Ahh, como eu te amo Facebook, paraíso das frases feitas, dos conselhos para desmerecer conselhos, da autoajuda, da glorificação do sujeito, da imagem própria fátua e gloriosa no espelho da tela, das imagens retocadas, dos recados cafonas em guardanapos, dos textões, das indiretas, das comidas ajeitadas, das fotos na praia, da Turrefél ao fundo da foto, da roupa suja lavada em público, dos linchamentos de personalidades, das citações, das lacrações, dos comentários políticos, das ideias geniais, da foto do diploma, dos cortes de cabelo, das poesias, dos xingamentos, das frases bíblicas, dos ateus proselitistas, das dores morais, dos arrependimentos, das imagens de casais e suas juras de paixão eterna, o carro novo, o livro que está lendo e suas páginas sublinhadas, as fotos de biquíni, as fotos na academia, das resenhas, dos cancelamentos, da ironia, das ofensas dissimuladas, da inveja, da saudade de quem se foi, dos lugares comuns escritos com sofisticada empolação, das declarações desabridas de amor, das paixões incontidas, das teses longas que ninguém lê, das fotos antigas do tempo do colégio, das homenagens aos pais, das fotos da mulher quando era mais jovem, os gatinhos, os cãezinhos, os bebês, os netos, a casa e o quintal, as fotos antigas do marido sem barriga, das conquistas dos filhos, dos memes, dos clipes de música e da alienação dolorida, brilhante e colorida que se choca contra nossa retina tão logo toca o despertador do celular.
Existe um caloroso debate acerca dos fatos acerca da vida de Jesus de Nazaré, isso porque os indícios de sua existência real não são conclusivos e não conseguem convencer os estudiosos mais céticos. Presume-se, entretanto, que esse personagem foi apenas um entre mais de 400 conhecidos e autoproclamados “Messias” da Palestina no período de dominação de Roma, cujo objetivo principal era tão somente libertar o povo miserável da Palestina do jugo do Império. Todos eles, inclusive o filho de José e Maria, falharam de forma inquestionável e foram sacrificados por seus dominadores. Jesus sequer foi o mais importante em sua época; como diz Reza Aslan, autor do livro “Zelota” que busca analisar os passos deste galileu que teria vivido entre nós há cerca de 20 séculos, “tivéssemos jornais diários naquela época é bem possível que sua execução ocupasse tão somente uma pequena nota no pé da página policial“.
Por outro lado, sabemos bastante sobre o Jesus mítico, por certo, mas ao analisarmos sua existência através dos textos bíblicos é possível encontrar em sua trajetória uma variada compilação das crenças da sua época, uma mistura rica de tradições de várias partes do mundo antigo, desde tradições egípcias, gregas e romanas até persas e babilônicas. Do ponto de vista histórico o Jesus “homem” é uma curiosidade que dura quase 2 mil anos, mas o filho de Deus foi uma criação coletiva que se adaptou às necessidades humanas do tempo em que foi forjada.
Minha percepção é que o “Jesus histórico” realmente existiu e era o que se pode chamar hoje de um reformista do judaísmo, alguém que desejava a transformação da religião judaica por dentro, um judeu falando das crenças judaicas exclusivamente para judeus, visto que Jesus nunca se referiu a outro povo que não o seu durante toda a sua vida. A ideia de levar sua mensagem aos gentios nunca foi dele, mas de seu seguidor Paulo de Tarso. Assim, o cristianismo tal qual o conhecemos, é uma mistura do apóstolo visionário Paulo com a incorporação desta religião pelo Império Romano do Oriente, através de Constantino, mas quase nada tem a ver com o revolucionário libertador que porventura tenha caminhado pela Palestina.
