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Meras empregadas

Sabe qual a semelhança nessas propagandas? A ideia de que os comportamentos são determinados pelo gênero. Assim, o comportamento inadequado (ou anacrônico) de um homem seria um modo de ser “dos homens”, enquanto as falhas de uma mulher representariam “as mulheres”. Apesar do gênero ainda condicionar de forma marcante a vida humana, tanto quanto a classe social ou a “raça”, dizer como os homens, as mulheres, os pobres e os brancos pensam e desejam é sempre uma homogeneização apressada e injusta, usada para atacar os sujeitos e seus grupos, ao invés de criticar suas ações.

Em relação à pergunta feita na publicidade cor-de-rosa, como então as mulheres descreveriam um “bom homem”? Já que a brincadeira é generalizar e olhar a humanidade inteira como um rebanho com comportamentos determinísticos, qual seroa a visão que as mulheres teriam de um “bom homem”? Seria ele amoroso e gentil? Ou seria um provedor que a protegesse? Será mesmo que vão aparecer descrições baseadas na diferença moral entre os gêneros, onde um deles é nobre e amoroso e o outro egoísta e utilitarista?

Estes são textos cíclicos nas redes sociais. Faz pouco tempo circulava uma monstruosidade sexista que afirmava que os homens (não alguns, mas o gênero masculino) odiava as mulheres, que não passavam de seres usados para o seu prazer, enquanto o verdadeiro amor masculino era devotado somente aos outros homens. Agora circula este, onde fica implícito que os homens não oferecem às mulheres amor e cuidado, e delas apenas desejam um bom serviço doméstico.

Este tipo de preconceito, e essa campanha anti-masculina, que floresce na seara da misandria e circula entre aquelas mulheres cuja vida afetiva foi insatisfatória ou mesmo traumática, está na raiz do surgimento do seu contraponto: os Red Pill, tolos masculinistas que usam da mesma retórica excludente e preconceituosa – mas de sinal trocado – de característica misógina e agressiva, causada por suas más experiências afetivas.

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Chave e fechadura

Quando vi essa imagem na página de uma amiga no Facebook todas as interpretações que passaram pela minha cabeça eram de caráter sexista. Tipo…

os homens controlam as mulheres no sexo enquanto elas controlam suas mentes“, ou “as mulheres tem a chave para a razão masculina e os homens a chave para a sexualidade delas“.

Essas perspectivas podem ser facilmente interpretadas como essencialistas e/ou sexistas; portanto, anacrônicas. A imagem, por isso, me incomodou, mas me oportunizou pensar sobre ela, acima de tudo porque colocam no gênero especificidades que não são encontradas em todos e todas, mas que surgem tão somente como construções sociais, deterioráveis com o tempo e variáveis na geografia.

Todavia, a partir de um ponto de vista mais subjetivo e ligado às conexões que ligam mente-corpo-sexualidade a imagem poderá adquirir um novo sentido.

Olhando-se de maneira alternativa não se trata de determinar de quem é a chave ou a fechadura – que foi a minha leitura inicial – mas ao fato de que a sexualidade está intrinsecamente ligada à planos mentais e espirituais mais profundos, onde muitas vezes a chave de um abre as portas do outro.

Assim, a sexualidade expressa e livre poderia aclarar estados mentais enquanto um pensamento claro e racional poderá fazer desanuviar transtornos da eroticidade, como no caso de um vaginismo, tumores, alergias ou uma irritação vaginal banal causada pelo medo de aventurar-se em uma nova dimensão de afeto com alguém.

Por essa leitura, a imagem pode apenas significar que, na dimensão humana, os afetos permeiam o sexo e são por ele envolvidos.

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Honestidade

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No excelente documentário “(dis)Honesty, the truth about lies” – (des)Honestidade, a verdade sobre as mentiras – o ponto alto e engraçado ocorre quando uma senhora da plateia pergunta ao pesquisador se nas suas investigações constatou-se diferença entre homens e mulheres no que diz respeito à honestidade. Sua resposta foi excelente:

– Sim, existem enormes diferenças, e a grande diferença observada é que apenas as mulheres fazem essa pergunta. Mas… nos testes realizados nunca se observou o fato de um gênero mentir mais do que outro.

Pensei agora que praticamente todas as virtudes, qualidades, vícios e defeitos humanos teriam o mesmo resultado, incluindo a agressividade. Por isso me irritam tanto as análises essencialistas, que dizem que as “mulheres são menos isso do que os homens” e vice versa. Talvez existam alterações hormonais que determinem comportamentos diferentes entre os sexos (o fator testosterona, por exemplo), mas não acredito em NENHUMA qualidade MORAL que sobre em um e esteja faltando no outro.

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