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O Troll da Comuna

Eu procuro selecionar bem os filmes que vou assistir com meus netos. Geralmente escolho filmes de aventura, com crianças como protagonistas, onde podem ser observadas inúmeras agressões às mais elementares leis da física, mas procuro evitar coisas que dão medo, como acidentes ou mortes, ou cenas que contenham situações absolutamente nojentas, como…. beijos.

De qualquer forma, o neto do meio, que recentemente fez 7 anos, ainda faz muitas observações engraçadas durante as nossas sessões de cinema. No filme que vimos esta tarde o pai da protagonista – um velhinho cientista, genial e incompreendido – acaba morrendo, mas fica provado que sua tese estava certa desde o princípio (claro). Quando ele morreu meu neto disse:

– Ele está de olhos abertos, vovô. Nos filmes quando as pessoas morrem elas fecham os olhos. Acho que ele não morreu.
– Bem, neste caso, ele morreu mesmo… sinto muito. Mas gente velha morre, isso acontece frequentemente quando a gente envelhece.
– Morreu? Hummm, mas só no filme né?
– Sim, só no filme. Eles normalmente não matam os atores durante os filmes, só quando o ator é muito ruim. Aí, quando tem muita reclamação, eles fazem prá valer.

Ele para e olha bem sério para mim. Leva uns 4 décimos de segundo e percebe a comissura direita dos meus lábios se retorcendo, o que sempre denuncia uma mentira.

– Ahhh vovô, para de mentir. Claro que eles morrem só no filme. Imagina que as pessoas iam morrer…. de verdade!!

Seria um egoísmo brutal de qualquer ser humano, mas eu confesso que adoraria muito que o tempo congelasse e eu pudesse conversar com os meus netos assim por toda a eternidade.

(Filme “O Troll da Montanha”)

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Abusos e assédios

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Há alguns dias rolou um vídeo (pode ser visto aqui) de uma jornalista e youtuber entrevistando o ator Vin Diesel, conhecido por filmes testosterônicos que misturam carros, mulheres, mortes, perseguições, etc. Em outras palavras, filmes de meninos. Neste vídeo ele tem um comportamento abusivo que chega a ser caracterizado como assédio. Alguns dias depois a jornalista vem a público denunciar o comportamento dele, mas, ato contínuo, aparecem falas dela se oferecendo para passar vaselina em outro machão lutador ou sentando no colo de outro ator. Com isso algumas pessoas teriam dito que caiu a “máscara de boa moça” da jornalista. Afinal…. como cobrar bom comportamento do Vin Diesel se ela é tão “liberal” com outros entrevistados?

Creio que o discurso machista ainda não percebeu o que está em jogo aqui e muitas pessoas continuam misturando as questões.

Existem DUAS ações que merecem ser analisadas separadamente. O fato de ela sentar no colo de um famoso (who?) e querer passar vaselina num lutador fortão (who?) podem ser julgadas por quem quiser. Se você quiser achar que é alegria e espontaneidade, este é um direito seu, assim como julgar que suas atitudes são vulgares e inapropriadas para uma mulher. Cada um com seus padrões morais e estéticos. Não me cabe julgar as lentes com as quais você olha o mundo. Vire-se com elas. Ponto.

Por outro lado, NADA da vida pregressa dessa moça pode AUTORIZAR o comportamento abusivo do “Mestre da Testosterona”. Ela pode muito bem dizer “sentei no colo do fulano porque gosto dele e não gosto de você” e este é um argumento absolutamente válido e justo, pois suas preferências e desejos não nos dizem respeito. Ela é dona do seu corpo e de suas escolhas. Ninguém pode cobrar ou exigir de uma mulher que ela se comporte de acordo com nossos padrões. Ponto.

E tem outra questão: se ela está usando esta situação para ficar famosa ou como um legítimo desabafo pelo constrangimento que passou eu não tenho como saber, mas isso TAMBÉM não pode servir como atenuante para a agressão que ela sofreu. Eu prefiro mesmo acreditar que ela está sendo sincera, e que sua súbita notoriedade é um efeito colateral, e não seu objetivo primeiro.

Não há porque vincular qualquer atitude dessa moça com o ato calhorda e abusivo cometido contra ela. Isso é o mesmo que justificar estupro por saia curta, decote, sensualidade ou porque ela “já saiu com muitos homens“.

Só ela pode  falar do seu desconforto com a situação. Respeitemos isso.

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