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Império em queda

Hoje assisti um vídeo exaltando os Estados Unidos mediante uma estratégia conhecida: o preço mais baixo de produtos como carros, televisores, aparelhos eletrônicos, etc. comparando o poder de compra do trabalhador de lá com os salários pagos aqui no Brasil. O articulista analisava esses valores como se não houvesse um sistema internacional que privilegia a transferência de riqueza para o centro do Império, tornando os produtos lá mais baratos e o salário dos técnicos mais altos. Reduzia a sua análise ao conhecido “o liberalismo produz bem-estar”. Esquecia que a dolarização é o imposto que o mundo inteiro paga para que o cidadão comum americano tenha um poder de compra maior.

É impressionante a incapacidade da nossa classe média de desenvolver consciência de classe. Continuam achando que estão próximos da burguesia e longe dos assalariados e proletários, quando a realidade é o oposto. Enquanto isso, acreditam que os problemas brasileiros, e de resto de todo o sul global, são os impostos excessivos ou os “maus políticos”, como se nos Estados Unidos não estivessem reunidos os políticos mais corruptos do mundo – basta ver o perdão ao filho do presidente Biden, corrupto condenado e que recebeu um indulto imoral e injusto, mostrando que as pessoas não são julgadas de forma equilibrada. As pessoas aqui ao sul do equador não conseguem ver que o valor pago para um trabalhador da construção civil ou para um atendente do Mac Donald’s tem a ver com o dinheiro que circula no país e a transferência de renda para a centralidade do capitalismo, e não com o sistema político ou o valor baixo dos impostos embutidos nos produtos, como carros, televisores, computadores e lanchas. Isso não é sinal de equilíbrio, mas de opulência.

Em Nova York, a média salarial de um engenheiro civil é de 97 mil dólares por ano, enquanto na China comunista é de 108 mil anuais; lembrem que no comunismo chinês os cidadãos também pagam impostos, e não esqueçam que a China se tornou uma nação rica e poderosa apenas nos últimos 30 anos. Além disso, as pessoas que apontam a inexistência de um sistema de saúde universal como o SUS nos Estados Unidos estão corretas. Neste ano de 2024, 500 mil famílias pediram insolvência jurídica pela incapacidade de pagar as contas médicas. Meio milhão de famílias faliram devido ao valor absurdo de suas contas de hospital!! Pessoas morrem por falta de remédios e muitas preferem se arrastar acidentadas até um táxi do que chamar uma ambulância quando ocorre um acidente, pois a viagem com uma ambulância particular pode custar a totalidade do seu salário. Não é por acaso que Brian Thompson, CEO de uma das maiores empresas de saúde do mundo, foi assassinado por um jovem que teve benefícios negados por sua empresa. A companhia UnitedHealthcare, a unidade de seguros do provedor de serviços de saúde UnitedHealth Group, é a maior seguradora dos EUA, mas o cidadão médio americano odeia as empresas que lucram com a saúde, e por isso o suspeito do crime está sendo tratado como herói pelas redes sociais.

De acordo com registros do ano passado, mais de 650 mil pessoas não tinham moradia nos Estados Unidos, morando em barracas, em especial nas ruas das grandes cidades americanas, como Los Angeles. Com o estresse constante pelas guerras infinitas e pela estrutura competitiva da sociedade, a epidemia de opiáceos mata mais de 80 mil pessoas por ano. Enquanto um engenheiro civil nos Estados Unidos pode ganhar 9 mil dólares mensais, milhares de trabalhadores regulares não conseguem ganhar o suficiente para pagar um aluguel e moram em seus carros. No país mais rico do mundo, 400 mil pessoas vivem em seus veículos, muitos deles com contrato de trabalho regular. Essa exaltação do “American way of life” é anacrônica, datada, velha e equivocada. A disparidade de riqueza atingiu seus limites mais altos da história. Com o fim da dolarização que se acelera e deverá ocorrer nos próximos anos, a crise será incontornável e o cenário mais óbvio será a guerra civil – que só não ocorreu ainda porque Trump venceu as eleições.

É triste ver tanta gente tola achando que a solução é cortar impostos e ter menos políticos. Sabem onde não há impostos? Coreia Popular. Sabem onde político trabalha totalmente de graça, sem receber nenhum salário? Em Cuba. Enquanto perdemos tempo debatendo preço de carro, como se isso fosse um indicador de felicidade, esquecemos que 20 mil pessoas morreram assassinadas nos Estados Unidos em 2023. No “Brasil capitalista” houve 45 mil homicídios em 2021, enquanto na China, menos de 7 mil, para uma população de 1 bilhão de habitantes. No Japão menos de 300 pessoas pereceram dessa forma. Que sociedade de opulência, felicidade e valorização de trabalhadores é essa em que tanta gente mata?

