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Bobagens

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No que estou pensando?

Penso em muitas coisas mas a maioria é bobagem. Não tem sentido nem direção. Tipo uma diversão mental em solilóquio.

Por exemplo, quando escuto alguém dizer que tomou banho numa Jacuzzi eu sempre penso no Emile Zola, gordo, descabelado, com bigode apontando pra cima e com o dedo em riste dizendo “J’accuse!!!”. Também olho para o símbolo do Carrefour e digo mentalmente “Care  for” (me importo). Eu rio. Sempre que alguém me convida para fazer compras no Leroy Merlin eu digo para mim mesmo o nome em francês  (lerroá merlã), só porque acho mais chique.  Quando não tem nenhum lugar aberto para jantar eu digo “Só nos resta ir no Osmar”. Sempre um incauto pergunta: “Que Osmar?”, e eu respondo “Osmar Kidonald”.

Engraçadinho? Não… é um sintoma.

É por estas e outras razões que não sou convidado para festas desde 1963.

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O Retorno do Soldado

O Retorno do Soldado

(Roteiro adaptado sobre uma ideia original de Isabel Jones)

Depois de passar 12 anos foragido Ricachensky (Rick) Yonewsky voltou a ser visto em público. A sua trágica desaparição há mais de uma década destroçara sua família, destruíra seus afetos e criou uma dúvida entre todos os que de alguma forma privaram de sua intimidade.

O que, afinal, aconteceu com Rick Yonewsky?

As marcas no rosto denunciavam a dor e a penúria que sofreu. Do pouco que disse soube-se que vagou entre os campos de concentração na Armênia e o exílio no Turcomenistão. Quando, por fim, terminaram seus dias de angústia e pôde voltar para casa, só desejava o afago da família e o abraço dos filhos que, sem surpresa, sequer o reconheceram. Mas por que foi e, mais importante ainda, porque voltou? Que mistério rondava a “fuga” do soldado Rick?

Eu não lembrava mais da sua cara, papai“, disse Bebeluska, que mal sabia seu nome, já que há doze anos fora dado como morto ou foragido. “Porque voltou depois de tanto tempo?“, perguntou ela.

O velho soldado nem sabia o que dizer. “Voltei porque amo meu país, porque quero provar minha inocência, porque quero resgatar minha honra. E também porque acabou meu dinheiro”, disse ele derramando uma lágrima que driblava os sulcos profundos de sua máscara de sofrimento.

Sua mulher, Olga Zeziskaya, era duplamente viúva. De si mesmo, dado como desaparecido ou desertor, e de Vladimir Cocorutchka, vendedor de puxadores de persiana com quem havia se casado legalmente após Rick ser dado como oficialmente morto.

Infelizmente para ela Vladimir havia caído da janela em que instalava um puxador de persianas. Ao falsear o pé na borda ainda teve tempo de gritar “Perdoe-me Rick. Fiz tudo por amor”. As últimas palavras de “Vlad” denunciavam sua participação no “desaparecimento” de Rick, e talvez o regresso do soldado pudesse por fim esclarecer o mistério de 12 anos.

“Tenho muito a falar, e depois que o fizer não sobrará pedra sobre pedra. Aqueles que fizeram de minha vida um inferno pagarão por cada minuto de exílio e humilhação. E que Deus tenha piedade de suas almas, pois eu jamais perdoarei aqueles que tanto mal me causaram.”

Bebeluska chorava ao ver o pai tão velho e tão amargurado. Em sua cabecinha de menina era incapaz de imaginar as atrocidades pelas quais seu velho pai passou. Ela era toda espanto e surpresa, tanta que nem alegria pela volta do pai cabia em seu coração.

“Tudo isso ficará para amanhã. Quero todos aqui ao meu lado para que eu possa contar-lhes toda a verdade, a longa história suja que cerca meu desaparecimento. Aguardem.”, disse o velho combatente de olhar duro e face dolorida.

“Hoje apenas me permitam ir ao futebol, me afastar do mundo, desviar o olhar e a memória de tantos horrores e, por fim, olhar o preto, azul e branco vencer. Hoje só quero repousar a mente e, por alguns minutos, esquecer o que fiz, e o que fizeram de mim”.

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Como saí do Armário

Hand of a child opening a cupboard door

É claro que eu contei primeiro para a minha mãe. Todos nós sentimos mais confiança nela, não? Ela é nossa reserva de amor, e confiamos que seu julgamento será baseado no afeto que tem por nós. Um dia, com um misto de coragem e um senso de urgência, eu falei assim prá ela:

– Sabe mãe, eu não sou como os outros meninos. Sempre soube que era, digamos, “diferente”. Desde o tempo da faculdade que tenho esses sentimentos estranhos. De inicio eu não me aceitava, ficava tentando me enganar. Até fiz coisas que me violentavam. Hoje sinto vergonha de coisas que fiz só por medo de não ser aceito. Não queria que os outros meninos me achassem estranho, bizarro e fizessem troça de mim. Todo mundo quer ser aceito, mãe. Na verdade a gente faz qualquer coisa nesse sentido; até faz coisas que agridem seus princípios.

