Arquivo da tag: Kardec

Espiritismo e Laicidade

Existe um conceito bastante equivocado sobre a ideia de laicidade no que diz respeito ao espiritismo. Parte da premissa que “qualquer corrente de pensamento que admite a existência de um mundo extrafísico seria religioso”, portanto, incompatível com a laicidade. O espiritismo seria por definição, e inexoravelmente, uma religião, por abordar o “mundo dos mortos”.

Trata-se, ao meu ver, de um equívoco. Segundo seu criador, o pedagogo francês Alan Kardec, o espiritismo não é e jamais deveria se transformar em uma religião. Talvez o místico e alquimista Isaac Newton tenha feito o mesmo pedido para que não transformassem a gravitação em uma seita mística; Galilei provavelmente também. É provável que Lev Tolstói e Maradona tenham solicitado, mas não foram respeitados em suas vontades.

Entretanto, o “espiritismo laico” – que se afasta da ideia de um espiritismo religioso – assevera que a doutrina espírita não trata de fenômenos “transcendentais”, não lida com o mundo místico e não se importa com o “sobrenatural” (o qual nega com veemência). Além disso, sua atenção se volta às leis naturais, como o são a lei da gravidade, da aceleração e da conservação de energia. Não se interessa por nada fora da física ou da biologia, mas propõe uma expansão de suas perspectivas para além do mensurável. Como Freud que exalta a razão, mas investiga o que se encontra para além (ou aquém?) dela.

Kardec seria apenas um filósofo que admite a sobrevivência da alma e a reencarnação, como fenômenos constituintes da vida e da evolução (outro conceito que é muito caro aos espíritas). Chamar isso de um pensamento religioso seria tão lícito quanto chamar o platonismo de religião, apenas porque Platão falava do “mundo das ideias”, ou mesmo Freud, por conceber o conceito de Eu, Id e Supereu, elementos que não se encontram no cérebro e não podem ser medidos ou pesados.

Kardec estaria mais para um Descartes, um pensador munido de uma grande dose de cultura e ceticismo e que investigou um fenômeno perceptível. Pretendeu aplicar um método aos fatos observáveis cotidianamente (como a mediunidade e o fenômeno das “mesas girantes”). Todavia, em verdade, nada disso tem a ver com religião, da mesma forma como o platonismo não prega condutas morais, preces, orações, rituais, símbolos, exaltação de personalidades, culto ao místico, etc. O espiritismo é tão somente um método de compreensão e investigação de fenômenos naturais que infelizmente foi transformado em uma seita cristã.

Tudo isso que enxergamos no espiritismo cotidiano é fruto do sincretismo dessas ideias de Kardec com o cristianismo brasileiro – basta observar a imensa diferença entre a manifestação daqui (onde fez sucesso) com a manifestação de onde surgiu, a França e a Europa, onde não possui apelo popular e circula em grupos pequenos e laicos.

Em suma, o movimento do espiritismo laico tem a ver com a libertação do ranço cristólatra dessa filosofia. O abandono da culpa e do moralismo cristão é essencial para desenvolver um pensamento livre e científico na abordagem da alma humana.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Kardec e o conservadorismo

Um pouco antes de desencarnar meu pai expressou uma evidente preocupação em relação ao futuro do espiritismo, projeto no qual militou durante toda sua vida. Depois de sua morte voltei a me ocupar das ideias espíritas, em especial os estudos sobre imortalidade da alma e sobre a reencarnação. Acabei encontrando no Facebook grupos de debates espíritas, do Brasil e do exterior. Percebi, então, que os fóruns espíritas estão lotados de reacionários.

Eu percebo isso há 40 anos, e basta olhar para o meu círculo de amigos da juventude espírita para constatar essa obviedade: quase todos são adultos de direita, a imensa maioria conservadores e moralistas e uma parcela menor – porém ativa – de reacionários e protofascistas. Muitos garotos maravilhosos da juventude espírita hoje estão nesse último grupo e desfilaram com a camisa da seleção fazendo coro aos gritos misóginos contra Dilma, aplaudindo os paladinos Moro e Dalanhol, e agora apoiando Bolsonaro e sua milícia.