Inobstante os acalorados debates sobre a figura de Jesus, muito mais importante do que a descoberta desse sujeito que perambulou pela aridez Palestina há 2000 anos é a sua mensagem. Para um observador isento de preconceitos, é fácil perceber que as histórias da Bíblia precisam ser entendidas através de uma exegese profunda e sofisticada, olhando para os fatos narrados como ensinamentos e metáforas que carregam valores e ideias, e não como a descrição factual de acontecimentos. Essa é a essência dos livros “sagrados”, e por isso eles sobrevivem por milênios. Desta forma, o que se encontra na Bíblia, no Corão e no Bhagavad Gita não pode ser alvo de uma leitura histórica, fundamentalista e literal – pois isso seria uma perversão do sentido original de sua escrita – mas de um mergulho profundo nos valores e signos de sua época, para que possa ser entendido em seu contexto e significado profundos.
É por isso que durante minha vida inteira sempre tive um dúvida sincera: será que o Papa ou membros dos altos círculos da Igreja acreditam mesmo nesses milagres descritos no velho e novo testamentos, na multiplicação de tilápias, na transformação de água em vinho, na concepção virginal da mãe de Deus, no Cristo redivivo ao terceiro dia, nas curas, etc? Ou será que eles sabem – por serem homens de rara erudição – que tais descrições bíblicas não passam de belas alegorias, ficções escritas mais de um século após decorridos os fatos, exemplos de vida, valores morais, metáforas e histórias cheias de ensinamentos que servem apenas para oferecer um sentido ao caos da existência, mas que por sua força coercitiva e de coesão social funcionam como um cimento cultural poderoso para a formação de identidades?
Este dilema dos poderosos que controlam o cristianismo sempre me faz lembrar um filme do anos 80, um épico de extrema direita chamado “Desejo de Matar”, com Charles Bronson. Depois de ver a esposa sendo morta e a filha estuprada por um grupo de bandidos (claro, todos imigrantes escurinhos e latinos) o heróis vingador do filme resolve se vingar dos elementos que produziram sua desgraça pessoal. Movido por um ódio imparável, e sendo um veterano da Guerra da Coreia, ele conhecia “as manhas” do ofício de matar, mas teve agir à margem da lei. “Desejo de Matar” foi um dos mais importantes filmes do gênero “vigilante”, sujeitos que tomam a justiça pelas próprias mãos por reconhecerem a incapacidade do sistema judiciário de livrar a sociedade dos maus elementos. O filme, como se pode facilmente apreender, é um libelo fascista, que descreve a luta de “gente de bem” contra vagabundos que invadem e promovem a degenerescência dos valores americanos. Depois de muito treinar com a ajuda de um amigo ele encontra os meliantes e se inicia uma carnificina. Na luta, mesmo ferido, ele consegue matar um a um todos os criminosos e consumar sua vingança, até ser pego pelos seus policiais que estavam à caça do “justiceiro”
No hospital acontece a fala mais brilhante do filme. Os oficiais da polícia confidenciam a ele que houve uma diminuição significativa na taxa de crimes desde que ele iniciou sua busca por vingança. Sua prisão, portanto, de nada serviria à polícia. Os criminosos da cidade estavam com medo do “vingador”, e por isso refrearam suas intenções criminosas. Por este fato, os tiras decidiram se calar e não revelar publicamente sua prisão, preferindo deixar o mito vivo e à solta. Assim, ele foi avisado que nenhuma queixa seria dada e que poderia voltar para casa, desde que abandonasse a cidade para nunca mais voltar.
Ou seja: apesar de ser um criminoso ele cumpriu a importante tarefa de estancar a sangria de crimes na cidade. Um delinquente, um assassino frio e violento, um justiceiro cruel e um animal ferido, mas que cumpriu uma importante função social – a eliminação de vários criminosos e a instalação de um clima de medo entre os que ficaram. Como é fácil perceber, um filme típico da sociedade americana dos anos 70, assustada com o índice de criminalidade urbana, que pretendia justificar a violência tratando os policiais como heróis e os criminosos como uma casta de perversos e degenerados, acusando as leis de apenas ajudarem os meliantes e limitarem a ação da justiça. Suco de fascismo concentrado.
