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Elogio

Meu pai, em sua longa vida, jamais se abateu com os ataques que lhe foram dirigidos por aqueles que não aceitavam suas ideias ou propostas, e nunca cedeu à tentação do revide ou do ressentimento. Entretanto, não gostava de elogios e homenagens, pois sabia do poder altamente destrutivo dos aplausos. Nesse aspecto era freudiano; entre suas frases mais famosas, o mestre austríaco deixou esta sobre o tema: “podemos nos defender dos ataques, mas somos indefesos diante de um elogio”.

O elogio penetra em nossa mente pelas frestas criadas pela vaidade. É por ali, e não pela potência dos murros, que se derruba um sujeito. Meu pai bem sabia de suas fragilidades; dizia ele que é preciso ser excepcionalmente forte para receber um elogio e não se deixar contaminar por ele. Freud, quando se dirigia aos médicos, inebriados pelos elogios e juras de amor de suas pacientes, alertava: “Não sejam tolos, estes elogios não são para vocês mas para quem representam no imaginário dessas moças”. O mesmo acontece conosco: muitos elogios que lançamos são, em verdade, autoelogios, que exaltam nossa capacidade de enxergar virtude no outro, esperando que, em contrapartida, as nossas qualidades sejam igualmente notadas. Em verdade, caso queira destruir um sujeito, não é necessário que as investidas venham de fora, seja por ataques físicos ou atingindo a sua moral; basta inflar seu ego e esperar que a ilusão de grandeza o destrua por dentro.

Não há como discordar desta posição do meu pai. Os elogios e as bajulações são perniciosos e destrutivos, e as críticas nossos melhores conselheiros. Aceitar os elogios e rejeitar as reprovações é um passo certeiro para o fracasso de nossos mais altos projetos. Uma postura reservada e comedida impede que a vaidade nos destrua por dentro, através do engano e da ilusão.

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Causas

O totalitarismo nos ensinou que um passo seguro para a desumanização é quando sua ideologia – seja ela qual for – atropela e destrói indivíduos na sua caminhada. Quando a vida e a honra de alguém valem menos que uma ideia é porque esta é apenas ilusoriamente positiva. Mentir em nome de uma causa, por mais nobre que esta seja, nunca ajudou a construir nenhuma obra de valor.

(Sir) Watson Doherty, “The Chambers of Birmingham”, ed. Peebles, pág. 135

Watson Jeremy Doherty é um escritor inglês nascido em Dover em 1959. Foi um jovem prodígio, escrevendo seu primeiro livro com a idade de 10 anos, “The Hills of Dover”, onde descreve as aventuras de um garoto e seu cachorro na busca por um tesouro Viking enterrado nas colinas de sua cidade. Depois disso iniciou uma importante obra de literatura infantil, sempre falando da vida simples do interior da Inglaterra, o que lhe valeu vários prêmios literários e a sua nomeação para o título de “Sir” oferecido pela rainha Elisabeth II. Sua entrada na literatura adulta se deu em 1980 com o romance “The Chambers of Birmingham”, onde ele visita os sentimentos anticomunistas que se apossaram da imprensa inglesa em função da pressão exercida pela guerra fria, expondo suas mentiras, falsidades e contradições. Mora em Dover e é casado com a decoradora Margareth Atkins. Tem um filho chamado Peter.

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