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Gênesis

É evidente que aqui não há nenhuma novidade: a novela da Record que fala do Gênesis da Bíblia recebeu críticas por ser “machista”. Mas eu pergunto: é sério que alguém acha possível que uma novela sobre o surgimento da humanidade num livro patriarcal e machista como a Bíblia poderia ser diferente? Acham mesmo que haveria como fazer uma versão “inclusiva”, “neutra” ou “feminista” da criação do mundo como narrada nos textos do velho testamento?

E se fizessem, não seria uma monstruosidade ainda maior???

Vamos ser justos; não se pode cobrar da Bíblia que suas metáforas não refletem os valores do mundo de hoje. O que se pode fazer a respeito de uma obra que celebra a visão do nascimento da humanidade sob a ótica do patriarcado nascente é não assistir – como eu faço – mas é absurdo pedir que um monumento ao patriarcado seja transformado no seu oposto, perdendo totalmente sua essência.

Em uma crítica que apareceu nas redes sociais um articulista usa o argumento do “anacronismo” das visões machistas da novela, mas para mim o faz de forma totalmente equivocada. Diz ele: “É simplesmente inaceitável que, em pleno 2021, com mulheres em postos de comando em todo o planeta, uma obra de grande apelo popular insista nesse tipo de mensagem”.

Pois eu afirmo que NÃO HÁ como mudar as histórias e as alegorias da Bíblia sem acabar com ela. Existem versões humorísticas como o sensacional “A Vida de Brian”, do Monty Python, os os vários esquetes da “Porta dos Fundos” (ao meu ver também hilários), mas eles não se propõem a fazer uma novela sobre o Gênesis, a Vida de Cristo ou sobre os 10 Mandamentos, apenas paródias críticas sobre estas histórias – o que me parece sempre super válido.

Retalhar uma obra escrita há centenas ou milhares de anos é algo criminoso. Para mim é como fazer um filme sobre Moby Dick de Herman Mellville – mantendo todo o enredo e todos os personagens – mas mudar o final da nova versão fazendo o Capitão Ahab ficar amigo da baleia e não tentar matá-la, pressionado pelos ativistas da vida animal e até pela ameaça de boicote protagonizada pela PETA. Quem sabe até reescrever o “Sítio do Pica-Pau Amarelo” e transformar a tia Anastácia na proprietária do mesmo, para fugir do estigma de inferioridade social da população negra. Ou mesmo proibir obras controversas como Lolita pelo seu conteúdo sexual.

Não se pode fazer isso com obras artísticas; elas são representantes dos valores que circulavam pelo campo simbólico de sua época. Critiquem seus conteúdos, denunciem suas amarras aos preconceitos do tempo em que foram escritas, mas não as mutilem para servir aos propósitos de outros momentos e contextos.

A Bíblia é mesmo assim, e só o que se pode fazer é deixar claro que se trata de uma alegoria escrita há milhares de anos, cujas metáforas só podem ser lidas de forma simbólica, e que este livro carregava valores sociais bastante diversos daqueles que valorizamos agora.

Para ler o artigo referido, clique aqui.

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Feriadão de Obstetra

Feriadão

Ebaaaa, Feriadão!!!
Sair, relaxar, viajar…
“A gente não quer só comida a gente quer diversão, balé!!!”

Jogar conversa fora, namorar, levantar tarde, se espreguiçar sem pudor. Botar aquela camisa velha e furada e tomar café da manhã de pijama e chinelo.

Ou então só ficar em casa descansando, sem culpa de saber-se inútil..

Arrumar as gavetas, escrever, postar no Face, assistir TV. Quem sabe sair para comer fora, ou ficar em casa e fazer um mega sanduíche indecente. Comer sorvete no pote, fazer um “espresso” e abrir um pacote de amendoim.

Talvez apenas visitar meu neto, contar uma história, brincar de esconder, escutar suas frases curiosas ou soprar o joelho e secar suas lágrimas quando cair no chão.

Não, melhor ler um livro. Abrir aquele da Elizabeth B. que você encomendou e ainda não leu. Ou o outro que começou e não conseguiu terminar. Talvez ir até a livraria do shopping e escolher algo que sua intuição aponte, um livro que trará nas letras algo que seu coração desordenado já dizia.

Ouvir música, quem sabe. Deitar-se de barriga para cima no quarto, sem tirar o sapato, e colocar uma coletânea de rock progressivo dos anos 70. Começarei com Tony Banks, depois Anthony Phillips e então Steve Hackett. Posso migrar para Yes, “Turn of the Century” e depois… escutar James Taylor e me sentir um adolescente que recém descobriu a paixão.

Nada disso. Vou visitar meus pais, aproveitar ao máximo todas as chances de encontrá-los, trocar ideias, escutar sua sabedoria e me deliciar com a possibilidade de, mesmo já velho e também avô, receber um puxão de orelhas do meu pai e um carinho de minha mãe.

Pensando melhor, quem sabe eu poderia simplesmente….

– Alô? Sim, é ele quem fala. Como vão as coisas? Claro. E que horas rompeu a bolsa? Ok, estamos indo para o hospital. Nos encontramos lá. Fique tranquila, chegou o dia tão esperado!

Onde eu estava mesmo? Ah, sim o Feriadão! Pensei em outra possibilidades. Quem sabe eu…

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