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Não olhe para o lado…

Assisti “Don’t look up” porque não resisti à pressão. Todavia, pude entender como é possível enxergar os dois polos do espectro político tentando se apoderar da narrativa. Os complacentes, pró BigPharma, admiradores do Bill Gates podem se ver na história como “mocinhos”, da mesma forma como a extrema direita, anti globalista que admira o Steve Bannon, pode se enxergar na pele daqueles que “avisaram desde o princípio” a intenção dos poderosos. E todos falam em nome da (sua) ciência, cada qual olhando o livro sagrado pela sua própria perspectiva.

* Acho, aliás, bem ridículas essas gravurinhas que colocam algumas figuras nacionais ao lado dos seus respectivos representantes na história. A vida é mais complexa que esses clichês cafonas. *

Também não acho que seja comédia, apesar de ser paródia. A parte final do filme, inclusive, onde se tentou oferecer humor, não ficou legal e pareceu forçado. O que sobrou para mim foi o tema que sempre tentei debater: não existe ciência isenta no capitalismo. Não existe conhecimento infenso às influências do seu tempo e do capital. A verdadeira pandemia é o capitalismo, sua concentração obscena de poder, a divisão de classes e a manipulação das mentes em nível global para evitar a convulsão social que se aproxima.

Sabe o que mais? Na minha perspectiva o filme é de um otimismo irreparável. O cometa não é o fim do mundo (assim como aquele dos dinossauros também não foi) mas a sua restauração. O cometa é a revolução dos desvalidos, dos excluídos, dos descamisados, dos sem terra e dos sem teto. A bola de fogo que se aproxima vai varrer o velho modelo que está destruindo o planeta – e nos levando junto. O capitalismo pode enviar quantos foguetes quiser, quantas bombas desejar, mas não vai impedir que a história siga seu caminho; o cometa manterá seu rumo. Afinal,

“Quem vai evitar que os ventos
Batam portas mal fechadas
Revirem terras mal socadas
E espalhem nossos lamentos
E enfim quem paga o pesar
Do tempo que se gastou
De las vidas que costó
De las que puede costar?”

(Pablo Milanez & Chico Buarque)

O filme é uma razoável imagem dos nossos tempos, mas não é uma receita para o que devemos fazer…

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Homenagens

Olha, não quero polemizar (mentira), mas hoje a maior empresa de comunicação do Rio Grande do Sul convocou a população para uma homenagem aos profissionais da saúde que estão lutando heroicamente na linha de frente contra a pandemia da Covid19.

Ok, nada contra homenagear categorias profissionais que cumprem com sua obrigação e ajudam a salvar vidas. Não vou sequer reclamar do fato de que outras categorias da linha de frente como as técnicas de enfermagem, o pessoal da segurança, a turma da limpeza, etc… via de regra não são lembradas. Todavia, desconfio muito destas iniciativas. Minha experiência diz que as homenagens são frequentemente usadas como “pagamento alternativo” para que os profissionais não reclamem da sua situação profissional.

Eu estava no Hospital de Clínicas quando um político da cidade tentou homenagear as enfermeiras chamando-as de “anjos de branco”, e recebeu como resposta uma sonora vaia das enfermeiras presentes – que inclusive o deixou perplexo. As enfermeiras sabiam que essa ideia de “anjos” – seres assexuados e que trabalham apenas por amor – servia ao propósito de desprofissionalizar uma categoria historicamente tratada com desprezo pelo capitalismo, com salários baixos, horários cruéis, excesso de trabalho, assédios, abusos, etc. Elas sabiam muito bem que esse tipo de “homenagem” servia aos interesses dos hospitais e dos sistema de saúde, mas não a elas.

