não conseguir se livrar dessa armadilha o seu governo será inexoravelmente controlado pela esta direita mascarada de progressista, da mesma forma como estes grupos controlam o governo americano agora.

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Tolerância

Uma dica para aqueles que gostam da “censura do bem” que parece consenso entre os formadores de opinião da esquerda: leiam em que contexto Karl Popper – um liberal profundamente anticomunista – proferiu sua famosa frase. Entendam que a perspectiva de não “tolerar os intolerantes” pressupõe que alguém terá o poder de arbitrar a intolerância. Quem seriam os vestais a determinar quais palavras são permitidas e quais devem ser proibidas? Quem, dentre nós, está acima do bem e do mal?

No caso do Brasil o Alexandre – ou o STF inteiro, que inclui Fux, Fachin, Kassio Nunes Marques, André Mendonça – tem o poder de determinar que algo (ou alguém) rompeu os limites da livre expressão. Ou seja: no caso recente, quem determinou o limite da tolerância é um sujeito que foi colocado na posição de Ministro da Suprema Corte através de um presidente que chegou ao cargo por um golpe de Estado. É justo admitirmos isso?

No caso de Popper “intolerância” o limite seria alguém se atrever na defesa do socialismo e eliminar o controle privado dos meios de produção – algo intolerável para um liberal. Mas quem é Popper na fila do pão da democracia? Sua visão de “Sociedades abertas” é uma clara contraposição ao marxismo e ao totalitarismo, mas é um caminho de liberalismo burguês que conduziu o planeta à destruição que testemunhamos e ao neofeudalismo corporativo que se estabelece sobre o planeta.

Não esqueçam que a “intolerância com os intolerantes” é o mantra das forças de ocupação de Israel, que usam dessa mesma lógica para dizimar os “intolerantes palestinos”. Na Arábia Saudita cabeças rolam contra “intolerantes” que atentam contra o poder absoluto de seus monarcas. No Brasil essa estratégia será usada sempre que houver vozes contrárias à democracia burguesa, controlada pelas corporações e a elite financeira. Esse é o principal tropeço: não perceber que essa censura a certos termos, temas e expressões serve sempre aos poderes constituídos. É uma manobra intrinsecamente conservadora.

PS: Sim, Alexandre de Moraes tem méritos em salvaguardar a nossa frágil democracia, mas não fez nada além da sua obrigação de punir como crime o que realmente é crime. Todavia, acreditar que ele é o guardião moral dos nossos valores democráticos – nem a pau, Nicolau. Ele representa os velhos valores da direita, o conservadorismo e a perspectiva punitivista mais anacrônica do direito. A distância entre Alexandre e Moro é muito menor do que imaginamos, e inclusive o primeiro já deu total apoio ao segundo.

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Punir mais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta quarta-feira, 11 de janeiro de 2023, durante cerimônia de posse da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Indígenas, Sônia Guajajara, projeto de lei que transforma o que antigamente era tipificado como injúria racial como “crime de racismo”. Esta proposta, já aprovada pelo Congresso em dezembro do ano passado, aumenta de 1 a 3 anos para 2 a 5 anos a pena de prisão pelo crime.

Um erro, mas apenas demonstra a influência destes grupos e que Lula possa estar se curvando ao poder dos identitários, fato que poderá causar problemas sérios no futuro. Os governos do PT no passado já foram um desastre punitivista, e creio que a lição não foi adequadamente aprendida. Durante os governos da esquerda nos vergamos aos apelos reacionários que acreditaram que endurecer leis e colocar trabalhadores e a população negra e pobre nas prisões poderiam trazer resultados sociais positivos.

Foi desastroso – e Lula sabe disso – e por estas iniciativas nos tornamos a terceira maior massa carcerária do planeta, sendo que a população negra representa 67% dos prisioneiros. É possível mesmo que Lula não concorde com essa perspectiva, mas a pressão à direita – do PT e fora dele – em seu governo parece ser insuportável. A ideia de combater racismo, homofobia e transfobia com novas leis e punições mais severas parte de uma visão ingênua e sem embasamento científico.

