Vamos deixar uma coisa bem clara: Janja incomoda porque é a mulher do Lula, e não porque é uma “mulher livre”. Janja não será objeto de ódio porque “namora”, porque “transa”, ou porque está feliz e bem casada. Isso, inclusive, é tão sexista quanto falar das mulheres “mal amadas”, ou daquela que “está feliz porque transou”. Mulheres merecem ser tratadas com mais respeito: a vida delas não circula somente em torno da sua vida sexual. Minha mulher é livre, mas ninguém a ataca, e a razão disso é porque o marido dela é um pé rapado. As mulheres dos poderosos sofrem, e isso ocorre em qualquer lugar.
A mulher do Temer, “recatada e do lar”, foi muito atacada. Foi tratada como a “vitrine do atraso” das conquistas feministas. Foi chamada – sem dó – de interesseira por ter se casado com um idoso. A mulher do Bolsonaro foi bombardeada sem nenhuma pena, tratada por todos como a “Micheque“. Não havia uma semana sem um bombardeio, envolvendo sua religião, seu fanatismo, seu oportunismo evangélico, a respeito de Queiroz (e o tal cheque que lhe deu o apelido) e sua família com ficha corrida. Agora surgiu a suspeita, sem provas, de que ela apanha do marido, que ainda vai dar muito o que falar.
Dizer que Janja é atacada porque é “livre” não explica nada, apenas reforça o mito de que os homens “morrem de medo” das mulheres livres. Homens tem tanto medo de mulheres livres quanto as mulheres tem rejeição aos homens sensíveis e delicados. Estas figuras fogem dos modelos arcaicos da organização patriarcal, mas não estamos mais na idade média. O mundo mudou, e apenas uma minoria hoje em dia aceita se submeter a estes medos e estas rejeições.
Uma prova inquestionável é o que aconteceu com Dilma. Poucos mandatários foram tão atacados quanto ela, mas ela não tinha parceiro(a). Era solteira e não namorava – ao menos de forma explícita e pública. E também não acredito que Dilma ou Janja foram atacadas por serem mulheres. Elas foram e serão agredidas incansavelmente por se contraporem aos interesses da burguesia e do imperialismo e por estarem ligadas ao PT. Serem mulheres apenas acrescenta, mas por certo que não é o fator preponderante dos ataques. Existe muito mais no embate político do que esse machismo tacanho que algumas jornalistas tentam impor como narrativa preponderante. Sem dúvida ele existe, mas não com a importância que tentam apresentar.
Janja será inevitavelmente atacada por ser a mulher do presidente da República. Pior ainda, por ser um presidente de esquerda, assim como Dona Marisa o foi anteriormente, com todas as mentiras, falsidades, dinheiro da Avon, conta milionária e os múltiplos ataques que recebeu – que, ao meu ver, a levaram à morte prematura. Será alvo dos insatisfeitos e dos perversos como todas foram, e isso não acontece apenas aqui…. vide Trump e sua mulher Melania. Este é o preço da notoriedade.