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Avanços

clitoridectomia

Sobre a abolição das mutilações sexuais femininas – clitoridectomia e episiotomia – temos uma excelente notícia vinda da Nigéria. O presidente Goodlook Jonathan assina – depois de mais de uma década de pressão – uma lei que torna crime a realização da mutilação sexual através da clitoridectomia. Eu acredito que este tipo de ação pode impulsionar o questionamento sobre outras mutilações praticadas contra mulheres e homens. A episiotomia rotineira (sem indicação clara) precisa sofrer o mesmo tipo de crítica, da mesma forma que a circuncisão, cirurgia ritualística e mutilatória aplicada sobre meninos e homens em várias partes do mundo.

Acabar com a mutilação de mulheres é muito mais importante do que reconhecer o casamento gay, apesar da grande importância de reconhecer as relações entre pessoas de mesmo sexo. Todavia, as mulheres – e os grupos que as apoiam – tem muito menos força política do que os grupos pró-homossexuais. De qualquer modo são duas notícias alvissareiras.

O corpo humano é sagrado, e sua integridade precisa ser protegida por todos os que prezam a saúde física e psicológica, em especial das crianças.

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Cirurgias Ritualísticas

Map Clit

Consideramos classicamente as cirurgias mutilatórias e ritualísticas da medicina ocidental (em contraposição à clitoridectomia, oriental) as seguintes intervenções: Postectomia (circuncisão), Tonsilectomia (retirada das amídalas) e Episiotomia (corte perineal no parto). É digno de nota que as três intervenções ocidentais citadas alcançaram um apogeu e estão em franco declínio, pela falta de evidências científicas para o seu uso e pela pressão popular pela sua diminuição. O mesmo se aplica à clitoridectomia, proibida no ocidente e com severas críticas de países ocidentais quanto à sua prática em alguns países islâmicos, em especial a Nigéria.

Entretanto, para além das cirurgias acima descritas, já é possível incluir a cesariana como uma cirurgia mutilatória e ritualística, largamente alastrada no ocidente, já que tem a mesma base irracional das anteriores para a sua abrangência.

Isto é: mesmo reconhecendo a importância dessas cirurgias em casos específicos (não é necessário enumerar a importância das cesarianas para salvar a vida de mães e bebês em situações especiais), sua abrangência fala muito mais de uma relação ritualística do que de um uso operacional (em nome de uma real necessidade clínica).

Segundo Robbie Davis-Floyd, um “Ritual” pode ser definido como um procedimento padronizado, repetitivo e simbólico carregado de sentido cultural, e cuja leitura (exegese) de seus pressupostos pode nos levar ao código profundo de valores que sustenta uma específica sociedade. A existência de cesarianas em profusão nos permite analisar que tipo de valor está na base da cultura onde elas se inserem. No caso das sociedades ocidentais os valores que se mostram evidentes são o patriarcado e o capitalismo, aliados a uma ideia contemporânea de praticidade (tempo) e conjugada com a mitologia da transcendência tecnológica (que nos diz que todo procedimento tecnológico é melhor que sua variante natural).

Portanto, faz todo o sentido analisar as cesarianas sob este prisma. Os exemplos citados de pressões culturais sobre a mulher (espartilhos, pés esmagados, dietas, culto à beleza, etc.) estão absolutamente adequados para sustentar esta análise, por também serem regidos pelos mesmos elementos sociais inconscientes. O mesmo tipo de constrangimento social se aplica às cesarianas e, como nos exemplos anteriores, fica claro que o exagero desta cirurgia beneficia muito mais as corporações e instituições do que as mulheres e seus filhos. As evidências que confirmam esta afirmação estão aí para quem se puser a investigar.

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