Desta forma, o espiritismo, em que pese sua visão reencarnacionista e teoricamente progressista, em nada difere dos evangélicos, pentecostais, dos protestantes e dos católicos. São todos um grande grupo de conservadores cheios de culpa cristã, direitistas e muitos deles francamente alienados. O espiritismo jamais conseguiu produzir em seus seguidores uma mentalidade progressista, socialista, anticapitalista, mesmo quando as sociedades espirituais descritas em livros espíritas muito se assemelhassem a sociedades de caráter comunista – como Nosso Lar.

Entretanto, no meu modesto ver, o espiritismo se baseia em três premissas básicas e inalienáveis, sem as quais perde sua essência:

1- A existência de Deus
2- Pré-existência e sobrevivência da alma
3- Reencarnação.

É só isso, nada mais. O espiritismo não tem nada a dizer sobre modelos econômicos, sobre aborto, sobre feminismo, sobre ditaduras, sobre economia, sobre sexo, sobre casamento gay ou sobre quaisquer questões mundanas. O espiritismo pretende provar a existência de sentido universal (Deus), que a alma é imortal, que precede a vida e se mantém depois dela. Mais ainda, que a reencarnação é um método pedagógico de crescimento intelectual de um espírito entendido como imortal. Nada além disso.

Os postulados espíritas apenas muito indiretamente influenciam a “moral”, e eles seriam apenas acessórios de uma solução que pode ser buscada mais facilmente nesse mundo, sem precisar de recursos transcendentais.

Sim, a sobrevivência da alma nos deveria fazer abandonar as posturas punitivistas por entender que não existem espíritos cujos erros seriam imperdoáveis. No grande cenário, ninguém está livre de cometer crimes terríveis. Dou mais um exemplo: a ideia das múltiplas encarnações em gêneros diferentes poderia nos oferecer uma complacência maior com as opções de orientação e identidade sexuais. Todavia, os espíritas conservadores usam o argumento de que a orientação “desviante da norma” e a identidade “diversa da biologia” são provas e expiações que o espírito deve enfrentar para “vencer as provações”, suplantando suas “más inclinações”. Acreditem, escutei muito isso em casas espíritas, onde a “sublimação do pecado” era a tônica.

Desta forma, até a perspectiva progressista evidente dos gêneros vicariantes sucumbe diante do moralismo conservador e cafona inexorável do espiritismo cristão.

A ideia de Deus no espiritismo está expressa nos escritos de Kardec, e recebe do professor Hippolyte a questão primeira do “Livro dos Espíritos”, obra principal que funda o espiritismo. Todavia, seria lícito imaginar um espiritismo fiel à ideia de sobrevivência da alma e da reencarnação – entendidas como leis naturais, como a lei da gravidade e a reprodução – mas que fosse independente da ideia de um Criador?

Eu acho que sim, mas creio que isso produziria um conflito lógico complexo ao se perguntar “Ok, mas para quê? Por qual razão manter o espírito imortal? Por que voltar a nascer? Qual o sentido último da reencarnação se não houver um objetivo, qual seja, a depuração de nossas falhas?” Desta forma, para que a reencarnação e a imortalidade da alma fizessem sentido, seria fundamental dotá-las de propósito e direção, que a ideia de uma “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” é capaz de oferecer.

O resto que vemos do espiritismo contemporâneo emerge da impregnação religiosa que nos foi deixada como legado pelo sincretismo, o que tornou o espiritismo (lamentavelmente) uma seita cristã, repleta de códigos de condutas morais e cheio de culpas e remorsos – como de resto todo o cristianismo. Por isso a obra de Chico Xavier é cheia dessas referências moralistas – em especial quanto à expressão da sexualidade – e hoje profundamente defasada. Também por essa razão as casas espiritas são tão marcadamente conservadoras.

Todavia, esse torniquete comportamental não é a função do espiritismo, que deveria ser tão somente uma ciência e uma filosofia que considera a experiência material que vivemos como uma das muitas etapas de transformação do sujeito espiritual.

Por isso eu me incomodo há tantos anos com o conservadorismo e o moralismo dos espíritas, em especial porque os palestrantes e figuras exponenciais adoram ditar regra sobre a moral alheia, em especial a sexualidade. Infelizmente o espiritismo teve em seu criador (sem essa de “codificador”) um católico austero e severo do século XIX, que impregnou de cristianismo seu trabalho. Essa opção por Jesus, ao mesmo tempo que disseminou sua obra na carona das palavras do Cristo, hoje cobra um alto pedágio, pois o espiritismo estaria muito melhor enquanto ciência e filosofia sem a presença incomoda da cristolatria.

