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BETs

Esta semana a presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann apresentou um projeto de lei que visa proibir a veiculação de propagandas da loteria de apostas de quota fixa, as chamadas BETs. A proposta prevê algo semelhante ao que foi utilizado com o cigarro nos anos 90, quando a publicidade foi proibida em todos os níveis, em especial nos horários em que as crianças assistiam televisão, e também no patrocínio de eventos esportivos, como a Fórmula 1. A proposta prevê a interdição de qualquer publicidade ou divulgação das empresas e casas de aposta. Assim como o cigarro, existem claras evidências de que o jogo tem um caráter aditivo, como uma real doença e um vício, e a ideia de que as pessoas usam BETs para “diversão” se choca contra os relatos de pessoas que perderam todas as suas economias através do jogo descontrolado. Portanto, da mesma forma como o álcool tem um controle mais rígido sobre a veiculação de anúncios, assim deve ocorrer com os jogos. Apostas em futebol (principalmente) aqui no Brasil assumem contornos de epidemia e uma questão de saúde pública, devido ao montante de dinheiro que é retirado em especial das camadas mais pobres da sociedade, aquelas que se agarram a falsas promessas e percepções místicas para melhorar sua condição melhor de vida.

Há alguns dias estourou um escândalo que envolve personalidades e “influencers” envolvidos com casas de aposta. Sem surpresa alguma, os influencers de futebol (YouTubers que tratam do tema na Internet) estão todos calados a respeito dos escândalos das BETs. Todas estas críticas às apostas estão mexendo no ganha-pão destes novos personagens do futebol, e isso explica o silêncio: todos foram comprados pelas “casas de aposta” virtuais, instituições normalmente sediadas fora do Brasil que tomaram o mundo do esporte de assalto. Após esta invasão, os clubes, os jornalistas, a imprensa, a própria CBF (que batizou seu campeonato com o nome de uma casa de apostas) e os torcedores estão profundamente envolvidos no lixo dos jogos virtuais. Hoje em dia muitos torcedores apostam até contra seu próprio time do coração para que, caso tenham um insucesso, possam comemorar um ganho qualquer no domingo à noite. Estamos aos poucos tornando torcedores em apostadores. Isso não seria tão terrível não fosse o fato de que são bilhões de reais sugados por essas empresas que distribuem como prêmio das apostas uma fração desprezível do montante que lucram com a exploração da fantasia de riqueza instantânea. Essa sociedade viciada em jogo é um dos mais claros sintomas de degenerescência social, e não por acaso foi retratada como forma de anestesia social no livro 1984 de Orwell. Dos 23 bilhões gerados por estas empresas, o lucro é de 20 bilhões, e apenas 3 bilhões são pagos aos acertadores.

Enquanto isso, o torcedor comum é obrigado a ver algumas personalidades do mundo das redes sociais ficando milionárias, ostentando publicamente seus luxos e extravagâncias, ao mesmo tempo em que milhões de cidadãos dos estratos mais carentes da população sucumbem ao vício de jogar. Não é mais possível aceitar o silêncio dos jornalistas que fazem publicidade de jogatina em suas lives porque, mais cedo ou mais tarde, essa promiscuidade do mundo das apostas vai apodrecer o futebol de uma forma da qual não haverá recuperação. O resultado dessa injeção de recursos das BETs já é possível enxergar: jogadores comuns e até medíocres fazendo contratos absurdos, ganhando fortunas inacreditáveis, e a razão para isso é que os clubes estão cheio de dinheiro vindo das BETs. Ou seja: o futebol está sendo inflacionado por dinheiro das Casas de Apostas, e esse dinheiro vem diretamente do bolso de gente que perde tudo – família, dinheiro, amigos, etc. – pelo vício do jogo. Existe uma questão ética a ser debatida sobre estes jogos – que se comportam como uma epidemia – que precisa ser exposta, discutida e combatida publicamente. Não é mais possível manter aberto esse esgoto que suga as economias de pessoas pobres do Brasil para enriquecer a franja mais rica da sociedade.

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Jogatina

Eu suspeito que a invasão das “bets” vai destruir o futebol tal como o conhecemos. Os sites de apostas, que conheci pelas publicidades insuportáveis em sites na Internet, agora invadem todos os recantos do futebol, das primeiras às últimas séries, em campeonatos distribuídos por todo o mundo. Não deveria causar surpresa que a primeira ação dessas empresas que gerenciam apostas foi comprar os jornalistas esportivos e os programas de esportes. Agora a publicidade nos chega através deles, em todos os espaços – em especial no YouTube. Em função desse controle sobre a narrativa, pelo controle dos meios de comunicação, ninguém fala nada sobre a imoralidade das apostas. Os formadores de opinião muito rápido se venderam para a ciranda milionária das apostas no futebol

Tenho pessoas da minha família que me deram a imagem real sobre o tema. Um deles, torcedor do Internacional, me disse quando lhe perguntei se ia “secar” meu time no domingo. Sua resposta foi: “Espero que o Grêmio ganhe no fim de semana. Apostei 100 reais na vitória de vocês”.

Ou seja, hoje as pessoas torcem para suas apostas e não para seu time – ou pela arte de secar o rival. Além disso, existem essas apostas bizarras de apostar em pênalti, em escanteios ou em expulsões ocorrências dentro da dinâmica de uma partida de futebol que podem ser manipuladas sem necessariamente alterar o resultado dos jogos. Isso é gravíssimo e os escândalos já começaram a ocorrer em várias partes do mundo. Mas, com a imprensa literalmente comprada e silenciada, quem ousaria denunciar? Quem ousaria colocar no lixo esse filão maravilhoso de renda oferecendo opiniões contrárias a ele? O Ministério público? Só quando o escândalo não puder mais ser contornado…

Hoje em dia todos os jornalistas esportivos são patrocinados por estas empresas, sem exceção. Não só carregam no seu boné e nas camisetas a publicidade (como os antigos homens de perna de pau carregando cartazes) como falam das “odds” – anglicismo horroroso introduzido para falar das chances de vitória nas apostas – e dão dicas sobre “barbadas” a serem feitas nos jogos da Europa e daqui. Como se diz nas comunidades, “tá dominado, tá tudo dominado”. Eu ainda não vi nenhum jornalista dessa área fazer a denúncia dessa prática, e do quanto ela pode vir a destruir o futebol tal como o conhecemos. E não acredito que isso venha a melhorar em curto prazo.

Por esta razão, e pelo fato de que proibir estas apostas é caro e complicado – as empresas todas tem sede em países onde o jogo é legalizado – é melhor que se tribute essa prática pesadamente para, ao menos, o povo ter a possibilidade de abocanhar um pouco do dinheiro arrecadado por essa jogatina.

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