Punitivismo é exatamente isso: endurecer as leis (punir mais) que já existem ou criar novas punições. Não há dúvida alguma de que a população negra é segregada e vítima de violência, mas não (mais) pelas leis, e sim pela estrutura de exploração, herança da escravidão de mais três séculos neste país e de um modelo capitalista que necessita corpos negros para a produção. Entretanto, as ações antirracistas só vão prosperar associadas com a luta de classes; sem isso seremos obrigados continuamente a criar novas prisões e manteremos o problema da opressão do povo negro sem solução.

Não é necessário ser negro para perceber que o punitivismo é absolutamente inócuo e não diminuirá uma morte sequer, não protegerá a população negra da violência e muito menos terá capacidade para fazer desaparecer um aspecto nefasto da cultura como o racismo. A criação e o “endurecimento” dessas leis é prejudicial porque nos oferece a ilusão de que “algo está sendo feito”, quando na verdade essas ações são inúteis, criam distância ao invés de proximidade e falham em sua proposta de proteção aos vulneráveis. Seria suficiente entender entender esta questão quando observamos que leis como a Maria da Penha jamais desempenharam um papel na diminuição da violência fatal contra as mulheres, exatamente porque esta violência está imbricada na estrutura violenta e cruel da sociedade capitalista e porque as punições são incapazes de corrigir este problema.

Apenas os incautos se surpreendem, já que esse tipo de proposta sempre surge da direita, as mesmas forças que acreditam na justiça burguesa, na ação protetora das cadeias e nas leis como motores sociais, o que é um erro comprovado por centenas de exemplos em todo o mundo. O mais recente e contundente foi o “three strikes” do governo Clinton, que multiplicou a população carcerária, destruiu a vida das pessoas envolvidas, enriqueceu advogados, criou presídios privados, atingiu a marca histórica de 1.9 milhões de encarcerados e não mudou em nada as taxas de criminalidade. Zero. Clinton precisou pedir desculpas públicas pelo erro de abraçar as teses punitivistas, mas quem foi a parcela da população que pagou caro por esse desastre? Por certo que mais uma vez foi a população negra e pobre do país mais rico do mundo. .

E quem vocês acreditam que será punido pela lei “antirracista” – que criminaliza a livre expressão, mesmo que ofensiva – sancionada pelo presidente Lula com toda a pompa e circunstância e com a presença dos representantes identitários em seu governo? O branco rico que regurgita disparates racistas? Ou será o branco pobre e excluído que, numa prosaica discussão de bar, chamará seu desafeto de “negão”?

Não sejamos tolos e ingênuos!! O punitivismo sempre recai sobre a cabeça do pobre!!! Para cada janotinha do agro que receberá uma punição, dezenas de trabalhadores pobres serão atingidos. O combate ao racismo sem luta de classes deságua fatalmente no identitarismo estéril. Aliás, exatamente o que desejam as instituições que dão apoio a estas lideranças agora agindo como “mentores” do governo petista, como a “Open Society” de George Soros e o IREE de Etchegoyen.

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A arena moral das esquerdas

Wokismo é um neologismo (e um anglicismo horroroso) que pode ser traduzido como “alerta”, “acordado” ou “consciente” e começou a ser utilizada no enfrentamento dos negros contra o racismo, mas passou também a designar as políticas progressistas que tratam de gênero, identidade e orientação sexuais, assim como os direitos trans. Apesar de sua aparência progressista é um movimento conservador, cujas disseminação e alastramento ocorreram por obra da CIA e do partido Democrata americano, que o exportam para várias partes do mundo com o objetivo de sabotar a união popular, dividir a luta proletária e fragmentar a frente anti imperialista e anti capitalista.