– Sua mãe vai lhe apoiar sempre, filho…

– Sei disso, mãe, por isso tenho certeza que posso me abrir. Mãe, eu preciso lhe contar…

– Diga meu filho…

O momento era de angústia, e se podia sentir na própria pele. Um segredo por tempo guardado, mas que precisava ser revelado. Minha esperança é que minha mãe pudesse escutá-lo com ouvidos amorosos, e que seu julgamento não fosse duro e cruel como tantos que já havia presenciado.

– Mãe, preciso te dizer, antes que você fique sabendo por outros. Eu, eu, eu… eu não gosto tanto de cesariana quanto gosto de parto normal. Veja bem, não é que eu não goste de operar, mas é diferente. É uma sensação difícil de explicar. Operar não me completa tanto quanto ver uma mulher parindo pelas suas próprias forças. É uma coisa assim, sublime. É como se a cada parto eu pudesse ver um arco-íris na minha frente, brilhante, colorido e resplandecente. Espero que me entenda. Agora não tenho mais medo de lhe contar…

Minha mãe sorriu se escutasse uma história antiga.

– Meu filho, tolinho. Eu sempre soube e agora que você me contou eu o amo mais ainda. Vem aqui dar um abraço na sua velha mãe…

Foi assim. Levou tempo para contar, mas depois de dizer a ela eu me senti muito mais leve. Limpo e digno.

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Dom Giordano

Restaurante Buffet

Dom Giordano me falou que a próxima falta não será tolerada, e depois disso perderemos o direito de pedir copos limpos na hora do almoço. Ele disse também que não está bravo, e que o fato de termos repetido a sobremesa NÃO significa nenhuma represália tola, como a que você insinuou na última vez que estivemos lá. Não existe isso de cuspir no prato, que isso é uma paranoia sua, e que se alguma vez foi utilizado (se é que foi um dia utilizado) estava relacionado com pessoas absolutamente desagradáveis que entraram no restaurante cantando músicas de Agnaldo Rayol. Disse também que o fato de você ir sem camisa no restaurante também não foi o causador da sua expulsão, e que, numa próxima vez, isso pode ser contornado, desde que você não esteja usando um sutiã lilás, o que causou uma espécie de “sensação de desconforto” (palavras dele) nos clientes do buffet.

Assim sendo, em função da nossa antiga amizade e as ligações que ele tem com a nossa família (não se esqueça que durante a guerra, o pai do Dom Giordano quase salvou a vida do nosso avô durante a batalha de Harves) ele quer passar uma borracha nos desentendimentos que ocorreram recentemente, e terá o maior prazer em nos receber de braços abertos. Espero que isso lhe sirva de estímulo para voltar a almoçar lá. Você sabe muito bem que restam poucos restaurantes no centro da cidade em que podemos entrar sem que a polícia seja acionada, e tudo isso poderia ter sido evitado não fosse a sua insistência em levar a sua rã de estimação para almoçar. Até eu achei uma demasia, mas você discutia com os gerentes de forma raivosa, e é compreensível que eles tenham se incomodado. Ok, botar os cachorros na gente foi exagero, mas não há como culpá-los. Portanto, pense bem na proposta do Dom Giordano, avise a Lúcia e vamos esquecer os problemas que tivemos no passado.

Lembre que a nossa única alternativa é o churrasquinho de gato, e ambos juramos que jamais desceríamos tanto. Conto com a sua compreensão.

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Juizes de Opala

Opalão

E se realizássemos, enfim, o velho plano do Roger Jones de que os juízes apitassem jogos de futebol a bordo de um Opalão rebaixado? Nada mais de testes físicos para a arbitragem, apenas teste de legislação, direção e baliza. Juízes apitariam com a buzina, claro. Os vidros do Opala seriam “fumê”, com película. Na lateral, vidros “bolha”. Bannerzinho de caminhoneiro na frente: “Dirigido por mim, apitado por Deus”. Imaginem um jogo em que o juiz vem “correndo” pela lateral e o zagueiro cabeceia a bola, devolvendo-a para o meio de campo, e o árbitro imediatamente dá um cavalinho de pau de 180 graus, e levanta 37 quadrados de leiva. Seria um espetáculo!!! Haveria torcida para as façanhas acrobáticas dos juízes aloprados na direção de “máquinas mortíferas”. Poderia ter “pit-stop” para o Opala, caminhonetes da Unimed para os atropelados (“se querem modernidade, teremos que pagar um preço”, diria Blatter, da FIFA) e as garotas estilo “fórmula 1”, de saiotes curtinhos e sorriso Kollynos. Cara, isso é a revolução tecnológica do futebol, o esporte do futuro !!!!

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