Aqui é que eu estabeleço minha analogia: Não estaria o Papa diante do mesmo dilema? “Eu sei que tudo isso é mentira, que são apenas histórias, que nada é passível de confirmação. Sei também da história terrível da Santa Sé, dos seus delitos horríveis, do poder e da corrupção. Sei dos malfeitos repreensíveis que colorem de sangue sua história. Todavia, reconheço a importância que estes mitos desempenham na coesão dos fiéis, em nome da Santa Igreja, de Jesus – o Cristo, e da Santíssima Trindade. Por entender isso, melhor calar-me diante do que sei, vejo e sinto. É melhor manter o mito vivo e à solta, porque isso exerce um controle moral sobre o rebanho“.
Hoje me aconteceu algo curioso. Recebi do Facebook uma mensagem estranha: “Seu pedido de inscrição no grupo ‘Religião para quê?’ foi aceito”. Cliquei no link e vi que se tratava de um grupo ateísta. Na sua página inicial fala do “mal que as religiões causam ao mundo”, mas curiosamente estes grupos se expressam como se fossem religiões comuns, com seus dogmas, explicações totalizantes, visões unívocas e o desejo explícito de culpar o vizinho do lado – as outras religiões – por todas as tragédias do mundo.
Meu primeiro – por certo, o último – post no grupo é este que se segue:
“Caros irmãos ateus, unidos pelo amor de Richard Dawkins, cultuadores da razão e da lógica ateia. Venho perante vós perguntar: se eu não me inscrevi nesse grupo… como pude ser aceito? E, se é possível ser sincero, acho que o conceito positivista e ingênuo do grupo está muito distante da visão que tenho das religiões. Explico…
As religiões são artifícios criados pelos homens para a compreensão de mistérios insolúveis pela ciência. São parte do conhecimento compartilhado pela humanidade e cumprem uma importante função social. Elas não são “A verdade”, mas são modelos de entendimento, formas de perscrutar o insondável.
A fé – um elemento aquém da racionalidade – é a água que corre sob o solo rochoso da razão. Essa água percorre todo o planeta e é igual em todas as latitudes, enquanto as religiões são os poços criados para atingir os mananciais profundos. Os orifícios que atravessam o solo duro da razão são distintos entre si, dependendo do tempo e do espaço; são obras da cultura onde estão inseridos. Entretanto, buscam sempre o mesmo: a água da fé, a compreensão dos sentidos cósmicos, a busca pelas razões primeiras e a direção do porvir. Enquanto houver dúvida e desconhecido haverá modelos que buscam nos oferecer uma explicação coerente.
Por esta razão, as religiões são eternas e imortais, mas não imutáveis. Tanto quanto qualquer criação humana elas se transmutam, se contorcem e se modificam para adaptarem-se a novos tempos. Não há como existir uma ciência que dê conta de todas as perguntas, todas as dúvidas existenciais, e que ofereça a explicação completa. Para sempre há de existir uma pergunta sem resposta, uma dúvida não satisfeita um vazio de compreensão. No entanto, diante da avalanche de novas evidências, até os Papas aceitam o darwinismo e reconhecem em Adão e Eva um casal alegórico.
Religiões são, desta forma, idiomas que nos conectam uns com os outros para com eles dividirmos as angústias do não-saber. Como qualquer língua, entendemos e falamos para aqueles que compartilham da nossa compreensão. Por vezes achamos as outras línguas estranhas e até incompreensíveis; algumas são para nós bizarras, indecentes ou até perversas. Todavia, algumas delas, de tão semelhantes, são quase idênticas àquelas que falamos.
