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Éfe Agá Ce

Triste a derrocada do “intelectual da esquerda”, o “príncipe dos sociólogos”, o presidente sábio, a grande esperança da esquerda limpinha (branca). Ele representa o grande sonho de Platão de conjugar em uma única pessoa a sabedoria e o poder de transformar a sociedade. Fernando Henrique é a prova (ainda) viva de que boas palavras, uma formação acadêmica robusta, respeito dos pares e boas ideias são instrumentos frágeis, totalmente incapazes de produzir real transformação social. Para uma revolução que retire o Brasil de uma posição subalterna é preciso estar ao lado da classe operária, a classe que constrói a sociedade na qual vivemos; ele fez o oposto disso ao entregar o patrimonio nacional nas mãos do capitalismo predatório e voraz.

Fernando Henrique Cardoso foi o responsável por destruir um partido (o PSDB) e o principal envolvido em sepultar a perspectiva da social democracia como força política viável. Ele demonstrou que os liberais de esquerda (como ele) diante das dificuldades de um mandato ou das vicissitudes no exercício do poder rapidamente entram em conluio e se associam à direita mais radical e fascista, jogando para o alto suas propostas de outrora. Por isso o partido que ele criou para ser a voz da social democracia nos últimos anos se tornou a facção mais furiosa do bolsonarismo. Dória, Eduardo Leite, Marchezan são exemplos claros dessa derrocada.

“Esqueçam o que escrevi” pedia FHC enquanto ainda presidente. Faremos mais que isso, por justo respeito à sua idade: vamos esquecê-lo, sepultar suas propostas e reconhecer nosso erro em acreditar que sua cultura e formação seriam um contraponto ao seu liberalismo privatista nefasto.

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A máscara caiu

Branquesia racista se manifestando a pleno nas redes sociais. Aplausos ao governador genocida se escutam por toda parte. Estão se sentindo soltos, não? O que antes era falado apenas em voz baixa – e entre risos – nos churrascos das famílias italianas e alemãs agora é dito abertamente no Facebook. Bolsonaro liberou o que existe de pior em cada um de nós, mas para alguns este é o momento sublime de libertação de todo seu ódio, seu ressentimento e seu racismo mais abjeto.

A turma reacionária abriu a gaveta de baixo da cômoda e tirou de lá a caixinha que se escondia debaixo da pilha de papéis. Dentro dela, entre fotografias obscenas, a máscara do racismo por tanto tempo escondida agora pode ser vestida sem pudor. É “cool” ser preconceituoso; está na moda aplaudir e festejar execuções públicas, em especial de negros e pobres de periferia. É bacana desprezar o meio ambiente e atacar gays e transgêneros. Ser perverso e canalha está na “crista da onda”. Ser mau… é bom.

Abrimos a caixa dos nossos sentimentos mais baixos. Estamos nos tornando o país mais pervertido do planeta. Somos a escória do mundo. A banalidade do mal triunfa enquanto a solidariedade agoniza.

A máscara caiu…

Somos o país onde a escravidão mais resistiu e seremos o último a apagá-la de nosso cotidiano. O mesmo racismo que motivou as massas na Alemanha à destruição é o motor das manifestações que comemoram morte e extermínio – de gentes e natureza.

Só a catástrofe salvou a Alemanha. Só a catarse nazista limpou este país do racismo e do desprezo aos outros povos. Acredito que o Brasil terá o mesmo destino; só uma hecatombe provocada pela indignação coletiva de pretos, pobres, periféricos, favelados e a gigantesca legião de desprezados fará a limpeza que o país precisa.

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O Discurso da Direita

Vejo duas características sobressaindo no discurso de direita, em especial naqueles mais “exaltados” ou cuja revolta os faz pensar em “intervenções”. Em primeiro lugar a ideia do gestor “apolítico”, o empresário sem filiação partidária (ou cujo nome seja maior que o do partido), o cara tão rico que nao precise roubar (minha fantasia predileta) e o sujeito acima das “divisões” ideológicas para assim insinuar figuras grotescas que adentram a coisa pública, como Dória, Berlusconi, Silvio Santos, Huck ou mesmo Bolsonaro (que é político, mas que em 26 anos nada fez além de esbravejar e disseminar ofensas). A via da administração “sem ideologia” – a exemplo da “escola sem partido” – é uma tentativa de consagrar a visão conservadora como a visão “correta” da sociedade, contra a qual se insurgem as outras, que desestabilizam a “ordem natural das coisas“.

A segunda característica é a fantasia de políticos impolutos e honestos eleitos por uma população que é famosa por dar “jeitinho” e em que a corrupção das pequenas coisas faz parte do seu cotidiano, sendo financiados por uma canalha empresarial escravagista, racista e elitista. Esse tipo de proposta nos leva ao cinismo e diretamente a um voto nas aparências. Quem mentir melhor, ganha. Falar de “franciscanos” no poder também me remete a um período em que a direita brasileira mais se identifica: a idade média. Fanáticos religiosos no poder, como o prefeito do Rio, é o mergulho mais certeiro na idade das trevas.

Essas propostas da direita se enquadram dentro de uma visão de combate à corrupção que é plantada na população toda vez que os partidos de esquerda obtém o poder e insinuam uma mudança nas classes sociais. Portanto, nada mais são do que cortinas de fumaça para afastar a todos da luta verdadeira: a justiça social e o combate à iniquidade.

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