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Palestina Livre

Há muitos anos eu pensava como boa parte dos ocidentais que acreditavam na narrativa heroica da reconquista da “terra Santa”, a retomada de Israel, o retorno à “Terra Prometida”, o “a terra sem povo para um povo sem terra”, em especial pela propaganda insidiosa do cinema americano que sempre mostrava os árabes como fanáticos, irracionais, egoístas, machistas, violentos e vingativos. Nunca a imagem de um povo inteiro foi tão massivamente atacada quanto ocorreu com os árabes a partir da segunda metade do século XX. São inúmeros os exemplos de preconceito odioso no cinema americano neste período. Todavia, tive a oportunidade de assistir um fabuloso documentário chamado Reel Bad Arabs (que pode ser visto no Youtube), de Jack Shaheen que demonstrava de forma inequívoca como Hollywood manipulava a forma como enxergamos o Oriente Médio, com evidentes interesses geopolíticos. Jack G. Shaheen, observa que apenas os nativos americanos têm sido tão implacavelmente difamados pelo cinema, e mostra com mais de 1000 filmes analisados que “árabe” permaneceu a abreviação descarada que Hollywood passou a usar para designar “bandido”, muito depois de a indústria cinematográfica ter mudado sua representação de outros grupos minoritários. Esse filme abriu meus olhos para isso. Até então eu creditava que Israel havia feito o deserto florescer, que era uma “ilha de civilização no meio da barbárie”, que havia criado a célula mais interessante de trabalho socialista – os Kibutzim – para dignificar o trabalho do seu povo.

Por muitos anos também acreditei nas falácias de que Israel era a única democracia em meio à tiranias e ditaduras. Quando vi o poder de manipulação dos meios de comunicação sobre a realidade no Oriente Médio eu pude entender o quanto eu estive envolvido em mentiras por décadas. Estas e outras tantas falsidades foram criadas para justificar o Nakba – a catástrofe que se iniciou em 1948 com a expulsão de 750.000 palestinos de suas casas durante a tomada do país por forças sionistas. A narrativa que justificava esta limpeza étnica brutal era baseada em mentiras, como a ideia de que os palestino abandonaram suas casas por vontade própria. Falso; em verdade, Israel é a própria barbárie no oriente médio, o principal fator de desestabilização na região. Ao contrário de “A villa in the jungle”, como ousavam falar os sionistas, Israel é a própria selva, espalhando terror e exclusão a todos os países ao seu redor.

Passei a estudar a questão Palestina há quase 20 anos, mesmo correndo o risco de ser chamado de antissemita, algo que ocorre com todos que se aventuram a estudar a história da região e descobrem os massacres, as mortes, os abusos, as prisões, as torturas. Não aceito mais cair na armadilha do “antissemitismo”, como denunciou Norman Finkelstein, quando na ausência de argumentos para defender o colonialismo branco europeu no oriente médio se levanta a “cartinha do holocausto”, procurando calar qualquer oposição à invasão colonial. Ninguém mais pode aceitar esse tipo de cilada. Israel é uma colônia europeia, encravada na Palestina histórica, roubado dos habitantes originais que habitam a região há milênios. Israel é um país que, para manter o domínio à força da região, não se priva de matar mulheres e crianças palestinas. Como dizia sua ex-primeira ministra Golda Meir “Não podemos perdoar os árabes por matar nossas crianças, mas jamais poderemos perdoá-los por nos obrigar a matar as suas”, culpabilizando as próprias vítimas pelos massacres a que eram submetidas numa demonstração impressionante de racismo e desprezo pelo povo palestino. No último grande massacre a Gaza (2014) foram 2200 mortos sendo 500 crianças. Gaza não tem tanques, exército ou armas. Foi um massacre covarde contra a população civil.

Existe, entretanto, a ideia de que os palestinos participam da democracia israelense. Qualquer observador atento perceberá que se trata de uma “história para inglês ver”. Os palestinos na política de Israel são uma farsa, apenas usados para dar uma face democrática e enganar os incautos que desejam acreditar na falácia de um “Estado Democrático e judeu”, que nada mais é do que uma etnocracia, tão violenta e excludente como era o apartheid na África do Sul. Os palestinos de Israel são “cidadãos de segunda classe” (como eram os negros na África do Sul) e são oprimidos pelas mais de 50 leis racistas que discriminam judeus de palestinos, e por certo que não poderão jamais constituir uma maioria no Knesset. Os 6 milhões de palestinos não tem direito a voto, e isso já seria suficiente para deixar claro que Israel é um país excludente e opressor. Infelizmente, é essencial explicar sempre que nos manifestamos que ser contra o modelo de limpeza étnica e extermínio de Israel contra a população originária palestina não é ser contra os judeus, da mesma forma que ser contra os nazistas não é ser contra os alemães.