Alguém poderá nos dizer: “Mas eu não preciso desse idioma, algo externo a mim. São línguas atrasadas e sem sentido”. Perfeito, não é necessário falar por nenhum idioma, mas isso serve para aqueles que não compartilham dúvidas, perguntas, ideias e uma aguçada curiosidade sobre o significado último do Universo. Caso você tenha uma perspectiva especial sobre isso, por certo que muitos outros tem a mesma visão teleológica e gostariam de falar neste mesmo “idioma”.
Já a ideia de que as religiões fazem “mal ao mundo”, é totalmente tola e infundada. Nunca houve guerras motivadas por elas, mesmo que sejamos ensinados a ver isso por alguns observadores pouco atentos. As guerras seguem um determinismo econômico, lutas de poderes e interesses geopolíticos. Somente ingênuos acreditam que as Cruzadas eram motivadas pela libertação da “Terra Santa”, que católicos e protestantes se digladiaram na Irlanda ou que judeus e muçulmanos se atacam na Palestina ocupada. Essas guerras tem claros interesses econômicos, fortes motivações políticas e sua face religiosa serve como propaganda ou para mascarar interesses muito mais materialistas do que o resgate de lugares sagrados ou a supremacia de um credo sobre outro.
As religiões são um conjunto de histórias, relatos e revelações onde depositamos nossos valores, e não de onde retiramos ensinamentos ou regras. O mesmo Corão onde encontramos violência está repleto de proposições pela paz e pela compreensão, assim como para o amor e o perdão; o mesmo encontraremos na Bíblia ou no Bhagavad Gita. Por isso mesmo são retratos completos de uma era, que nos oferecem a possibilidade de buscar o que nós queremos encontrar, dependendo daquilo que somos ou desejamos.
Religiões são construções humanas, escritas por homens, publicadas para os homens da Terra, em diversos momentos da história. São ricos repositórios do conhecimento alegórico humano, de nossa história, nossos valores e nossas aspirações. Religiões foram criadas para resolver problemas mundanos e para nos oferecer explicações hipotéticas sobre o funcionamento do Universo. Elas não são boas ou más; são coleções gigantescas de valores onde as pessoas – boas ou más – podem fazer perguntas e receber respostas que as satisfaçam.”
Segundo Joseph Ratzinger, “o conceito de casamento homossexual está em contradição com todas as culturas da humanidade”.
Não vou me deter a pesquisar a totalidade das culturas do mundo para avaliar a veracidade dessa afirmação porque ela me parece irrelevante. O mundo todo já acreditou na Terra plana e tivemos a ousadia suficiente para romper com estas crenças guiados pela luz de novos conhecimentos. Já acreditamos na Lava Jato, que ocorreu há poucos anos, e pudemos ver sua falsidade. Por que haveríamos de manter crenças anacrônicas sobre a sexualidade que, como uma roupa velha, já não nos servem mais?
A visão que as sociedades humanas até hoje tiveram da sexualidade não precisa ser uma cláusula pétrea para o comportamento sexual. Ela foi forjada na vigência do patriarcado e tinha funções que já não condizem com a cultura contemporânea. Diante de novas descobertas, e da evidente decadência do patriarcado – além das pressões pela livre expressão da sexualidade – o mais justo é rever posturas antigas e recalcitrantes, que nada ajudam na felicidade e na realização dos sujeitos sexuais.
Sugiro ao Papa que deixe de lado seus bloqueios e se permita perceber o mundo por cima de sua perspectiva dogmática. Sua Bíblia já foi por tantas vezes confrontada com os avanços humanos e esta não seria a primeira vez, e nem de longe a última, que seria necessário rever suas orientações.
É evidente que aqui não há nenhuma novidade: a novela da Record que fala do Gênesis da Bíblia recebeu críticas por ser “machista”. Mas eu pergunto: é sério que alguém acha possível que uma novela sobre o surgimento da humanidade num livro patriarcal e machista como a Bíblia poderia ser diferente? Acham mesmo que haveria como fazer uma versão “inclusiva”, “neutra” ou “feminista” da criação do mundo como narrada nos textos do velho testamento?
E se fizessem, não seria uma monstruosidade ainda maior???