E a drogadição? O que dizer da dependência de remédios – em especial os estupefacientes – da sociedade americana? O que dizer de uma sociedade cujos programas na TV tem propaganda de drogas e advogados o dia inteiro? Metanfetamina, crack, cocaína, Fentanil, etc. são problemas de saúde pública gravíssimos. Os Estados Unidos são uma sociedade que tem 4 milhões de usuários de cocaína, e as mortes pelo uso de drogas batem recordes todos os anos. É essa sociedade que desejam mostrar como exemplo? Só porque os carros – que matam 40 mil todos os anos nas estradas americanas – são mais baratos? Isso significa uma sociedade mais equilibrada, mais progressista e onde existe a valorização do trabalho?

O capitalismo e o imperialismo são sistemas moribundos, cadáveres insepultos, mas ainda é possível ver aplausos para um modelo que não consegue resolver suas contradições, como a concentração acelerada de riquezas e a criação de uma legião de miseráveis distribuídos pelo mundo. Há, sem dúvida, valores e virtudes naquele país – como a defesa da liberdade de expressão – mas é um modelo de sociedade que não conseguiu resolver os problemas centrais da economia capitalista, conforme previu Marx ainda no século XIX, e precisa ser substituído por um sistema mais justo e que ofereça qualidade de vida para a maioria da população, e não para uma minoria de capitalistas cada vez mais concentrada.

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Drogas

A paixão das pessoas por drogas – ilegais ou prescritas – é algo que me assombra. Não se trata apenas dos efeitos da “propaganda” e a pressão capitalista da indústria; para além disso se trata de uma vinculação muito mais profunda, inconsciente e, por isso mesmo, muito mais violenta. As pesquisas apontam que nos Estados Unidos a geração “Y” – os “millenials”, nascidos dos anos 80 até o início dos anos 90 – usa em média uma droga prescrita por dia. Isso é um contingente gigantesco de pessoas literalmente drogadas, que financiam uma indústria cada vez mais poderosa. Sem falar da epidemia de metanfetamina, onde ocorreu um aumento de 170% de 2015 para 2019. No ano de 2001 o número de mortes associadas ao uso de Metanfetamina e Fentanyl ultrapassaram a faixa de 110 mil por ano. A maioria dessas mortes está entre os jovens.

Hoje em dia, no que diz respeito à saúde, a atitude mais desafiadora e poderosa que as pessoas podem ter é fugir do modelo drogal e aditivo da medicina contemporânea. Isso não significa desprezar médicos e medicamentos, mas estabelecer limites bem restritivos para seu uso. Para mudar essa tendência será necessário fazermos uma reeducação das pessoas, uma reformatação das nossas atitudes diárias e uma mudança radical em nossos valores. Para isso sugiro algumas atitudes simples iniciais:

Não use nenhuma droga, a não ser que seu uso seja a única solução possível para sua cura ou para a melhora de um sintoma considerado insuportável. Não cite nome de drogas em casa. Não comente sobre remédios, em especial na frente dos seus filhos pequenos. Combata diariamente a normalização do uso de remédios. Diga não à banalização dos medicamentos, consumidos como se fossem balas ou biscoitos. Dissemine a ideia de que não existem drogas 100% seguras (mais de 3 mil pessoas morrem por ano nos Estados Unidos pelo uso contínuo de…. aspirina). Não crie a expectativa de que a solução dos seus problemas se encontra no uso de substâncias químicas; na maioria das vezes o enfrentamento dos problemas de forma adulta e madura é muito mais consistente. Questione a origem dos seus males: da sua pressão alta, da sua dor de cabeça, de suas dores lombares, dos seus transtornos digestivos, da sua falta de ar. Muitas vezes existem hábitos inadequados que precisam ser modificados, e quase sempre há um desarranjo emocional e afetivo atrás do sofrimento físico que experimentamos “Doença se forma a partir de algo que não foi dito”, já diziam os analistas.

Romper o vício da drogadição não é tão somente uma tarefa pessoal, mas igualmente social. É preciso romper o estímulo à alienação que as drogas (legais e ilegais) produzem no sujeito. É necessário igualmente combater os desencadeantes que existem no capitalismo que induzem ao uso abusivo de medicamentos. Por fim, é urgente a criação de uma sociedade nova, regenerada, que não acredite em solução embaladas e prescritas, mas que lute por solução pessoais e coletivas para os nossos sofrimentos.

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