O wokismo foi motor das primaveras árabes, sendo utilizado no Irã (aproveitando-se de uma tragédia recente), em Israel (no pinkwashing) e no Afeganistão (onde garantir escola às meninas é mais importante do que desfazer a rede de prostituição e pedofilia acobertada pela invasão do exército yankee) fazendo o colonialismo genocida ser vendido como “defesa dos direitos humanos e pela diversidade”, mesmo que sua ação destruidora contenha apenas morte e submissão.

Não é por acaso o esforço e a quantidade imensa de dinheiro que o IREE, NED, irmãos Koch, Open Society de George Soros e outros órgãos do imperialismo empregam na captação, treinamento e formação de quadros oriundos de movimentos identitários. Também é prática frequente atacar pensadores progressistas e do campo da esquerda revolucionária através de seus códigos morais rígidos, produzindo cancelamentos e linchamentos de reputação. Como exemplo recente do significado amplo do wokismo podemos citar as críticas mordazes ao intelectual Boaventura Souza Santos encontradas no Twitter. Ele é um dos raros intelectuais europeus que se posicionou abertamente contra as ações do “Otanistão“, acusando o imperialismo americano de patrocinar a guerra fratricida na Ucrânia…

…. mas, “infelizmente não passa de um machista. Afinal, não cita mulheres em seus trabalhos, ou pelo menos não as cita na quantidade que deveria, segundo nossos critérios. Cancelem-no. Apaguem suas palavras”. Desta forma, sua importante voz contra o imperialismo assassino e armamentista é eclipsado por uma crítica moral sobre sua relação com a produção intelectual feminina.

Plim!! Ponto para o Tio Sam!!!

Cabe sempre lembrar que combater o identitarismo e o wokismo não significa desprezar as lutas anti racistas, anti machistas, contra a transfobia e a misoginia, dramas que ainda são prevalentes em nossa sociedade. Muito pelo contrário, significa reforçá-las e acrescentar a elas um claro elemento de enfrentamento à gênese dessas chagas sociais: a expropriação do trabalho pelo capital.

O combate a estes “mísseis imperialistas” jogados por drones de propaganda no seio da esquerda, travestidos de diversidade, é uma obrigação da esquerda raiz, e um objetivo claro para todos aqueles que desejam a unificação dos trabalhadores. Lutas identitárias sem consciência de classe são artifícios divisionistas que, ao fim e ao cabo, fazem um branco miserável e explorado ser odiado por um negro, ambos em igual condição depauperada e vítimas da mesma sociedade desigual, desumana e capitalista. Desunidos e fragmentados em infinitas identidades serão, por certo, muito mais facilmente controlados.

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Parto, corpo, sexualidade e revolução

Trabalhei como obstetra durante 35 anos e durante todo esse tempo fui ativista e trabalhei em projetos de humanização do nascimento, tanto institucionalmente quanto na minha prática pessoal. O Brasil tem uma importância muito grande no cenário do parto humanizado, e nossas instituições são reconhecidas aqui e no exterior, em especial a ReHuNa – Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. Durante os mais de 20 anos em que militei nas organizações de suporte ao Parto Humanizado eu percebi em muitas destas instituições uma vinculação forte com o identitarismo – o que fez com que eu me afastasse de algumas delas por sua conexão com a Fundação Gates, Fundação Ford e a Open Society. Entretanto, minha posição contra o identitarismo e estas instituições nunca me afastou da luta pelos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres e seus filhos, e isso ocorre porque estas lutas não precisam ocorrer em nome de um “corporativismo de gênero”, mas pela via da ética e do humanismo, elementos que estruturam estas lutas que afetam o conjunto da sociedade.

É meu convencimento que o parto humanizado não deve ser defendido em nome da “mulher” tão somente, mas em nome da sociedade como um todo, de cada um nós, e pela proteção da integridade física e emocional de todos que dele participam. O mesmo se pode dizer do racismo, cujo combate não se restringe a beneficiar as comunidades negras, mas a todos que participam dessa sociedade, pela união da classe trabalhadora em torno do que existe de humano em cada um, acima das barreiras raciais.