Vamos ser justos; não se pode cobrar da Bíblia que suas metáforas não refletem os valores do mundo de hoje. O que se pode fazer a respeito de uma obra que celebra a visão do nascimento da humanidade sob a ótica do patriarcado nascente é não assistir – como eu faço – mas é absurdo pedir que um monumento ao patriarcado seja transformado no seu oposto, perdendo totalmente sua essência.
Em uma crítica que apareceu nas redes sociais um articulista usa o argumento do “anacronismo” das visões machistas da novela, mas para mim o faz de forma totalmente equivocada. Diz ele: “É simplesmente inaceitável que, em pleno 2021, com mulheres em postos de comando em todo o planeta, uma obra de grande apelo popular insista nesse tipo de mensagem”.
Pois eu afirmo que NÃO HÁ como mudar as histórias e as alegorias da Bíblia sem acabar com ela. Existem versões humorísticas como o sensacional “A Vida de Brian”, do Monty Python, os os vários esquetes da “Porta dos Fundos” (ao meu ver também hilários), mas eles não se propõem a fazer uma novela sobre o Gênesis, a Vida de Cristo ou sobre os 10 Mandamentos, apenas paródias críticas sobre estas histórias – o que me parece sempre super válido.
Retalhar uma obra escrita há centenas ou milhares de anos é algo criminoso. Para mim é como fazer um filme sobre Moby Dick de Herman Mellville – mantendo todo o enredo e todos os personagens – mas mudar o final da nova versão fazendo o Capitão Ahab ficar amigo da baleia e não tentar matá-la, pressionado pelos ativistas da vida animal e até pela ameaça de boicote protagonizada pela PETA. Quem sabe até reescrever o “Sítio do Pica-Pau Amarelo” e transformar a tia Anastácia na proprietária do mesmo, para fugir do estigma de inferioridade social da população negra. Ou mesmo proibir obras controversas como Lolita pelo seu conteúdo sexual.
Não se pode fazer isso com obras artísticas; elas são representantes dos valores que circulavam pelo campo simbólico de sua época. Critiquem seus conteúdos, denunciem suas amarras aos preconceitos do tempo em que foram escritas, mas não as mutilem para servir aos propósitos de outros momentos e contextos.
A Bíblia é mesmo assim, e só o que se pode fazer é deixar claro que se trata de uma alegoria escrita há milhares de anos, cujas metáforas só podem ser lidas de forma simbólica, e que este livro carregava valores sociais bastante diversos daqueles que valorizamos agora.
Cada um constrói Jesus de acordo com suas fantasias. Não há nenhuma forma de descrevê-lo de forma minuciosa sem se basear em pura imaginação. Recorrer à Bíblia é um enorme risco, na medida em que são relatos imprecisos de fatos descritos até um século depois de terem ocorrido.
Aliás, ao meu ver Jesus era precisamente isso: um “judeu falando de judaísmo para outros judeus”. Era um dos muitos (centenas) de Messias que vagaram pela Judeia pregando a libertação do povo judeus do imperialismo romano. Ele jamais falou, durante toda a sua curta pregação, para não-judeus; seu universo sempre foi o espaço entre o mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.
Jesus era essencialmente um reformista da religião judaica e um agitador político ligado aos Zelotas. A ideia de que era um “enviado”, um “Espírito de luz”, “o filho de Deus”, o “próprio Deus encarnado” ou um ser responsável pela “governança do planeta” mistura “wishful thinking” com delírios etnocêntricos, colonialismo europeu (pois foi lá que o cristianismo em todas as suas vertentes floresceu) e o puritanismo. A concepção virginal e o celibato crístico falam muito dessa visão pecaminosa e religiosa sobre a sexualidade.
