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Espiritismo e Cristianismo

Cristo não criou uma religião, muito menos Leon Tolstói ou Maradona, mas três igrejas se ergueram em seus nomes. Religião é o que os outros fazem do pensamento e das obras de alguém. O mesmo aconteceu com o pensador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, também conhecido como Allan Kardec. Na minha perspectiva – e na de Kardec, que explicitamente negava que o espiritismo fosse uma religião – uma religião é uma ideologia que nos aparta das demais. Por isso se usa a palavra “seita”, um termo que deriva do latim “secta” cujo significado é “seguidor”. O termo é utilizado para designar um grupo numeroso de uma determinada corrente religiosa, filosófica ou política que se destaca da doutrina principal. Sectário é um termo que designa o indivíduo que faz parte de uma seita. Uma seita pode também ser considerada uma “divisão”, “partido” ou “facção”.

Kardec não desejava nada disso. Ele era um homem de ciências e queria demonstrar a sobrevivência do princípio espiritual, a comunicabilidade entre os planos, a evolução e a reencarnação como sistemas pedagógicos espirituais. Em verdade, o espiritismo é apenas isso e Kardec tão somente desejava que o espiritismo fosse um suporte para todas as religiões. Na sua visão seria absolutamente razoável a existência de um católico espírita, um budista espírita, um muçulmano espírita e até um ateu espírita – se for possível negar a existência de Deus mas aceitar as outras leis naturais que o espiritismo defende.

Tornar-se uma religião formal foi, entretanto, algo inevitável para o espiritismo. Não haveria como o espiritismo nascente no Brasil – a grande nação espírita do mundo – não estabelecer um sincretismo com o cristianismo do país. De certa forma quando Kardec (ele mesmo um católico) escreveu o “Evangelho segundo o Espiritismo” criou uma conexão indissolúvel com a religião e suas inevitáveis pregações morais. Nem Kardec conseguiu evitar isso, mas em um mundo ideal, o espiritismo poderia ficar alheio às questões morais. Isso jamais ocorreu, e as palavras de um espírita são facilmente confundidas com qualquer cristão deste país. O espiritismo se tornou uma seita cristã reencarnacionista com os mesmos vícios moralizantes das outras religiões ligadas à figura de Cristo.

Para mim esta ligação com a “moral” e com o cristianismo aprisiona o espiritismo. Seria muito mais interessante que fosse livre, laico, despregado do catecismo carola das religiões. Sendo uma filosofia e uma ciência sem vinculação com preceitos morais ele estaria muito mais próximo de atingir seus altos objetivos. Porém…. admito que minha posição é contra hegemônica e pouco popular. Existe muita cristolatria no espiritismo, e uma necessidade de criar normas para regular o comportamento das massas. Como toda religião o faz.

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Obsessão

Acho super curiosa a fixação dos espíritas pelo tema da obsessão, quase sempre tratado como se fosse uma doença contagiosa, algo que se “pega”, um vírus ideacional que se apodera de uma alma pura, como se um indivíduo desavisadamente ligasse a televisão e, por assistir o Big Brother, acabasse atraindo espíritos obsessores (???) que sugariam suas energias e lhe desviariam o caminho. O simples fato de trazer à baila esse tema de forma continuada demonstra que os espíritas ainda acreditam nas “obsessões” como elementos exógenos a produzir desequilíbrio nos sujeitos a elas submetidos.

Ingênuo demais para ser levado a sério…

Primeiro, eu acho que TODOS NÓS somos obsessores de todo mundo ao nosso redor, até de desencarnados. Nossas ações são como ondas de rádio emitidas para todos os lados, que encontram sintonia nas pessoas que estão no nosso raio de ação. Da mesma forma sintonizamos nosso “dial” para captar as ondas que também a nós chegam. Nada de novo em reconhecer que somos captadores e emissores de energias-palavras que podem transformar ou desvirtuar nosso semelhante, certo?

Porém, é evidente que a única forma de impedir as inúmeras obsessões que nos seduzem será sempre através da “reforma íntima”, ou seja, parando de focar nos espíritos que nos assediam (encarnados e desencarnados) e prestando mais atenção em nossas falhas e fragilidades. Uma das formas de fazer isso é através da auto-escuta, pelas terapias e análises.

Por isso eu acredito que a prática espírita de fazer ‘sessão de desobsessão’ centrada no discurso cristão, no palavrório moralista e nos conselhos vazios para espíritos angustiados (dos quais desconhecemos a realidade subjetiva) é infrutífera como processo de cura. Estas cenas me remetem ao filme “O Exorcista”, onde uma menina pura e dócil é tomada por um demônio e tem seu corpo controlado por suas determinações malévolas. Infelizmente, as influências dos outros não ocorrem sem que a porta da sintonia seja aberta – e sempre por dentro.

Somente a reforma do próprio sujeito é capaz de bloquear o acesso a ideias influenciadoras. Infelizmente, é notório o quanto este tipo de exorcismo é sedutor para os condutores do processo em casas onde o mediunismo é reconhecido, basta ver como esta prática é realizada nas igrejas evangélicas com as inúmeras encenações de luta do “ungido de Cristo” contra o “Demônio”.

O caminho da consciência é sempre mais complexo e difícil, mas todos os outros não passam de propostas paliativas ou escapistas, nada mais do que uma “retirada do sofá da sala”, sistemática e repetitiva…

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Depois da morte

Aprendi que haveria níveis diferentes para onde a alma iria depois da morte. Um mais baixo, com os “espíritos inferiores”, um segundo nível composto de espíritos em “expiação”, um mais elevado com os espíritos de maior esclarecimento e um acima, o angelical, onde estariam seres com uma experiência maior e responsáveis pela coordenação da própria vida na Terra.

Nada parecido com as organizações sociais mundanas que existiram por séculos, como escravos, proletários, burgueses e nobres. Mera coincidência, certo? O método de ascensão entre as classes? Ora, a meritocracia (com variações, por certo).

Lembrei disso porque me sinto caminhando em uma estrada que se segue ao abandono. De uma certa forma pulso em dois mundos: à frente a redenção e a superação, enquanto para atrás fica a vida de dificuldades e mágoas, embora tantas vicissitudes sejam entremeadas por amores e conquistas.

Entretanto, ao invés de focar minha atenção no porvir e no Caminho, não consigo cortar as amarras do mundo que ficou para trás. A vida ainda parece por demais intensa para ser esquecida. Por isso escrevo aqui…

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