Um exemplo disso é a minha própria entrada nesta seara da humanização, que ocorreu na condição de pai, há 4 décadas, pelo direito dos companheiros de participarem da gestação e do parto. Já naquela época eu intuía que esta singela atitude poderia melhorar e fortalecer os laços de paternidade, e todos hoje em dia reconhecem a importância de uma sociedade com país responsáveis e presentes.

Diante da minha firma convicção na importância da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais e o parto no modelo humanizado, a minha proposta é simples:

É evidente que a violência contra as mulheres é tão mais perigosa e insidiosa quanto mais dissimulada e inaparente. A violência doméstica – com agressões físicas e morais, chegando mesmo à morte – é evidente e escandalosa, e precisa uma especial atenção, e não pode haver dúvidas sobre isso. Entretanto, a violência institucional cometida contra as mulheres na hora de parir é normalmente invisível aos olhos desarmados, e por isso se mantém silenciosa e pervasiva, sem que receba a devida contraposição à sua manutenção e disseminação pela cultura burguesa.

Por esta razão é importante que a violência obstétrica seja nomeada dessa forma, e que seja tratada pelo que é: uma violência de gênero disfarçada de regras, protocolos e rotinas, praticadas nas mulheres muitas vezes sem seu consentimento (como episiotomias, afastamentos, manobras, cesarianas desnecessárias e outras rotinas) e violando sua integridade física e moral.

Assim como outras práticas agressivas estas violências são vendidas como ações “para a proteção da mulher”, quando na verdade servem basicamente para manter o controle sobre seus corpos. Sendo o parto “parte da vida sexual das mulheres” a ação abusiva da medicina sobre o parto é uma agressão contra sua própria sexualidade, e atua como uma forma de expropriar a participação materna sobre este evento.

A maioria dos partidos burgueses e liberais olham para a violência de gênero observando apenas a parte do iceberg que emerge para fora do oceano de abusos. Ficam focados na questão do emprego, da violência contra a mulher, da necessidade de creches e na descriminalização do aborto, o que é justo, mas não contempla a complexidade das lutas das mulheres contra os poderes estabelecidos que regulam seus corpos e sua autonomia.

Eu acredito que o os partidos marxistas deveria tomar a frente e assumir a pauta da Humanização do Nascimento com entusiasmo e destemor, pois que ela atinge de forma muito certeira o sistema de poderes que atinge o corpo das mulheres em sua liberdade, sua sexualidade e seu desejo.

Além disso, não devemos esquecer que gestantes do primeiro mundo são atendidas por um modelo de referência crescente de complexidade que é centrado na figura das parteiras profissionais (atendentes de parto com formação específica na área) e é através destas profissionais – especialistas na fisiologia do nascimento e no cuidado – que poderá haver uma revolução com a necessária radicalidade na questão do parto. Nos lugares onde este modelo é aplicado os resultados maternos e neonatais são melhores do que qualquer lugar – rico ou pobre – onde se estabeleça a atenção ao parto centrada na figura do médico. Para humanizar o nascimento é necessário descolonizar as mentalidades centradas no paradigma médico de atenção ao parto.

O movimento da humanização do nascimento não é uma pauta identitária, mesmo que tenha sido tratado dessa forma por muito tempo e ainda atraia muitas mulheres seduzidas por uma ideia de enfrentamento e separado das outras questões sociais, como o capitalismo e a luta de classes. Não, o parto humanizado diz respeito aos direitos mais básicos das mulheres, mas também da sociedade como um todo.

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Sociedades abertas

Quando eu vi que algumas instituições que eu respeitava estavam tratando como natural a entrada de verba de organizações ligadas ideologicamente à Karl Popper e à Open Society percebi que a luta pelo Parto Humanizado, pelo Aleitamento, nos grupos anti racistas e pelas mulheres precisa estar conectada com uma visão de conjuntura ampla e abrangente.