Nos Estados Unidos são muito frequentes as homenagens aos soldados que estão lutando nas inúmeras guerras fora do seu território. É inclusive comum aplicarem uma salva de palmas em aeroportos quando um grupo de soldados passa uniformizado. Para mim é o mesmo princípio: vamos fazer homenagens explícitas para que eles não percebam que são usados como “buchas de canhão” para os interesses imperialistas de expandir lucros às custas de guerras estúpidas, cruéis, injustas e destrutivas. Depois, quando retornam, são vistos nas esquinas das autopistas americanas pedindo dinheiro para comer e comprar remédios. Tratados como lixo e descartáveis, são grandes vítimas de suicídio e abuso de drogas.

Homenagear os profissionais de saúde do Brasil com palmas e palavras bonitas serve também para mascarar as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos e o pagamento ridículo que enfermeiras, técnicas de enfermagem, médicos e profissionais de limpeza e segurança recebem para enfrentar sem nenhuma garantia e proteção uma pandemia da qual ainda pouco sabemos. Por isso mesmo acho que a homenagem justa é o reconhecimento do trabalho que fazem oferecendo melhores condições e salários mais adequados para o serviço essencial que estão realizando.

Não vou bater palmas; ao invés disso vou continuar reclamando da forma como este e outros governos tratam os profissionais da linha de frente da saúde. Essa é a única reverência que acho justa e correta no cenário atual.

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Dinamite

Tenho visto inúmeros “vídeos denúncia” circulando pela infosfera com imagens de médicos ou enfermeiras que “agrediram pacientes ou acompanhantes”.

Não vou entrar no mérito de cada um dos casos que me mandaram; é difícil se posicionar quando não há o contexto de como, onde e porque tudo ocorreu. Todavia, peço que façam um simples exercício de empatia e se coloquem no lugar dos profissionais de medicina ou enfermagem diante desses casos limites que aumentaram muito durante a pandemia.

Em muitos vídeos era evidente o grau de stress dos atendentes. Raiva, cansaço, indignação, medo e esgotamento físico e psíquico. Muitos estavam atendendo há várias horas, arriscando suas vidas e se colocando diante de pacientes igualmente angustiados – que por sua vez também estavam aguardando há muitas horas por um atendimento.

Para piorar a tensão familiares sacam o celular e começam a registrar as consultas. Cada câmera funciona como uma pistola apontada contra a cabeça dos profissionais. Ou pior; como um fósforo pronto a incandescer o pavio encurtado de uma dinamite de emoções represadas.

Respondam: quem teria condições psicológicas de atender alguém diante de tamanha pressão? Como estabelecer um laço de cuidado e empatia diante dessa ameaça explícita? Como é possível produzir vínculo de confiança sob ameaça?

Acho que maus atendimentos devem ser denunciados, mas nenhum atendimento pode ser bom se quem atende está sob ameaça com um destruidor instantâneo de reputações apontado para o rosto.

Sejamos empáticos. Estamos em crise. Dedos apontados e ameaças não melhoram em nada a atenção médica ou de enfermagem. Desarmem os espíritos e levem em conta a crise terrível que todos estamos enfrentando.

Sejamos mais fraternos. Profissionais da saúde também tem família, medos e sonhos

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Bolhas

Cena 1: Meu avô morreu aos 94 anos na casa do meu pai. Estava cansado e tinha problemas respiratórios crônicos. Morreu de gripe. Acordou pela manhã e avisou o meu pai que era seu último dia. Distribuiu seus pertences – entre verdadeiros e imaginários – para os filhos e netos. No meio da tarde, e com muita dificuldade respiratória, chamou meu pai e disse “Deu…”. Fechou os olhos, expirou pela última vez e foi encontrar minha avó no outro plano.

Até pouco antes de morrer mantinha o hábito de tomar whisky “on the rocks” todas as tardes. Um dia uma parente notou o copo servido ao seu lado e tentou retirá-lo discretamente. Quando viu, meu avô puxou o copo para si e disse “não mexa no meu scotch!!”, ao que ela falou “não faz bem para você tomar isso todos os dias”. Ele respondeu com aquela cara vermelha e mau humorada dos ingleses: “Tenho mais de 90 anos e vou partir em breve. Deixe-me ao menos morrer feliz”.