Seu projeto político, como se sabe, foi um fracasso retumbante, pois que o Messias seria aquele que cumprisse a profecia de libertação do povo oprimido da Palestina – o que só ocorreu 70 anos depois e por pouco tempo. Não só ele, como centenas de outros “Messias” tiveram o mesmo fim. Todavia, tudo o que se diz sobre a vida mundana de Jesus é criação posterior à sua morte, e não há como saber o que realmente ocorreu.
Assim, se Jesus era um judeu comum, com propostas revolucionárias, agindo politicamente na Palestina para a libertação do seu povo, o Cristo é uma criação humana do inconsciente coletivo diante das demandas sociais e políticas do seu tempo. O Cristo foi, assim, moldado diante de nossas vontades e fantasias, guardando pouca – ou quase nenhuma – relação com o jovem judeu que caminhou pela Galileia.
Adam B. Wellington, “Steps on the Sands of Palestine”, ed. Barack, pág. 135 (tradução pessoal)
Adam Burke Wellington é um paleontólogo da Universidade de Hamilton, com mestrado em estudos bíblicos que escreveu vários livros sobre a vida do “Jesus histórico”. Colaborou com a coleção “Avatars” descrevendo o Jesus da Galileia em sua vertente socialista. Seu livro mais conhecido em português é “Sombras do Jordão”, da editora Magiar.
Sou cada vez mais interessado pelo verdadeiro sentido sociológico da religião, que não é a prática do bem, da caridade, a crença na vida após a morte ou nas bem-aventuranças. Religião me parece cada vez mais um idioma; uma linguagem. Um código complexo e detalhado onde colocamos nossos valores contemporâneos e os inserimos entre as palavras escritas.
É por esta razão que os textos sagrados são tão longos, complexos e dúbio – por vezes contraditórios. Eles são assim com um propósito: permitir a entrada de inúmeras visões de mundo, mesma as que são antagônicas. É possível ter opiniões diametralmente opostas e usar a Bíblia ou o Corão para embasá-las.
Religião não é um lugar de onde tiramos conceitos, mas onde os colocamos. Por isso ela muda no tempo e no espaço. A religião, portanto, é uma identidade compartilhada, que funciona para agregar as pessoas em nome de ideias, valores e histórias comuns.
Edward McDuffie, “The gates to Nowhere”, Ed. Printemps, pág 135
Existem seres humanos que merecem perdão; outros não. Quanto a isso não há dúvidas. A listagem de pessoas (e não seus crimes) imperdoáveis não é muito difícil de achar. Todos os sujeitos que cometeram crimes que estão distantes da nossa realidade são imperdoáveis. Furar fila, não declarar imposto corretamente, matar um ladrão (bandido bom é…) não são crimes, quanto mais imperdoáveis, porque qualquer um de nós pode ter tais atitudes.
E não precisa ser um gênio para entender isso. As tradições religiosas estão cheias de exemplos de que o perdão precisa ser seletivo. Não há porque perdoar todos de forma igual como se todos fôssemos iguais aos olhos de Deus. Se isso fosse verdade Ele não criaria pessoas cheias de virtudes (nós) e outros animalizados e perversos, afogados em seus defeitos (os outros).
Foi exatamente o que Jesus disse quando atirou aquela pedra na puta que – evidentemente – não merecia perdão. Peraí que eu vou achar o versículo certinho e vou postar aqui em baixo.
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Achei a parte que fala aqui na Bíblia mas essa que eu tenho é dos Gideões e deve ser uma versão muito recente porque (olha só que absurdo) está escrito que ele NÃO atirou a pedra, o que é um óbvio erro pois Jesus não era bobo nem nada e jamais permitiria que um crime nojento como esse (eu jamais seria uma prostituta!!!) passasse em branco. Eu tenho nojo das traduções mais novas da Bíblia que trocam arbitrariamente as passagens apenas para apoiar petralhas e defensores de direitos humanos (leia-se bandidos).