Já escrevi muito sobre o conservadorismo das personalidades espíritas – do Chico Xavier apoiador da ditadura ao Divaldo Franco que exaltou publicamente a “República de Curitiba” et caterva – mas acredito que esse é um traço dos espíritas (pelo viés da religião e da moral cristã) e não do espiritismo enquanto doutrina. Este, na minha modesta visão, não deve se ocupar das coisas da Terra, seus costumes e suas regras. O verdadeiro espírita se preocupa apenas com a tríade de sustentação da doutrina: Deus, imortalidade da alma e reencarnação. O resto é debate mundano; fundamental, por certo, mas que cabe aos encarnados resolverem, e não aos espíritos.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Três pontos sobre espiritismo e aborto

Coloco aqui três pontos simples que explicam as razões pelas quais ser espírita não invalida um posição favorável à descriminalização do aborto:

1- É possível ser espírita e ser também a favor da legalização do aborto por razões de saúde pública. Não há mais como aceitar mulheres morrendo porque o aborto é criminalizado e estigmatizado. Chega. Ninguém é “a favor do aborto”, mas muitos consideram que esta ação está dentro das opções que uma mulher pode fazer sobre seu próprio corpo.

2- Espiritismo, como sempre afirmou Kardec, não é uma religião e nunca pretendeu sê-lo. A “religião espírita” é uma construção que ganhou estímulo – em especial no Brasil – fruto do sincretismo religioso com o cristianismo, o qual foi um legado deixado pelo próprio Kardec.

3- Espiritismo fala de leis naturais, e não há nada de sobrenatural em seus postulados. Qualquer extrapolação moral está inserida em seu tempo e tem valor limitado. Reencarnação, comunicabilidade entre planos e sobrevivência da alma não são pautas morais. A descriminalização do aborto é uma escolha pela vida. Ponto.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos, Religião

Psicologia Espírita

Eu não acredito na existência de “Psicologia Espírita”, nem de “Medicina Espírita” e tampouco creio na existência de uma “Arte Espírita”‘. Pelas mesmas razões, acho que não existe uma psicanálise com essa adjetivação. Creio que o espiritismo apresenta um sistema lógico para a compreensão da realidade espiritual, mas não oferece um sistema terapêutico próprio. Terapia reencarnacionista não é terapia espírita, até porque o espiritismo não é o proprietário da ideia da reencarnação – que existe em muitas outras doutrinas e tradições. E por fim, o tratamento do inconsciente parte dos imbricamentos do discurso do analisando, os quais são interpretados pelo analista, mas não cabe a este profissional tirar conclusões a partir de suas crenças nas vidas passadas, mas apenas do material simbólico trazido pelo sujeito em análise.

É importante definir o que entendemos por “tratamento espiritual”. Pela minha experiência, o que vi durante décadas frequentando Casas Espíritas, este tipo de tratamento não passa de ajuda oferecida por pessoas despreparadas para a escuta das dores psíquicas de um sujeito, fazendo pregações de ordem moral – e moralista – para espíritos em sessões mediúnicas.

Perguntas: Qual a diferença de fazer escuta do sofrimento psíquico de um espírito desencarnado ou de um encarnado? Por que achamos que escutar um “morto” que chora e está desesperado pode ser feito por qualquer pessoa de bons sentimentos em uma casa espírita? A “terapia espiritual” se baseia nesses chavões, nessa “boa vontade”, nos conselhos compassivos e nesses discursos vazios? As pessoas que tomam para si a tarefa de ouvir o sofrimento alheio (mortos ou vivos) não deveriam ser capacitadas para isso? Não é verdade que uma escuta preconceituosa e moralista pode causar tragédias? Quantas destes desastres estaremos fazendo em casas espíritas por falta de preparo de pessoas movidas por boa vontade ou por não reconhecerem a arrogância e vaidade dos “diretores de sessão” e seu desejo de serem reconhecidos como “curadores de espíritos”.

