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O amor

O amor sempre se inicia sob o signo da te(n)são. Não há como essa aproximação – violenta e catastrófica – ser calma e suave, branda e serena. Eu vou mais longe – creio mesmo que a tranquilidade é antagônica à paixão; ambas não podem jamais coexistir no tempo e no espaço. Fortuitamente, a paixão vai arrefecendo progressivamente, sua chama se abranda dando lugar a uma relação baseada no cuidado e na admiração, um nível de afeto mais seguro e tranquilo – e menos turbulento. Já o amor, em verdade, se torna possível tão somente quando, após sobrevivermos ao terremoto da paixão, conseguimos enxergar o outro pelas frestas da máscara de idealização que o forçamos a usar.

Franz Duprat, “Archipels d’affection”, (Arquipélagos do Afeto), ed. Astúrias, pág. 135

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Dinamite

Tenho visto inúmeros “vídeos denúncia” circulando pela infosfera com imagens de médicos ou enfermeiras que “agrediram pacientes ou acompanhantes”.

Não vou entrar no mérito de cada um dos casos que me mandaram; é difícil se posicionar quando não há o contexto de como, onde e porque tudo ocorreu. Todavia, peço que façam um simples exercício de empatia e se coloquem no lugar dos profissionais de medicina ou enfermagem diante desses casos limites que aumentaram muito durante a pandemia.

Em muitos vídeos era evidente o grau de stress dos atendentes. Raiva, cansaço, indignação, medo e esgotamento físico e psíquico. Muitos estavam atendendo há várias horas, arriscando suas vidas e se colocando diante de pacientes igualmente angustiados – que por sua vez também estavam aguardando há muitas horas por um atendimento.

Para piorar a tensão familiares sacam o celular e começam a registrar as consultas. Cada câmera funciona como uma pistola apontada contra a cabeça dos profissionais. Ou pior; como um fósforo pronto a incandescer o pavio encurtado de uma dinamite de emoções represadas.

Respondam: quem teria condições psicológicas de atender alguém diante de tamanha pressão? Como estabelecer um laço de cuidado e empatia diante dessa ameaça explícita? Como é possível produzir vínculo de confiança sob ameaça?

Acho que maus atendimentos devem ser denunciados, mas nenhum atendimento pode ser bom se quem atende está sob ameaça com um destruidor instantâneo de reputações apontado para o rosto.

Sejamos empáticos. Estamos em crise. Dedos apontados e ameaças não melhoram em nada a atenção médica ou de enfermagem. Desarmem os espíritos e levem em conta a crise terrível que todos estamos enfrentando.

Sejamos mais fraternos. Profissionais da saúde também tem família, medos e sonhos

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