Por isso, ao estudar a questão palestina eu centrei minha atenção sobre os autores e jornalistas judeus que cobrem a questão, exatamente para evitar as visões marcadamente desviantes e comprometidas. Desta forma cito aqui os meus heróis judeus para aclarar as questões relativas à Palestina e o neocolonialismo europeu no oriente médio, o qual se baseia em limpeza étnica e genocídio da população que lá vive há séculos. Apenas lembrem que o antissemitismo é um drama europeu, e que nunca houve animosidade entre os judeus e a população árabe do local até meados do século passado com a imigração do movimento sionista para a região, que culminou com a criação do Estado de Israel em terras palestinas em 1948. Os autores são: Ilan Pappe, Max Blumenthal, Miko Pelled, Norman Finkelstein, Shlomo Sand, Gideon Levy e Noam Chomsky. Além deles, eu citaria os não judeus, como o jornalista e deputado inglês George Galloway e o ex-presidente americano Jimmy Carter, que são grandes críticos ao modelo de Apartheid em Israel.

Estes autores, seus livros e suas palestras, foram responsáveis pela mudança na minha perspectiva sobre a verdadeira narrativa Palestina e o roubo da sua terra. Foi com Norman Finkelstein e “A Indústria do Holocausto” que eu acordei para estas acusações toscas de antissemitismo para todos que defendem a Palestina, usando o corriqueiro “holocaust card”. Foi com Miko Peled, o filho do General israelense, que eu entendi a segregação racial por dentro de Israel e compreendi as verdadeira história da guerra do Yom Kipur, ocorrida em 1967, e que causou a anexação de grande parte do território palestino. Foi com Ilan Pappe que eu entendi a limpeza étnica da Palestina que foi arquitetada desde o século XIX, em especial os significados do Nakba e sua história. Ilan Pappé, da Universidade de Exeter, é um dos mais importantes “new historians”, que elaborou sua perspectiva a partir da leitura os arquivos secretos tornados públicos sobre as guerras israelenses. Foi com Shlomo Sand que entendi a invenção do “povo judeu”, que nada mais é que uma criação ficcional para justificar o extermínio árabe e o domínio político e militar da região. Já com Noam Chomsky, antigo defensor do sionismo, entendi que não há nada de verdadeiramente judeu em apoiar um sistema assassino e desumano, e que sempre é tempo para mudar e escolher o lado certo da história. Foi assistindo “5 câmeras quebradas” que pude ver de perto a resistência pacífica dos palestinos e seu sofrimento sob a opressão de um estado brutal e violento. Finalmente, foi com Max Blumenthal que eu percebi a brutalidade dos ataques a Gaza promovidos pelo Estado sionista de Israel através do seu livro “The 51 days War“, sobre o massacre ocorrido em Gaza em 2014.

E acima de tudo, foi através do aprofundamento nas leituras que pude tirar da frente dos meus olhos o véu da propaganda sionista e islamofóbica que me impedia de ver a realidade. Espero que este seja o caminho de todos que desejam a paz, até porque é absolutamente incoerente defender o legítimo direito de vastas populações subjugadas e oprimidas pelo mundo enquanto negamos este direito aos palestinos. Não haverá solução para os dilemas da palestina sem que a democracia seja vitoriosa, sem que aos palestinos sejam garantidos o retorno para a pátria e a garantia de sua terra. A única alternativa é a “solução final”, a morte, a destruição total, e devemos todos lutar para que essa possibilidade jamais se torne realidade.

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Free Palestine

Eu posso entender quando algumas pessoas se deixam seduzir pelas idéias carregadas de propaganda sionista por uma razão bem singela: quando eu era jovem pensava como eles. Acreditava nos mitos que eram trazidos pela mídia sobre Israel, em especial “a land without people for a people without a land”, ou “blossoming the desert”, “a Villa inside the jungle” e o pior, mais nefasto e mais mentiroso de todos: os “escudos humanos com crianças”.