Outro ponto importante: quando falamos de problemas obsessivos de “mortos” e esquecemos que as verdadeiras obsessões estão entre os vivos. Não consigo perceber diferença alguma entre as influências espirituais e as materiais por um aspecto simples e fácil de entender: só existe obsessão se existir sintonia!! Você só encontra obsessores no seu caminho se estiver sintonizado em sua frequência vibratória – sejam eles desse mundo ou de outro. Portanto, qualquer tratamento só poderá enfocar o próprio SUJEITO, pois que este quando estiver equilibrado afastará qualquer influência maléfica externa que porventura puder influenciá-lo.

É uma ação meramente escapista – tipicamente exonerativa – responsabilizar elementos outros que não sejam afeitos apenas ao sujeito sofredor. Colocar a culpa de nossas mazelas nos “obsessores” é a mesma manobra ingênua de dizer que uma pessoa se desvirtuou por causa das “más companhias“.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Espiritismo e Racismo

Seria absurdo imaginar que a doutrina espírita não estivesse embebida no caldo cultural do século XIX. Está foi a época áurea do colonialismo europeu em África e Ásia, o qual causou milhões de mortes e produz repercussões até os dias de hoje.

Seria surpreendente que Kardec, diferentemente de todos os pensadores europeus do seu entorno, tivesse uma posição diferente do racismo “científico” de sua época. Esta vertente do modo de pensar do século XIX desembocou na eugenia que invadiu ainda boa parte do século XX e contaminou o pensamento de inúmeros literatos, cientistas e pensadores de várias áreas, em especial a medicina.

Portanto, o espiritismo nascente era mesmo racista, como era toda a cultura europeia no tempo de seu surgimento. Não há porque negar este fato. Por outro lado, é necessário fugir do anacronismo simplório e entender qualquer sujeito e todo ramo de conhecimento inseridos nos valores vigentes em seu período de aparição. Criticar o espiritismo de meados do século XIX usando as regras de hoje não é correto ou justo.

Cabe aos espíritas atuais não apenas rejeitarem este racismo, mas serem vigorosos combatentes anti racistas exatamente pelo estudo do ideário espírita, que ao desvendar a realidade do espírito deixa qualquer diferença moral e intelectual de raça e gênero como sendo tola e sem sentido.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Espiritismo e cristolatria

Jesus foi um ativista político, um revisionista da religião judaica. Basicamente um judeu falando de judaísmo para outros judeus. Toda a construção do Jesus mitológico, que o trata por “Espírito de luz”, “Deus encarnado”, “Salvador da humanidade”, “aquele que morreu por nossos pecados” etc, parte de construções humanas, históricas, geopolíticas e pouco têm a ver com o Jesus histórico da Palestina. Em verdade a própria existência desse personagem é contestada por inúmeros pesquisadores e estudiosos do tema.

Vejo hoje a necessidade de parar de contar pequenas e grandes mentiras usando como desculpa a ideia de que os espíritas são “imaturos demais para entender a verdade”.

Não veio razão em tratar adultos como crianças. Creio que o espiritismo foi criado para adultos, sujeitos maduros, que não necessitam mais histórias de Jesus “espírito de luz”, “pátria do evangelho”, “arquitetos do planeta”, ou quaisquer outros misticismos que se estabelecem sobre fantasias. Jesus foi uma pessoa absolutamente comum, como eu ou você, que pretendia ser o libertador da Palestina do jugo romano. Provavelmente um “Messias” pouco importante diante dos mais de 400 auto proclamados libertadores do povo hebreu que surgiram naquela época. Já a figura de Cristo foi construída após sua morte e não tem nada a ver com o judeu que pregou sobre sua religião. Qualquer coisa além disso é pura imaginação; é criar uma figura mítica desconectada daquilo que a história nos oferece dele.

Eu entendo quando não se desfaz a ilusão do Papai Noel ou do “Jesus Filho de Deus” para crianças sem aguardar que estejam prontas para a mudança de entendimento sobre estas figuras, mas manter essas visões infantilizantes nas bordas da adolescência é inútil e desrespeitoso, pois não é justo tratamos adultos como seres incompetentes para encarar a verdade. A ideia de um velhinho que – por bondade e amor – traz os presentes a todas as crianças no Natal é por demais sedutora e satisfaz as necessidades de aceitação das crianças. Todavia, se você insistir com a visão fantasiosa do “bom velhinho” depois de uma certa idade ela vai desconfiar de suas intenções e se ofender com sua atitude.

