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Auto amor

Nas redes sociais são comuns as mensagens que tentam acalentar os egos dilacerados pela vida competitiva, corações cheios de percalços e derrotas desafiadoras. Esses textos procuram estimular a autoestima combalida das pessoas que sofrem da desconsideração que os outros fazem do seu trabalho, seu corpo imperfeito, seus afetos, sua maternidade, etc. Para isso apostam na auto exaltação, na visão positiva de si mesmos e na desqualificação das críticas maldosas e inconsistentes a que são submetidos . Ou seja… para não ser uma pessoa manipulada pela maldade alheia daqueles que não reconhecem seu “alto valor”, é preciso buscar o oposto, apostando na arrogância e, muitas vezes, no autoengano.

Essas dicas de “influencers” e apóstolos da autoajuda sempre nos servem quando estamos em sintonia. Os sentidos procuram avidamente palavras que se encaixem na nossa necessidade de acolhimento. Ora, é sabido que todos nós acreditamos que o mundo nos deve consideração, admiração e amor para muito além do que efetivamente recebemos. Estamos constantemente a cobrar do resto do planeta o que pensamos ser o nosso devido quinhão de felicidade e conforto – por eles sonegados. Para além disso, o mundo é, via de regra, injusto e severo demais com nossas pequenas ou grandes conquistas. Não recebemos o reconhecimento devido e ainda nos jogam uma crítica por demais feroz sobre nossas falhas e erros. Como lidar com tamanha injustiça?

A resposta a isso pode ser recolher-se em silêncio na humildade, entendendo que nossas virtudes, se forem reais, aparecem inexoravelmente com o tempo. Por outro lado, podemos gritar a plenos pulmões nossas qualidades imaginando que, assim agindo, conquistaremos corações e consciências. Estes são os extremos de nossa reação ao amor que (não) nos dão. Eu prefiro uma posição intermediária: creio que devemos ser humildes até onde nossa simplicidade afete o amor que devemos devotar a nós mesmos, e devemos ser exuberantes até o ponto em que a vaidade destrua nossos princípios. Essa é a lógica que imagino também ser adequada para criar os filhos: “Ame-os infinitamente, mas até o limite da falta, para que seu amor não destrua neles a necessidade de encontrar o amor por si mesmos”.

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Poderes

Verdadeiras mudanças só ocorrem quando há transferência de poderes. Como em uma balança, para produzirmos equilíbrio é necessário que algum peso seja retirado de um lado e colocado no outro. Isso significa que alguém que se acostumou com impunidade e poder desmesurado terá de abrir mão de seus privilégios para que os desfavorecidos tenham espaço e voz. Esta mudança nunca ocorre através de concessões ou gentilezas, mas apenas com pressões e lutas. Esperar que os poderosos ofereçam algo graciosamente é uma ingenuidade de profunda força destrutiva.

No parto e nascimento – por fazerem parte da vida sexual das mulheres – todas as forças sociais profundas entram em conflito. Ali se vê a significância da estrutura patriarcal em sua expressão mais crua e, da mesma forma, não há como encarar estas disputas por espaço com ingenuidade. Todas as conquistas das mulheres na arena do parto precisam ser conquistadas e jamais serão ofertas generosas. É fundamental que as mulheres tenham consciência da necessidade de lutas coordenadas para terem seus corpos e suas decisões respeitadas.

O empoderamento e a autonomia das mulheres no parto só existirão numa nova economia de poderes, porém quem o perde não o aceitará de forma suave e tranquila e quem o ganha deverá aprender a usá-lo de maneira honesta e digna.

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Concessões

Uma lição de gente mais velha: nunca comemore as concessões dos opressores. Não existe avanço sem conquista e não existe conquista sem luta. Dádivas são efêmeras e dependem do outro; já as vitórias só se constroem com sacrifício e coragem.

Bertrand Huffington, “Maximus”, Ed. Principle, pag. 135

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