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Janela

Não deveria causar espanto o fato de que estas meninas parecem estar esnobando os rapazes com quem marcam encontros. Nessa idade – a adolescência – as mulheres são muito poderosas. Em verdade, não haverá momento algum em suas vidas em que serão tão valiosas aos olhos de todos. Todas as heroínas das histórias infantis – de Branca de Neve. Cinderella e até Julieta Capuleto de Verona – eram garotas no fulgor de sua adolescência. O mercado é francamente favorável a elas. Os homens estão por toda parte ávidos por encontrá-las; são desejadas, procuradas, exaltadas, admiradas e têm o mundo aos seus pés. A virada dos 30 anos é, para muitas, um divisor de águas. Na antiguidade quase nenhuma mulher chegava a esta idade sem filhos, o que nos deveria fazer pensar com uma certa estranheza sobre os tempos atuais, quando a maioria ainda não teve filhos. O certo é que, depois de ultrapassada esta barreira, seu valor (aqui entendido como a atração, não os valores morais ou intelectuais) cai progressivamente.

Quando as mulheres de mais idade, por mais lindas e inteligentes que sejam, dizem que não recebem o reconhecimento devido apenas por serem “maduras”, estão apenas dizendo que não ganham mais a atenção desproporcional e exagerada que recebiam no pleno vigor erótico da juventude. Na verdade, estas mulheres maduras sentem na pele algo que os meninos conhecem muito bem: elas passam a ganhar os mesmos olhares que um garoto de 16 anos recebe das mulheres de 20. Lembrem-se: por mais duro que seja aceitar, somos seres destinados à reprodução. Quanto mais nos afastamos da janela reprodutiva menos valor obtemos do entorno social. Apesar da nossa racionalidade ainda funcionamos como uma espécie sofisticada de primatas sem pelos, e nossas atitudes continuam conectadas aos estratos mais primitivos da mente, os quais, fortuitamente, nos garantem a sobrevivência.

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Tríptico Amor Romântico – 1. Amores decadentes

Tenho uma curiosidade sobre a “decadência do amor romântico” e gostaria de saber a opinião das pessoas sobre essa ideia. Por que tantos acreditam que o amor romântico “não funciona” e precisa ser eliminado? Qual a alternativa a ele? Se o amor romântico não funciona a alternativa seria a construção de uma cultura hedonista, baseada em múltiplos encontros sexuais e amorosos fugazes, superficiais e “operacionais”, tipo, objetivando apenas a reprodução? Poliamor seria a resposta para o desejo? Relacionamentos abertos? E as crianças? Tribos, comunidades, comunas? Como podemos imaginar as sociedades, as famílias, as crianças e a velhice num mundo pós amor romântico?

A questão proposta é apenas esta: se o amor romântico como o entendemos não tem mais sentido, como seria a estrutura social do futuro? Amores líquidos, meteóricos? Prazeres descompromissados? Surubas cibernéticas? Sexo casual? Filhos comunitários? Admirável Mundo Novo?

Para ser mais explícito, não é sobre apaixonamento, tesão ou outros tipos de amores que estamos falando. “A crise do amor das relações surgiu no horizonte como um impacto muito forte, com as separações tanto das relações mais formais como as informais. O casamento oficializado entra em crise.” (Edson Fernando Oliveira). A crise está na ideia de que precisamos nos relacionar por amor, pelo desejo de formar parcerias longas, “até que a morte os separe”, uma vida conjunta envelhecendo em parceria, ao lado de filhos, netos e bisnetos. É sobre esse “contrato social” de pessoas que estão juntas e decidem se manter assim porque se amam. Não é sobre paixão e desejo, mas a forma de acomodá-los, criando uma dualidade afetiva duradoura.

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