É hora dos espíritas abandonarem o cristianismo. Ele é sectário, branco, eurocêntrico, ocidental e não contempla a diversidade e a abrangência que precisamos num mundo globalizado. Cada vez que eu escuto falar de Jesus como o “filho dileto do criador” eu lembro dos meus irmãos chineses e seus milhões de compatriotas que não tem necessidade alguma de suas palavras, sua mensagem e sua existência – mítica ou histórica. Por que insistimos nesse mito medieval???

A conexão do espiritismo com a figura de Jesus teve um efeito paradoxal. Se por um lado nos alia a uma parcela do planeta – europeia e ocidental – em sua visão teleológica e moral, por outro lado nos afasta de todo o resto do mundo que poderia se beneficiar de uma filosofia e ciência que se dedica a estudar a manutenção do princípio espiritual para além do momento da morte física. Entretanto, foi exatamente esta amálgama entre a ciência do espírito e a religião que lhe conferiu a popularidade que hoje desfruta em um país como o Brasil. Aquilo que hoje tanto me incomoda – a persistente cristolatria – é o que manteve as ideias de Kardec vivas em boa parte do mundo.

Por outro lado, é óbvio que o espiritismo não precisa de uma visão “moral”, “cristã” e “religiosa” da mesma forma como a lei da gravidade de Newton não precisa de um culto místico ou de um ser espiritual diretamente conectado com Deus para que as pessoas aceitem a gravitação como uma lei importante para o entendimento do universo. O espiritismo é a ciência do espírito, mas o que encontramos nas casas espíritas é uma exaltação dos valores morais ocidentais, da contenção da sexualidade e sua domesticação (as obras de Chico e Divaldo são gigantescos tratados sobre sexualidade reprimida) e de identidade cultural.

No meu modesto ver, o espiritismo muito ganharia se desprendendo dessas amarras religiosas e dessa vinculação com os mitos cristão, assim como a própria figura do Cristo.

Deixe um comentário

Arquivado em Sem categoria

Kardec e o Racismo

images-15

O racismo (inquestionável ao meu ver) de Allan Kardec, criador do espiritismo, foi abordado por alguém em uma conversa recente, mas foi posteriormente deletado por ter gerado muitas reações “acaloradas”. Eu não vejo nenhum problema em questionar essas figuras históricas à luz de novas ideias e visões de mundo.

Apesar do Espiritismo não ter sido criado para ser uma religião, mas um suporte às religiões, ele acabou se tornando uma espécie de “seita cristã”, em especial pelo seu florescimento no Brasil, um país marcadamente cristão.

Todas as religiões são construções humanas, e o espiritismo não poderia fugir à está regra. Não existe nada na cultura que não seja derivado de necessidades humanas. As religiões monoteístas são criações das sociedades antigas para envolver de magia e transcendência ordenamentos sociais adaptados à época em que floresceram. O “racismo” de Kardec pode (deve) ser criticado hoje, mas na época em que foi escrito não causou nenhum alarde. Minha tese é que estas características e perspectivas de mundo não podem ser divorciadas do seu tempo. É necessário fugir do anacronismo dessas condenações.

Lembre que no século XIX estava no auge o colonialismo europeu em África e existia um consenso “científico” sobre a inferioridade intelectual dos negros. Não se trata de perdoar ou passar a mão, mas entender em que contexto estas obras foram escritas. É a mesma crítica que se faz à homofobia de Che Guevara; seus comentários ocorreram nos anos 60 quando “homossexualismo” era considerado uma doença degradante. Portanto, é importante mostrar essas contradições, mas ao mesmo tempo entender que se tratam das inconstâncias e contradições de um homem diante dos valores do seu tempo.

Como deveríamos julgar alguém sendo criticado por “escravizar sexualmente seu parceiro” por exercer a monogamia, quando esta tiver sido extinta no século XXIV?

Devemos acusar também Vinicius de Morais, Fernando Pessoa e Humberto de Campos por suas posturas abertamente racistas, e pela misoginia que aparece em seus textos?  Ou entender que a obra deles só pode ser entendida no contexto em que viveram?

Deixe um comentário

Arquivado em Religião