Negar-se a enxergar as repercussões profundas desse tipo de financiamento é grave, sob pena de sermos apenas massa de manobra para interesses imperialistas e que não desejam nada além de perpetuar o controle sobre a consciência nacional.

Soros, Gates, Koch e outras organizações ligadas a impérios financeiros controlam 1.5 trilhões de dólares no mundo inteiro vendendo benemerência e exigindo em contrapartida a subserviência a um modelo capitalista e totalitário. Faz parte do seu trabalho produzir – em think tanks sofisticados – a modulação da realidade através de câmaras de eco que repetem mentiras até que – por exaustão – elas se transformam em verdade.

Deixar nossas entidades que defendem o parto humanizado, amamentação, equidade social e racial e tantas outras LIVRES da pressão deste tipo de sedução capitalista é uma tarefa tão difícil quanto nobre.

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Armas, Guerra, Germes e Soros

Eu participava de um grupo relacionado à minha área há muitos anos de forma bastante intensa, até o dia em que o nome de George Soros e sua “Open Society” – ou Sociedade Aberta, nome derivado de um livro do filósofo conservador Karl Popper – entrou em debate pelos colegas. A questão se relacionava à participação do grupo em uma licitação para receber um “grant”- um financiamento – da Open Society para dar conta de projetos ligados à Humanização do Nascimento. Minha postura, como seria de se esperar, foi evidentemente contrária à qualquer ligação da nossa instituição com George Soros. Argumentei que este cidadão era um representante do “capitalismo sem fronteiras”, e um conhecido financiador de rebeliões neoliberais, o que faz das suas doações a grupos identitários uma perfeita cortina de fumaça objetivando encobrir suas ações de reforço ao neoliberalismo transnacional e sem barreiras, modelo que tanto admira.

Imediatamente as pessoas do grupo se colocaram contra minha posição, tratando-a como radical e baseada apenas em preconceito. Afinal o senso comum o trata como um homem progressista, defensor da democracia liberal e da diversidade, dos trans, negros, gays, mulheres, etc. Que mal poderia haver em um bilionário de bom coração, interessado em distribuir o que ganhou para causas que reconhece válidas e importantes?

Por certo que estas ações mudaram a vida de algumas – ou muitas – pessoas, mas nada produzem de diferença na estrutura social, que se mantém intocada, permanecendo injusta, desequilibrada e perversa. A ação desses bilionários da “caridade identitária” é exatamente essa: fomentar a divisão da sociedade por identidades e separá-la em guetos distribuídos por etnia, orientação ou identidade sexual, gênero, etc. Muda-se a vida de poucos para que a estrutura que comanda a todos não se altere.

É exatamente esse tipo de perspectiva política o que faz com que um negro pobre e miserável perceba como inimigo um branco igualmente pobre, desviando a atenção do fato cristalino de que ambos são vítimas de um modelo social injusto e excludente que produz uma enorme massa de pobres (de todas as cores, gêneros e orientações sexuais) que é explorada por uma elite invisível de bilionários – como George Soros.

Não há como confiar num sujeito cuja riqueza depende da nossa miséria.

Minha posição firme, baseada na minha perspectiva marxista e anti imperialista, foi rechaçada violentamente pelo coordenador do grupo, sendo que até as referências que usei para sustentar minha tese (uma entrevista golpista de Soros se opondo à eleição de Lula em 2002 na Folha de SP) foram desconsideradas e tratadas como “fake news”.

O resultado foi o meu cancelamento sumário e a minha posterior saída do grupo. Não havia maturidade para um debate mais profundo sobre as raízes de nossa dependência e as armadilhas criadas pelo imperialismo para sequestrar nosso ativismo. Ok, vida que segue. Todavia, minha saída tem uma interpretação que pode ser bastante pedagógica.

