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Tríptico Amor Romântico – 1. Amores decadentes

Tenho uma curiosidade sobre a “decadência do amor romântico” e gostaria de saber a opinião das pessoas sobre essa ideia. Por que tantos acreditam que o amor romântico “não funciona” e precisa ser eliminado? Qual a alternativa a ele? Se o amor romântico não funciona a alternativa seria a construção de uma cultura hedonista, baseada em múltiplos encontros sexuais e amorosos fugazes, superficiais e “operacionais”, tipo, objetivando apenas a reprodução? Poliamor seria a resposta para o desejo? Relacionamentos abertos? E as crianças? Tribos, comunidades, comunas? Como podemos imaginar as sociedades, as famílias, as crianças e a velhice num mundo pós amor romântico?

A questão proposta é apenas esta: se o amor romântico como o entendemos não tem mais sentido, como seria a estrutura social do futuro? Amores líquidos, meteóricos? Prazeres descompromissados? Surubas cibernéticas? Sexo casual? Filhos comunitários? Admirável Mundo Novo?

Para ser mais explícito, não é sobre apaixonamento, tesão ou outros tipos de amores que estamos falando. “A crise do amor das relações surgiu no horizonte como um impacto muito forte, com as separações tanto das relações mais formais como as informais. O casamento oficializado entra em crise.” (Edson Fernando Oliveira). A crise está na ideia de que precisamos nos relacionar por amor, pelo desejo de formar parcerias longas, “até que a morte os separe”, uma vida conjunta envelhecendo em parceria, ao lado de filhos, netos e bisnetos. É sobre esse “contrato social” de pessoas que estão juntas e decidem se manter assim porque se amam. Não é sobre paixão e desejo, mas a forma de acomodá-los, criando uma dualidade afetiva duradoura.

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Onde você está?

O isolamento me impede de visitar o meu pai. Com 90 anos, lúcido, sobrevivente de um AVC (que não deixou sequelas físicas) e confinado em casa, recebe apenas a visita da minha irmã. Desde que enviuvou há algumas semanas não saiu mais de casa. Nossas conversas são agora por telefone e, quase sempre, acabam na política. Eu “comuna”, ele um “coxinha”. Por vezes a conversa fica áspera, mas eu entendo o porquê. Ele deve pensar: “Daqui a pouco vou morrer e vou deixar esse comunista desamparado”.

Ontem foi a mesma coisa. Risadas, histórias, críticas e a espiral concêntricas sobre crise-capitalismo-Lula-comunismo. Ele se irrita com o meu idealismo, que lhe parece estéril. Eu me incomodo com sua cabeça dura para aceitar as mudanças necessárias – e inevitáveis. Por outro lado, esse confronto de ideias sempre foi uma marca da família; somos uma família de conversadores e debatedores. Ninguém fica bravo com os exageros retóricos alheios. Como ele sempre diz, “os debates se concentram apenas no terreno das ideias”.

Ontem, depois de quase duas horas de conversa animada a ligação caiu…

– Alô? Pai, está aí?
Silêncio…

Resolvo ligar de novo. Ele atende.

– Puxa, tua irmã ligou e caiu nossa ligação. Ela está chegando aqui com as compras.
– Não tem problema pai, eu tenho mesmo que almoçar, disse. Até outra hora. Assim que passar tudo eu e o Lucas vamos te visitar.

Ele ficou uns segundos em silêncio e perguntou:
– Onde tu estás?
– Ora, na Comuna. Não saio daqui há quase um mês. Estamos completamente confinados.
– Na comuna? Não pode…
– Por quê?
– Tu foi no banheiro? Está ligando daí? Há 5 minutos atrás estavas aqui comigo, conversando na sala!!

Não consegui conter a risada…
– Pai, a gente estava conversando o tempo todo pelo telefone!!
– Sério? (escuto ele levantar para ver se tem alguém no banheiro). Bahhh, a conversa estava tão animada que achei que estavas aqui comigo. Diz isso e cai na gargalhada. Eu também…

Acho que envelhecer bem é conseguir rir até das suas próprias limitações….

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