Cena 2: Trabalhei muitos anos com pacientes renais em uma clínica de diálise. Os pacientes tinham dietas severas, com ausência quase total de sal, o que torna a comida sem sabor algum. Havia entre eles um garoto de 20 anos que morava na periferia da minha cidade. Era dependente químico, tinha um bebê recém nascido e os rins destruídos. Sobrevivia pela hemodiálise que fazia duas vezes por semana. Mais de uma vez fui buscá-lo no banheiro onde se escondia para comer pó de K-Suco. Uma segunda-feira sua esposa ligou para a clínica dizendo que ele não viria fazer a diálise. Montou uma festa em casa no fim de semana onde bebeu, comeu de tudo e avisou que seria seu último dia de vida. Disse “não quero mais viver uma vida sem gosto”. Morreu no domingo à noite.

Cena 3: o Garoto da Bolha, filme com John Travolta e baseado em fatos reais. Ausência de funcionalidade do sistema imunológico, o que o obrigava a viver dentro de uma bolha. O filme inteiro é sobre a vida insuportável e solitária do garoto, preso em seu mundo de plástico. A cena final do filme é sua fuga da bolha e o contato com o mundo de verdade.

Essas histórias me vem à memória quando acusam de irresponsáveis (com razão) as pessoas que resolvem fazer festa, abraçar, beijar, transar, ir à praia e fazer compras. Talvez o pensamento simplista delas seja “de que vale a vida sem poder vivê-la de verdade?”.

Para mim é fácil apontar o dedo para essa gente, já que tenho os genes da fobia social e vou passar o resto da minha vida isolado e solitário, mas o que dizer das “pessoas das pessoas”, os extrovertidos, os amorosos, os carentes e os amantes? É justo acusá-los de exigirem o direito de viver uma vida feliz, ao lado de quem amam?

Sim, eu sei. A pandemia, o afastamento, o vírus, a segurança dos OUTROS e não apenas a sua, etc. Tudo isso é verdade é não há como discordar. Eu apenas acho errado condenar ao inferno as pessoas que se rebelam contra uma vida infeliz e encarcerada. Se podemos condenar as atitudes que negligenciam a epidemia também acho que é justo entender quem apenas sonha com uma vida miseravelmente normal.

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Paris e Nascer

Escrevi sem querer “Paris e Nascer durante a pandemia” ao me referir a um congresso que vai acontecer dentro de alguns dias sobre partos em tempos de Covid19. Paris, leia-se “Parir”. Desculpe, foi o corretor.

Todavia, fiquei pensando no roteiro de um filme onde a população do mundo todo acabou contaminada com uma doença que, ao ser transmitida para as grávidas, produzia bebês mutantes e zumbis que apenas se alimentavam de coca light e se acalmavam ao ouvir música sertaneja. (Nota: avisar ao produtor para colocar “Evidências” na trilha sonora).

Entretanto, a cidade de Paris era o único local para parir em paz, porque a pirâmide de vidro do museu do Louvre produzia um círculo de proteção energética sobre a cidade. Os partos em Paris não produziam zumbis, apenas parisienses comuns, e isso chamou a atenção de especialistas. Vírus? Radiação 5G? Ataque alienígena? Degradação das calotas polares e emanação de gases retidos no gelo? Como saber, e mais ainda, como salvar estas mulheres e seus bebês? Não havia tempo a perder.

O planeta estava em total caos, e os cientistas do mundo todo para lá afluíam na tentativa de descobrir a causa da pandemia e o efeito protetor da pirâmide. “Paris e Nascer” é um libelo pela proteção de gestantes das influências maléficas ocasionadas pela destruição sistemática do meio ambiente e uma saga de suspense, mistério e ficção científica onde a protagonista Jennifer McCalister (médica geneticista), seu marido Jeff Margullis (policial alcoolista aposentado do FBI) e seu filho de 7 anos Ambros (um gênio nerd) percorrem os labirintos da burocracia e a polícia corrupta para encontrar uma via segura para chegar a Paris, à cura e a um parto com segurança.

