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Hipocrisia

Existe uma hipocrisia humanamente construída sobre o respeito à diferença, que faz os inimigos mortais se cumprimentaram antes de uma disputa, ou que esconde algumas preferências para que essa distância de perspectivas não magoe quem você ama. Eu acredito que o “culto à verdade” tão exaltado em nossa cultura ocidental é a capa mais fulgurante e socialmente exaltada da crueldade humana. Dizer a “verdade” é uma das formas mais perversas de machucar e até destruir. Eu me afasto de gente “direta e sincera”; prefiro a mentira doce, o “vai passar” diante do diagnóstico terminal inexorável ou o “tudo vai dar certo” quando a tragédia pinta de negro o horizonte próximo. Nesse embate peço apenas que não me venham com verdades frias; prefiro o calor acolhedor das mentiras amorosas.

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam

(Cazuza)

Ser verdadeiro e honesto em todas as circunstâncias da vida é algo impossível. Existe um contrato social informal, não escrito, de que existem verdades que devem ser escondidas, exatamente porque se acredita que a verdade deve ser usada em situações bem definidas. Ela só deve ser aplicada quando, de alguma forma, pode ser de auxílio para o mundo. Dissimular é essencial para a vida em sociedade; é algo que está distante do controle racional. Existem coisas que não podemos controlar com a razão, porque sua origem não é racional. Paixão clubística é um bom exemplo: torcer pelo seu clube e “secar” o coirmão são ações inevitáveis para o torcedor.

Isso só vai acontecer quando eu superar essa vida de paixões. Enquanto a paixão for minha guia serei dela, também, prisioneiro.

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Compaixão

Há algumas semanas debati com um ex-amigo de Facebook sobre seu conceito de compaixão. Eu dizia que sua distopia anti estado colocaria qualquer nação em um estágio pré-civilizatório e ele respondia que isso jamais aconteceria porque os ricos teriam “compaixão” pelos pobres e os ajudariam diante das suas necessidades.

Hoje escutei um fragmento da entrevista do Zé Dirceu (“não tenho provas, mas a literatura me permite”) ao Nassif onde ele falava do seu encontro com Bush e Condoleeza Rice onde estes falavam de sua profunda admiração por Lula, mas pediam que o PT abandonasse a ideia de equidade e distribuição de renda como objetivo máximo do governo. Arremataram dizendo: “Para os pobres devemos reservar nossa compaixão”. Não é à toa que a compaixão era o tema do meu ex-amigo neoliberal e seus parceiros de ideologia do norte. A compaixão é um artifício para manter as castas sociais intocadas. Ao invés de justiça, “genuína” comiseração.

Na nossa sociedade existem muitas madames da sociedade que devotam tempo e dinheiro em obras sociais. Uma vez almocei com um grupo delas em uma creche onde atendia. Enquanto ofereciam alimentos e brinquedos para as crianças, não se furtavam a fazer comentários depreciativos e racistas. Eram, obviamente, contrárias ao presidente Lula (o presidente na época) e insistiam em chamá-lo de incompetente, ladrão e bêbado. Ficou para mim o perfeito exemplo da compaixão brasileira. A mulher racista, classe média alta, arrogante e pretensiosa que devotava algum tempo para os miseráveis para assim aplacar sua culpa, criando a ilusão de ter feito algo pelos “desfavorecidos”.

É o mesmo caso do pequeno empresário que se veste de papai Noel e distribui balas para as crianças no fim do ano, para desta forma diminuir o peso de tantas falcatruas cometidas. A compaixão burguesa é esse ato de ajudar os pobres para que eles se mantenham vivos e pobres, sempre à disposição.

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#MauroMentiu

A mulher entrou no escritório do marido sem bater e o encontrou usando sobre o corpo nada mais que suas cuecas. A jovem secretária em seu colo vestia apenas uma provocante lingerie.

– Mauro!!! O que é isso?

Os dois se ergueram de sobressalto mas em silêncio. Enquanto Dr Mauro colocava as calças a jovem auxiliar se retirou apressadamente pela porta.

– Não aconteceu absolutamente nada, disse ele. Coisas normais na relação entre patrão e empregada.

– Você enlouqueceu, Mauro? Coisas normais? Sem roupa no seu colo? Acha que sou besta?

Ele abotoou os botões da camisa calmamente. Sem mudar o semblante, explicou:

– Minha secretária me trouxe um café mas eu, estabanado, virei sobre a calça. Como o café estava muito quente tirei a calça rapidamente e entreguei a ela. A camisa também estava manchada, então resolvi tirar e guardar na gaveta onde tenho umas peças de roupa sobressalentes. Quando fechei a gaveta ela prendeu no vestido da minha secretária que se rasgou de cima abaixo quando ela se encaminhava para fora da sala. Tão nervosa ficou que tropeçou no fio do telefone e caiu no meu colo. Nesse instante você chegou.

A esposa não conseguia esconder o espanto e o terror.

– É serio? Essa é sua explicação para a cena que eu vi com meus próprios olhos? É essa história que tem para me contar, Mauro?

– Sim. Uma história comum. Acontece toda hora em muitos escritórios pelo Brasil. Nada de excepcional. Não percebo nada de inadequado na minha atitude e não há nenhum delito aqui configurado.

A esposa, até então estupefata, desarmou-se diante de justificatvas tão convincentes.

– Bem, Mauro, como você é um juiz famoso e respeitado, muito querido por tantos e admirado por multidões só me resta acreditar. Desculpe ter desconfiado. Então vou para casa e lhe aguardo. Ainda tenho que buscar as crianças na escola.

– Ok querida. Não se preocupe; eu entendo sua preocupação. Mais tarde chego em casa para o jantar.

Ela se aproximou da porta e quando ultrapassou o batente voltou-se para o marido e perguntou:

– Quer que eu leve sua roupa suja de café para lavar?

– Não será necessário, disse Dr. Mauro

– Por quê? indagou ela

– Porque eu já deletei…

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