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Racismo invisível

“PM nega motivação racista ao espancar o sujeito no Carrefour”.

O grande erro das análises sobre a morte no Carrefour continua sendo achar que a motivação racista se refere somente aos possíveis conteúdos CONSCIENTES, quando em verdade tem a ver com a estrutura social que INCONSCIENTEMENTE direciona nossas ações.

É exatamente por isso que temos um racismo invisível, até com aparência de cordialidade – ou democracia racial – porque ele está embebido na arquitetura social mais profunda, longe das luzes da consciência. Mas o fato de ser inconsciente o torna ainda mais difícil de combater. Como a violência obstétrica: quanto mais invisível, mais poderosa.

É muito difícil para muitos entender como funciona o racismo estrutural porque não percebem que nossas decisões percorrem um caminho que se situa abaixo da linha do consciente. É ali no breu do inconsciente, no escuro dos sentimentos mais primitivos e onde a luz da razão não encontra espaço, que estas escolhas são feitas.

Para entender o racismo estrutural é importante despir-se da arrogância racionalista e reconhecer a origem das nossas decisões. Somente esse mergulho nas emoções mais ancestrais nos permitirá entender porque os negros morrem nas mãos da polícia ou de seguranças enquanto aos brancos é reservado um espaço de civilidade protetiva. Os corpos negros, como se diz, são corpos “castigáveis”; violar e maltratar as carnes pretas ainda é um ato impune.

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Arquivado em Pensamentos

Carrefour

“E os brancos que são mortos por negros? Eles não valem nada?”

Suas mortes são igualmente lamentáveis, mas pense bem: eles não morrem POR SEREM brancos. No caso do Carrefour o racismo é o principal elemento da cena, mas por certo não o único. A violência absurda, a covardia e o uso abusivo da força também contam. O poder econômico de uma grande rede de supermercados multinacional atacando a ponta frágil da sociedade – preta e pobre – é inegável e não podemos fechar os olhos para essa face cruel do capitalismo.

Mas a observação da Bebel é certeira e vai no ponto: se fosse branco nada disso teria acontecido. Alguém conversaria com ele, chamaria um responsável da loja e acabaria tudo sem maiores problemas. Vejam os vídeos dos barracos que brancos fazem e perceba a diferença. É a cor da pele, é a cor…

Sim, ele morreu por ser negro, sua condenação estava na escuridão da sua pele. Um negro não tem o mesmo direito de fazer um “barraco” e tudo ser resolvido na conversa, chamando o gerente. Não, com eles é na porrada no mata Leão, na asfixia – há pouco tempo, no chicote. A execução é sem júri, sem advogado; é no chão frio da rua, atrapalhando as “pessoas de bem” que vão fazer suas compras.

Claro que há negros que matam brancos, mas mostre para mim um grupo de negros pulando e asfixiando um branco apenas por ele ter sido inconveniente ou abusado. Onde estão?

A desculpa, quase onipresente aqui e nos Estados Unidos, é bem conhecida por todos nós: Por que ele resistiu? Por que não cooperou com as “autoridades”? Pois eu acho essa pergunta a maior das ofensas, pois no fundo ela significa: “Hei negro, ponha-se no seu lugar. Quando a gente manda, você obedece!”

Para um negro, reagir a uma injustiça é sempre um crime inafiançável. A eles só cabe a resignação e o silêncio.

O racismo fica evidente quando o que para nós brancos é tratado como “exagero” ou “inconveniência” para os negros significa uma sentença de morte.

Os não brancos são 51% desse país. Por quê nossos irmãos são tratados com muito mais crueldade que qualquer animal? Ontem foram 80 tiros. Um pouco antes Amarildo. A juventude negra continua sendo massacrada diariamente pelo Estado racista.

Até quando???

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