Indignação Seletiva

Parte da esquerda festiva do Brasil agora debocha das solicitações que os bolsominions presos na Papuda e na Colmeia fazem sobre as péssimas condições dos presídios. Usam a mesma retórica da direita punitivista e repetem a frase infeliz do Imperador Alexandre quando este diz que “cadeia não é colônia de férias”, dando risadas dos pedidos que alguns prisioneiros fazem sobre sua dieta – determinada por condições médicas. Outros, entre gargalhadas, insinuam que os golpistas “apodreçam na cadeia”, atitudes que demonstram que boa parte da esquerda nada mais é que uma direita de sinal trocado, incapaz de oferecer uma perspectiva civilizatória, não revanchista e progressista.

Eu prefiro olhar de outra forma. Talvez essa seja uma rara oportunidade, um momento especial para o Brasil branco e de classe média sentir na pele a dureza e a crueldade do sistema prisional medieval que vigora no Brasil. Agora, aqueles que davam risada da prisão injusta e ilegal de Lula, tem a chance de entender o quanto é indigna a vida no cárcere e porque é urgente para a sociedade debater a perspectiva do encarceramento em massa que este país emprega. Muitos relutam em aceitar que não existe justificativa para a desumanidade, e nenhuma desculpa há para o tratamento cruel, violento e degradante oferecido aos detentos nas masmorras brasileiras.

Se a melhoria das condições das penitenciárias e cadeias precisou da entrada abrupta dessa gente branca e limpinha, que assim seja. Desejar que eles sejam mal tratados – da mesma forma como a população preta e pobre sempre foi – é nivelar por baixo ao imitar a crueldade que tanto acusamos, perdendo a oportunidade histórica de mudar as condições de todos os brasileiros presos, inobstante a cor, o gênero, a religião ou o crime cometido.

Não cabe ao Estado ser uma instância de vingança e veículo para nossos instintos mais baixos. Os direitos humanos representam a conquista das sociedades contra a violência do poder absolutista sobre os cidadãos. Jogar fora estes avanços é mergulhar num medievalismo suicida.

Chocar-se – com justiça!!! – pela miséria dos Yanomamis e ao mesmo tempo fechar os olhos para a indignidade dos presídios é hipocrisia ou indignação seletiva, acreditando que alguns sujeitos são mais dignos de direitos humanos básicos do que outros.

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Arquivado em Ativismo, Política

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