Castle Rock & The Glassman productions

Em breve nos cinemas

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Anderson

Anderson França o que está ocorrendo com você? Está tendo uma crise tardia de baixa autoestima? É assim que você mede a qualidade do que escreve?

Depois de criticar um post onde ele chamou de racista uma mulher cuja observação foi: “os chineses deviam observar seu hábitos alimentares“, ele ofendeu a mim e outra interlocutora dizendo (que novidade!!) que não tínhamos “interpretação de texto”. Sua resposta para mim foi “Boa tentativa, mas ainda sou relevante para milhões”. Sério? Sua resposta é, tipo… “Não importa seu argumento, muitos gostam de mim”. Mesmo???

Meu caro, Gustavo Lima tem 11 milhões de pessoas que o seguem e ele ficou bebendo cachaça ao vivo e dizendo palavrões, mas acho que nem ele responderia uma crítica com tanta arrogância. “Sim, estimulo alcoolismo, mas sou relevante para milhões”.

Isso lá é argumento?

Onde está seu contraditório? Eu expliquei que um hábito alimentar nocivo dos chineses pode estar na origem de PANDEMIA e você insiste na tese de que criticar isso é racismo? Não pode criticar o Idi Amin porque era racismo contra negros? Dizer que as ideias genocidas do Pol Pot eram uma ameaça ao planeta é preconceito com asiáticos?

Claro que temos hábitos para comer igualmente bizarros, desrespeitosos e ruins no ocidente, mas esse é um FALSO DILEMA. Criticar o hábito de comer pangolim e morcego NÃO IMPEDE as críticas ao confinamento degradante de gado, agricultura predatória, maus tratos com animais ou o hábito de comer tatu no Brasil. Mas o dia que descobrirem que a “doença do tatu” é um vírus que se espalhou pelo mundo todo por uma comida brasileira esse hábito pode e DEVE ser criticado até nas grotas do Uzbequistão, ou qualquer outro lugar que venha a ser afetado por nós.

Se descobrissem que escargot aumenta o risco de Alzheimer deveríamos ficar quietos para não ofender franceses? Se estamos desmatando a Amazônia criticar esse crime é preconceito com “cucarachas”?

Anderson… Veja o que você está fazendo com sua fama. Não se escrotize.

Claro… depois de ser criticado, me excluiu. Entendo os dramas do Anderson e sou solidário com seu sofrimento, mas quem não se aguenta 5 minutos no ringue da Internet e sai ofendendo adversários no terreno das ideias não pode se meter a escrever, principalmente se quer acusar os outros de racismo.

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Desafios

Não me venha falar de de desafios

O movimento de humanização do nascimento no Brasil sempre foi movido pela chama do impossível. Nossa história, que se iniciou há 27 anos, sempre foi marcada por grandes batalhas para a garantia dos direitos de gestantes, parturientes, puérperas e sua família. Estivemos presentes quando o direito aos acompanhantes foi sacramentado na lei. Discutíamos o trabalho da enfermagem obstétrica na atenção ao parto quando esse trabalho era inacessível a elas. Reforçamos com nosso ativismo a criação da escola de obstetrizes na universidade. Lutamos pelo reconhecimento do trabalho das doulas quando essa função era um mistério até para os próprios atendentes do hospital. Debatemos a escolha do local de parto desde que esse tema tomou conta das discussões na esfera popular e acadêmica. Desbravamos o parto domiciliar planejado e a abertura das Casas de Parto no Brasil carregando em uma das mãos as evidências científicas e na outra o sagrado direito das mulheres escolherem onde parir. Continuamos a enfrentar forças poderosas, mas nos mantivemos fiéis no combate à opressão e violência de gênero que ainda ocorrem nas instituições – e fora delas.

