Arquivo da tag: Big Brother

Contextos

Li pelas redes sociais um texto onde a articulista tentava mostrar as dificuldades pelas quais Karol (do BBB) havia passado desde sua infância – difícil e penosa – para que nosso julgamento sobre suas atitudes egoístas ou preconceituosas pudesse ser contextualizado diante de uma vida de luta, dor e sofrimento. Esse texto veio logo depois de outro, de igual teor, que pedia mais amor ao julgar a transexual que, depois de pedir “mais aglomeração”, acabou falecendo pela Covid19. Também ela havia sido vítima de uma sociedade cheia de julgamentos, violência, incompreensões e cancelamentos. Muito antes ainda eu li a história de uma mãe estressada que bateu no seu filho pequeno durante uma viagem de ônibus porque ele insistia em colocar a mãozinha para fora da janela para brincar com o vento. Quando foi interpelada por outra passageira sobre a razão da violência ela desfiou uma série de pequenas tragédias cotidianas que colocavam aquela agressão dentro de um contexto maior, de privação e sacrifício. O nome do texto era algo como “Muitas vezes só o que ela precisa é de um abraço”. E foi mesmo com um abraço compassivo que o texto terminou.

Todos estes textos me chamaram à atenção por serem justos. Há que se conhecer o contexto para compreender a integralidade de qualquer ato desviante. Ortega y Gasset já nos ensinava: “Eu sou eu… e minhas circunstâncias”, mostrando que somos feitos de elementos alheios à nós, os quais pressionam por ações e atitudes.

Todavia, depois de ler estes textos eu fiquei com uma curiosidade: se no lugar de uma “lacradora“, artista negra e vinda dos estratos mais pobres da sociedade, de uma transexual marcada pelo desprezo e o abandono ou de uma mãe desgastada pela sua tripla jornada estivesse um homem, um abusador e agressor, haveria a mesma análise que tenta entender suas ações inseridas em um contexto de violência psicológica infantil? Sim, porque praticamente todos os abusadores e espancadores tiveram uma infância recheada de traumas e agressões, que são encenados pela vítima na fase adulta agora no papel do opressor. Ou esse raciocínio compreensivo só serve para minorias e oprimidos? Só é possível ser condescendente diante da possibilidade de identificação com o sofrimento alheio?

Pois eu faço o convite a que essa compreensão mais abrangente seja estimulada e assegurada a todos, e não somente àqueles grupos com os quais conseguimos desenvolver empatia. Até porque qualquer um de nós, seja preto, branco, homem, mulher, gay, trans, oprimido ou opressor já esteve diante de escolhas e acabou sendo o Torquemada de alguém.

Todos temos um lugar de dor onde se esconde nosso recalque. Meu singelo pedido é que, antes de julgar qualquer sujeito, é importante saber que todo mundo carrega feridas mal cicatrizadas e que é preciso entender aquele que comete erros dentro de seu contexto de vida. Todos nós, de uma forma ou de outra, cometemos delitos – com maior ou menor gravidade. Sem exceção…

Ser compreensivo e tolerante com os erros do próximo é bom e justo até porque é isso que esperamos que façam conosco. Todo mundo merece receber um julgamento de acordo com suas circunstâncias e contextos. Assim, o teste verdadeiro é tentar entender alguém cujas atitudes agridem nossa humanidade, procurando olhar para o criminoso (e não para seu crime) com a mesma justa compreensão com a qual julgamos a transexual ou a garota do Big Brother. E isso não significa perdoar crimes, mas entender os criminosos.

Justiça, amor e raio laser para todos.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Obsessão

Acho super curiosa a fixação dos espíritas pelo tema da obsessão, quase sempre tratado como se fosse uma doença contagiosa, algo que se “pega”, um vírus ideacional que se apodera de uma alma pura, como se um indivíduo desavisadamente ligasse a televisão e, por assistir o Big Brother, acabasse atraindo espíritos obsessores (???) que sugariam suas energias e lhe desviariam o caminho. O simples fato de trazer à baila esse tema de forma continuada demonstra que os espíritas ainda acreditam nas “obsessões” como elementos exógenos a produzir desequilíbrio nos sujeitos a elas submetidos.

Ingênuo demais para ser levado a sério…

Primeiro, eu acho que TODOS NÓS somos obsessores de todo mundo ao nosso redor, até de desencarnados. Nossas ações são como ondas de rádio emitidas para todos os lados, que encontram sintonia nas pessoas que estão no nosso raio de ação. Da mesma forma sintonizamos nosso “dial” para captar as ondas que também a nós chegam. Nada de novo em reconhecer que somos captadores e emissores de energias-palavras que podem transformar ou desvirtuar nosso semelhante, certo?

Porém, é evidente que a única forma de impedir as inúmeras obsessões que nos seduzem será sempre através da “reforma íntima”, ou seja, parando de focar nos espíritos que nos assediam (encarnados e desencarnados) e prestando mais atenção em nossas falhas e fragilidades. Uma das formas de fazer isso é através da auto-escuta, pelas terapias e análises.

Por isso eu acredito que a prática espírita de fazer ‘sessão de desobsessão’ centrada no discurso cristão, no palavrório moralista e nos conselhos vazios para espíritos angustiados (dos quais desconhecemos a realidade subjetiva) é infrutífera como processo de cura. Estas cenas me remetem ao filme “O Exorcista”, onde uma menina pura e dócil é tomada por um demônio e tem seu corpo controlado por suas determinações malévolas. Infelizmente, as influências dos outros não ocorrem sem que a porta da sintonia seja aberta – e sempre por dentro.

Somente a reforma do próprio sujeito é capaz de bloquear o acesso a ideias influenciadoras. Infelizmente, é notório o quanto este tipo de exorcismo é sedutor para os condutores do processo em casas onde o mediunismo é reconhecido, basta ver como esta prática é realizada nas igrejas evangélicas com as inúmeras encenações de luta do “ungido de Cristo” contra o “Demônio”.

O caminho da consciência é sempre mais complexo e difícil, mas todos os outros não passam de propostas paliativas ou escapistas, nada mais do que uma “retirada do sofá da sala”, sistemática e repetitiva…

1 comentário

Arquivado em Pensamentos