Todas mentiras plantadas para justificar o Nakba, a expulsão de 750 mil palestinos de suas casas para criar uma colônia europeia racista e etnocrática na região. Eu acreditava nesses mitos até assistir há uns 10 anos um documentário no Festival de Cinema do Rio sobre a invasão do Líbano feita por um cineasta árabe. A conversa de 5 minutos que tive com ele depois da apresentação da película foi reveladora. Isso me acordou para uma nova realidade.

Um tempo depois assisti o fabuloso documentário (tem no YouTube) “Reel Bad Arabs – How Hollywood Vilifies a People” e pude ver como o cinema americano inventou a islamofobia.

Vejam aqui: Reel Bad Arabs – Completo

Depois comecei a escutar George Galloway – parlamentar britânico – e seu inglês impecável denunciando as atrocidades de Israel. Logo depois vi tudo de Norman Finkelstein (Holocaust Industry) e cheguei em Ilan Pappe (Ethnic Cleansing of Palestine). A partir daí comecei a ler os jornalistas que falavam dos massacres, e o melhor de todos é Max Blumenthal (51 Days War). Com isso pude entender a manipulação midiática sobre o sofrimento dos palestinos, da qual somos vítimas também. O grande problema para Israel é que o mundo inteiro está acordando para as atrocidades cometidas em no Oriente Médio e cada cidadão palestino que mora é um cineasta com uma câmera na mão e uma dor em sua alma.

Quando assisti “5 câmeras quebradas” pude finalmente entender a brutalidade da ocupação pelos olhos dos palestinos. Tenho esperança que, como eu e Miko Peled – ativista e escritor (The Son of the General) – muitos ainda poderão acordar.

Infelizmente, por causa da propaganda odiosa de Hollywood, ainda somos obrigados a testemunhar islamofobia à granel. Muitos, para acusar o islã, usam o argumento dos direitos das mulheres, o que é bizarro em se tratando de Brasil. Sabe como uma mulher palestina se sente ao ser espancada pelo marido? Ora, da mesma forma que uma cristã evangélica brasileira se sente ao ser massacrada pelo marido ao voltar do culto. Essa história de invocar a Sharia é para tolos ou sionistas; olhem como o Brasil mata gays e mulheres e parem de dizer que esse é um problema islâmico. Um pouco de informação não faz mal a ninguém.

Eu realmente viajei pelo mundo todo, mas NÃO visito Israel da mesma forma como não visitaria a África do Sul enquanto Mandela estivesse preso. Quando houver a libertação palestina serei o primeiro a visitar e celebrar a Palestina Livre.

Acho cômico alguém dizer que uma parte do mundo lhe pertence por “direito divino”, enquanto expulsa as pessoas que vivem há séculos no local. Eu conheço a história, as condenações da ONU, os massacres, as 550 crianças mortas no último ataque a Gaza. Também não estive no holocausto, mas isso não invalida os milhões de judeus mortos pela mesma lógica que agora massacra palestinos.

Provando que o planeta é redondo e dá voltas, hoje vemos mais uma vez o mesmo discurso fascista e de limpeza étnica de 1940. Quando se pedia ao mundo para olhar pelos judeus sob o controle nazista também virávamos as costas. “Eles que se entendam”, dizíamos. Milhões morreram pela nossa negligência.

Para confirmar que a espécie humana não tem gente superior ou inferior, agora é a vez dos colonialistas israelenses fascistas atacarem as populações palestinas, produzindo genocídio e limpeza étnica, com massacres contra Gaza que se repetem num período pré estabelecido e cíclicos. “Aparar a grama“, como disse um general israelense. Apoiar o genocídio é desumanizar-se, tratar a população original daquele lugar como sub humana e indigna de viver é crime contra a humanidade. Não sei a opinião de todos os pensadores israelenses sobre o conflito, mas sempre que vejo um israelense defendendo a ocupação covarde que lá impera eu lembro das pessoas que julgam brigas onde há um marido espancador dizendo: “os dois lados tem as suas razões”.

Não, genocídio planejado, colonialismo, expropriação de terras, limpeza étnica…. nada disso se justifica. A resposta do mundo civilizado só pode ser o BOICOTE sistemático a qualquer iniciativa israelense. Produtos, indústria, serviços, produção agrícola. Tudo, da mesma forma como foi feito com o Apartheid da África do Sul.

O apartheid da Palestina vai acabar quando cada um de nós perceber que o massacre dos palestinos (assim como no holocausto judeu) é um crime contra TODOS NÓS.

FREE PALESTINE!!!

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