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Quer saber? Que se lixe a Bíblia. Estou olhando aqui outros posts de Jesus e acho que esse cara fumava um. “Ame ao próximo como a ti mesmo“, ah…. vá se ferrar!! Amar estuprador, assassino, ladrão???? Tá cheirado barbudo???? “Teus inimigos são teus verdadeiros amigos“: bebeu gasolina??? E só piora, agora vi essa aqui: “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem“. Sério que o pessoal não sabe? Um bando de ladrão vagabundo e não sabem o que estão fazendo?
Te larguei pras cobra, Bíblia…
(according to “irony act” of march 2017 this post follows the fundamental principles of post-truth and explicit irony, therefore is under the protection of that presidential bill)
Sei das suas crenças e as respeito, pois um dia também as tive. Quando cito textos retirados das palavras de Jesus e de Deus faço-o para mostrar que a Bíblia é um livro escrito por humanos e para humanos, com valores humanos e não divinos. Qualquer pessoa retira o que bem entender dos livros “sagrados”. Podemos usar qualquer fundamentalismo sobre tais livros , seja ele a Bíblia, o Corão ou o Torá. Podemos olhar as palavras como são, ou interpretá-las da maneira como bem entendermos. É por isso que este e qualquer outro livro “sagrado” não são confiáveis para ditar normas humanas. Eles são num testemunho de histórias contadas há séculos, com valores e personagens daquela época, e que cumpriam funções políticas adaptadas à sua época também.
Quando esprememos a Bíblia e retiramos o sumo doutrinário mais essencial aparecem apenas frases como “amai-vos uns aos outros“, “seja teu falar sim-sim, não-não“, “o amor cobre a multidão de pecado” que, de forma variada, TODAS as outras religiões dizem no seu intento civilizatório de otimizar o esforço de progresso das sociedades humanas através da fraternidade. Portanto, não é necessário submeter-se a senhores, “intermediários de Deus”, para assumir uma atitude fraterna. Eu, pessoalmente, não procuro ser fraterno ou justo porque Jesus ou Buda me pediram ou exigiram, mas somente porque acho justas e corretas tais ações. Um Deus que criou o universo não poderia ter defeitos piores que os meus, como ódio, vaidade, rancor e raiva, mas a Bíblia é recheada de chiliques divinos, típicos de um menino manhoso e mimado, sujeito a ódios e vinganças. Certamente que a Bíblia – e menos ainda o Corão – não me oferece uma imagem adequada de criador.
Contínuo a crer que as religiões atrasam o mundo, e suas crenças mais separam do que unem os homens. A fraternidade não precisa de palavras mágicas ou gurus; ela se expressa como um roteiro natural de progresso humano, superior a qualquer outra forma de relação entre as criaturas. Esta é sua força essencial, e não as palavras de qualquer Avatar.
Eu respeito este tipo de visão de mundo, mas tenho muita dificuldade de entender. Uma coisa que me deixa atônito é os adesivos em automóveis onde pode-se ler: “Propriedade de Jesus“. Como alguém pode se sentir feliz ou orgulhoso por ser propriedade de outro, mesmo que seja um outro supostamente maravilhoso? Eu pergunto: se o seu filho fosse adulto e dissesse “sou propriedade do meu pai” você se sentiria satisfeito, orgulhoso da criação que proporcionou a ele? Você se consideraria um bom pai por ter mantido um filho atrelado a você, dependente de você, idolatrando você, sacrificando-se para agradar as suas vaidades e caprichos? Que tipo de pai acha bonito um filho subir uma escadaria destruindo os joelhos para honrar seu nome? Que tipo de pai acha bonito um filho se humilhar diante de todos confessando sua fragilidade e dependência? Pois eu não consigo entender que o “criador de todas as galáxias e mundos conhecidos” seja mais tolo, vaidoso e egoísta do que o mais mundano dos mortais.
Um Deus poderoso o suficiente para construir o Universo teria que ser pelo menos melhor do que eu. E eu não trataria um filho com tanta displicência como Deus – todo poderoso – trata seus filhos.