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Propaganda Colorida

Recebi pela terceira vez esta semana pedidos para me unir aos esforços para combater o regime “misógino” do Irã.

“Os EUA, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá impuseram sanções a algumas instituições e líderes iranianos em decorrência das violações aos direitos humanos, mas muito ainda precisa ser feito!”

Essa propaganda chegou ao meu e-mail, enviada por estes grupos de “defesa” das populações oprimidas. Usa o mesmo artifício retórico das sanções contra a China por sua política que ataca os Uigur, tentando mostrar que o governo chinês – diferentemente do que ocorre no ocidente – é composto por bandidos que não respeitam os direitos humanos. Quando vamos pesquisar com cuidado e atenção, percebemos que as acusações são falsas ou criminosamente retiradas do contexto.

Mais uma vez o que se vê o identitarismo sendo usado para a desestabilização dos países não alinhados e rebeldes. É apenas asqueroso ver o uso que se faz de causas justas, como a defesa das mulheres, dos negros e dos gays, para angariar a simpatia de muitos ao redor do mundo, quando sabemos que o real objetivo é atacar os países que ousam enfrentar a crueldade do Império Americano.

Será tão difícil assim perceber que estes são movimentos coordenados para atacar o Irã – um país anti imperialista – para iniciar uma nova “Revolução Colorida”, uma “Primavera em Teerã”, cujo único objetivo é desestabilizar o governo local? Basta uma pesquisa rápida para entender que as mulheres estão sendo (mais uma vez) usadas para levar adiante um ataque do Império às nações “desobedientes”. Por que não iniciamos sanções aos Estados Unidos, onde 220 mil mulheres estão presas, numa população carcerária de mais de 2.3 milhões de prisioneiros, mais de 50% não brancos, em uma população onde eles são minoritários? Por que não iniciamos campanhas para punir os Estados Unidos pelo estímulo à guerra fratricida entre Rússia e Ucrânia? Por que não culpabilizamos o imperialismo do Otanistão pela crise dos imigrantes, pela Guerra na Síria, pela destruição da Líbia, pelos massacres sionistas em Gaza?

Por que escolhemos exatamente o Irã, e por que agora? Sim, no exato momento em que este país formaliza o desejo de se juntar aos BRICS para se juntar aos países já alinhados e formar um enorme bloco de oposição ao Imperialismo, os ataques ao país se tornam mais intensos, sempre baseados em questões morais, como a “defesa das mulheres”. Aqueles que se juntam a estes protestos são os mesmos que choravam com a vitória do Talibã em solidariedade às mulheres e meninas daquele país, sem se aperceber que muito pior é a dominação imperialista no país e suas inúmeras acusações de execuções, prostituição e a rede de pedofilia que foi liderada (ou tolerada) pelos americanos no país.

Por pior que seja o Talibã, nada pode ser pior que o domínio de uma potência cruel e destruidora como o Império Americano. Se nos Estados Unidos quase 20 mil mulheres das Forças Armadas americanas foram abusadas sexualmente por seus colegas apenas no ano de 2010, o que dirá das mulheres e suas filhas que vivem nos países brutalmente ocupados pelo exército americano invasor? Vamos cair de novo nessa armadilha montada para destruir o sonho de um mundo multipolar?

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Divisões

Em termos políticos e sociológicos, dividir para conquistar (ou dividir para reinar) consiste em ganhar e manter o controle de uma determinada região por meio da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo sua unidade e força. Esse conceito foi utilizado pelo governante romano César (divide et impera), Filipe II da Macedônia e o imperador francês Napoleão (divide ut regnes). Maquiavel cita uma estratégia semelhante em “A Arte da Guerra” (Dell’arte della guerra), dizendo da importância imperiosa em fragmentar as forças inimigas. Divisões sempre foram o maior interesse do Imperialismo. O sonho do Império Atlantista – ou Otanistão – liderado pelos Estados Unidos, era uma Iugoslávia dividida, e para isso fomentou a guerra fratricida do Kosovo, destruindo o sonho de Tito de uma nação eslava forte e unida. O desejo americano sempre foi uma Alemanha dividida, o que conseguiu por um certo tempo. O interesse do Império sempre foi dividir o Vietnã, a Coreia e a Rússia, assim como tentou com a China durante todo o século XIX. Para a América Latina – como bem cantou Pablo Milanés – ocorreu uma divisão artificial produzida pelo Império Britânico, contrária aos sonhos de Simón Bolivar. Mais modernamente, o Sudão foi dividido arbitrariamente com esta mesma lógica, claramente estimulado pelas nações colonialistas.

Até hoje se estimulam rivalidades e até guerras regionais na América Latina, como os ataques a Cuba, Nicarágua e Venezuela, não por acaso os três países que se impuseram orgulhosamente contra as determinações do Império Americano e, por isto, sofrem boicotes, ataques, sanções, atentados e golpes frequentes, todos eles financiados pelo grande capital internacional.

O próprio identitarismo parte da mesma percepção de mundo, e a través da estratégia de estímulo ao divisionismo como forma de enfraquecer a reação ao domínio. Uma sociedade pulverizada por identidades regradas por identidade sexual, raça, orientação sexual, etnias – onde um negro miserável se sente inimigo do branco explorado e pobre, a quem chama de “opressor” – também foi uma estratégia de sucesso do capitalismo americano, através do “leftismo” do partido democrata que, ao invés de abraçar as pautas socialistas e progressistas (eliminação da miséria, fim dos sem teto, sistema único de saúde, estímulo à reindustrialização), se entregou à defesa das minorias oprimidas, fragmentadas e divididas, assim como da “diversidade”, colocando operários e trabalhadores uns contra os outros como se a cor de sua pele ou sua sexualidade fossem reais barreiras para a integração, mais importantes do que a sua condição de classe.

É curioso que agora tantos falem no Brasil que “eles querem impor a divisão”. A frase é verdadeira, desde que se defina quem são eles. Falta a estes, que agora atacam os nordestinos pelo seu maciço apoio à candidatura de Lula, a percepção geopolítica de que “eles” se refere ao IMPERIALISMO, força que aqui no Brasil está ligada à extrema direita – Bolsonaro e seus seguidores. Quem realmente aposta na união nacional são os partidos da esquerda revolucionária e internacionalista, os quais reconhecem a importância da união dos povos em torno das pautas de apoio e de fortalecimento do operariado. É importante também, em meio a tantos ataques xenofóbicos contra o nordeste, entender o significado desta região para a construção do que hoje entendemos como Brasil. Nossa mensagem deve ir direto ao coração do eleitorado do sul e sudeste, este que deram seus votos a um racista declarado – Bolsonaro – e que agora depreciam o nordeste tratando esta parte do Brasil como subdesenvolvida e atrasada.

Os nordestinos salvaram o Brasil do fascismo que está presente em toda a história e as ações de Bolsonaro e – também por isso – seremos desta região eternamente devedores.

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