O objetivo desses institutos internacionais neoliberais (Soros, Gates, Koch, etc.) é a divisão da sociedade em elementos artificiais (criados pela própria sociedade para a divisão do trabalho) como etnia, orientação sexual, gênero, etc., fazendo-nos esquecer elementos muito mais gritantes como as classes sociais que nos dividem pelo capitalismo. Portanto, servem para nos separar, pois unidos em torno das reivindicações de classe somos mais fortes e mais vigorosos no combate à iniquidade social.

Pois a divisão causada nesse grupo pela figura sinistra do bilionário Soros cumpriu exatamente essa função. Separou e desuniu e nos fez esquecer o que nos unia exaltando a artificialidade – a defesa da benemerência colorida – que nos diferenciava. Tristemente didático. Fez lembrar um filme “Proposta Indecente”, com Robert Redford. Na trama, a história de um dinheiro oferecido cuja ideia dissimulada e perversa era separar e desunir, desviando o olhar do fato de que havia amor para além das posses.

Agora ficamos chocados com as informações trazidas a nós através do Ministério de Defesa da Rússia de que várias entidades ucranianas, georgianas e estadunidenses estariam se preparando para a produção de armas químicas. Particularmente, segundo esta fonte militar, o funcionamento destas instalações estaria sendo financiado e controlado por uma gama de organizações americanas, entre as quais o Fundo de Investimento Rosemond Seneca, dirigido por Hunter Biden, filho do presidente americano, e o fundo administrado por George Soros. A subsecretária de Estado americana, Vitória Nuland, reconheceu a existência desses laboratórios, assim como Avril Haines, diretora de inteligência Nacional dos Estados Unidos, que também declarou a existência destas instalações, porém, ambas negaram que em tais laboratórios houvesse a produção de armas químicas.

É importante entender que, quanto mais se investigam as ramificações de poder destes bilionários, mais aparecem seus tentáculos produzindo a exploração e a miséria de povos subjugados. O mesmo George Soros que controla a “Open Society” tem conexões com entidades fascistas ligadas ao golpismo na Ucrânia. Como pode haver ainda alguma dúvida de que sua presença no Brasil deveria ser rechaçada pelo conjunto das forças de esquerda ou por qualquer instituição que deseja ser livre das imposições do capital predatório internacional? Por que aceitamos que um candidato que se posiciona à esquerda do espectro político nacional esteja ligado a instituições golpistas como o NED, a CIA e o próprio Soros?

A atitude marxista mais justa e coerente será sempre lutar pela soberania dos povos e pela ruptura dos laços de subserviência ao imperialismo. Qualquer união com golpistas, por mais inocente que possa parecer, será um passo na direção oposta.

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A Caridade dos Bilionários

Sempre me interessei pelos significados últimos da riqueza e do poder, em especial a tentativa de entender personalidades onde estas características atingiam limites inimagináveis. Gosto muito da abordagem de Gore Vidal ao descrever os Césares como os homens mais poderosos da historia da civilização e o quanto esse poder desmedido era capaz de destruir suas almas; quase todos eles morreram loucos e desvairados, destruídos pela falta de limites ao desejo.

Hoje temos uma repetição curiosa, fruto do poder conferido a alguns sujeitos pelo neoliberalismo, o qual oportuniza a inédita, imoral e macabra concentração de renda atual. Ao lado de Jeff Bezos, Bill Gates, Mark Zuckerberg está George (Schwarz) Soros e sua curiosa história, que poderia ser resumida como a revivescência de Roosevelt no seu intento de salvar o capitalismo através de um mundo sem fronteiras – Open Society – mas centrado no capital. Sua ojeriza ao socialismo o faz investir em instituições identitárias mundo afora e no combate aos governos autoritários e suas “sociedades fechadas”. Esta reportagem do The Guardian deixa claro o erro em pensar numa “sociedade de iguais” enquanto se investe num sistema de exploração que se nutre da miséria de muitos para garantir a opulência de cada vez menos.

Veja a excelente investigação do The Guardian aqui

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