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Sentidos

Eu vi muito da busca insaciável por sentido quando o tema é a morte. Diante do impacto que as despedidas oferecem aos que ficam, as pessoas não buscam descobrir a realidade da morte, do adeus, do infinito de separação inexorável; elas querem conferir à morte um sentido. Para isso precisam negar muito da realidade, não apenas sobre quem se foi mas também sobre a própria morte, como e porque ocorreu, de quem foi a culpa e a responsabilidade. Para conseguir este sentido não se furtam de colocar a morte numa linha de causalidade tão fantasiosa quanto aliviante e consoladora. Assim fazendo, pedem às mentiras que ofereçam um lugar seguro para, assim fazendo, garantir sentido ao caos.

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Adeus

Então subitamente ela se foi, levando consigo colado ao rosto um vinco de dúvida, uma ruga de medo e um sorriso envergonhado. Fechou a porta com pressa, deixando atrás de si, trancado comigo, seu perfume de adeus. Seu cabelo cor de mel balançava ao ritmo do desejo enquanto o sol que se punha cobria de ouro seu rosto de cristal. Depois daquele último encontro nunca mais a vi, e a saudade que deixou corrói feito zinabre. Quando voltou à noite para casa jogou sobre a mesa um boa-noite surdo junto com as chaves do carro e foi direto para seu quarto sem nada dizer. O adeus é um punhal cravado na alma.”

Sean O´Malley Jr, “The last Goodbye Forever”, Ed. Pancras, pag 135

Sean O´Malley Jr nasceu em Dublin em 1982 e passou toda a sua infância em Ballyfermot, um bairro de má reputação pela violência urbana e pelo tráfico de drogas. Seus textos iniciais, publicados em uma coletânea de sua escola – a St Dominic´s College – giravam em torno do cotidiano de seu bairro: drogas, garotas, brigas de rua, gangues e bebedeiras. Quando saiu do ensino médio e entrou para a University College in Dublin ocorreu um fato que mudou completamente sua vida e suas perspectivas: o acidente de ônibus em Hawk Cliff que vitimou 4 de seus colegas que realizavam com ele uma excursão para a praia. A partir desse acidente – e sua longa estada no hospital com fratura na coluna – resolveu trancar o curso de Engenharia de Metais e percorrer uma trajetória na literatura. Escreveu seu primeiro livro de ficção apenas um ano após deixar o Rotunda Hospital e ainda em cadeira de rodas. Este livro teve boas críticas e se chamou “The View from Above” (A vista de cima). “The Last Goodbye Forever” foi seu terceiro livro, e mistura contos, crônicas e poesia. Vive em Skibbereen com sua esposa Maggie.

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