Para tudo isso contamos sempre com nossa fé inabalável na capacidade humana de se transformar e evoluir, tendo como norte a equidade, a justiça, o bem comum e a segurança aplicados ao nascimento humano.

Para quem teve que enfrentar tantas dificuldades não é surpresa alguma para nós o desafio do COVID-19. Sabemos que os princípios de proteção ao binômio mãebebê se mantém intocados, mas também estamos cientes de que a nossa união, como ferramenta de proteção aos direitos da gestante, precisa ser assegurada.

Existem diversas abordagens e vários pontos de vista, visto que essa pandemia pegou a comunidade científica de surpresa pelas suas características específicas e pela sua extensão. Ninguém imaginaria que o mundo inteiro estaria privado do toque, da proximidade e do conforto que a presença de alguém pode nos produzir no momento do parto, exatamente aquilo que é o centro ideológico da humanização do nascimento. Exatamente pelo ineditismo de uma restrição global ao contato é natural que haja, mesmo entre os humanistas do nascimento, opiniões divergentes, e por vezes até antagônicas na forma como tratar a situação dramática da pandemia.

Se por um lado conquistas históricas – como a presença de doulas e o acompanhante – não podem se esvair por entre nossos dedos, também é certo que a emergência de agora – a pandemia do Corona vírus – demanda um cuidado especial, diferente do que aconteceria em situações corriqueiras. Por esta razão, é preciso desarmar os espíritos e manter a cabeça fria. Acalmar nossa alma, respirar fundo, pensar lentamente e tomar cuidado com a rudeza das palavras. Precisamos estar unidos para pensar soluções novas, criativas e adequadas. Como sempre fizemos.

Unidos somos fortes; desunidos somos presa fácil para todos os que não aceitam os avanços nos direitos humanos que conquistamos nas últimas três décadas.

Paz para todos.

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Reescrever a história do planeta

Primeiramente, vamos deixar claro que concordo com a recente entrevista do Roda Viva com o biólogo Ítalo Iamarino sobre o Covid19, especialmente pelo reforço da ciência diante do ataque insistente do obscurantismo bolsonarista. Todavia, minha única crítica à entrevista do biólogo é que, apesar de reconhecer as origens da pandemia – a insensata e violenta intervenção humana sobre a natureza – ele acredita que a resposta para a humanidade será através de MAIS intervenção tecnológica, na famosa equação do “Punch Theory”, onde o primeiro impulso é nossa ação destruidora sobre o mundo natural e os impulsos subsequentes atuam no sentido de consertar os estragos iniciais, porém sem questionar sua origem com a profundidade necessária.

Evidente que a resposta para a EMERGÊNCIA de agora será tecnológica, mas para evitar que sejamos atacados eternamente por tais ameaças virais a resposta poderia ser outra, muito diversa em sua essência.

Parece que continuamos presos no mesmo paradigma de mais de um século: estamos cercados por seres vivos maldosos cujo único sentido na natureza é destruir os humanos. Darwin se revira na tumba cada vez que alguém fala desse antropocentrismo cafona.

Para ilustrar essa ideia a imagem que me vem à mente é, obviamente, a do parto. Acreditamos que a solução para os transtornos do parto é MAIS intervenção tecnológica: hospitais, drogas, leitos de UTI, cirurgias, antissepsia, antissépticos, antibióticos e profissionais altamente treinados em patologia. Porém, a experiência nos prova que o afastamento sistemático e insidioso da natureza do parto produziu a maior parte dos distúrbios que hoje testemunhamos. Desta forma, nos transformamos em técnicos especializados em consertar os problemas criados pela nossa própria atuação inadequada.

Ao invés de investir pesadamente na proposta de REVER e REESCREVER o roteiro da nossa atuação junto à natureza, parece que ainda não nos convencemos que o verdadeiro vírus destruidor deste planeta somos nós mesmos.

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Corona

Medical staff in protective suits treat coronavirus patients in an intensive care unit at the Cremona hospital in northern Italy, in this still image taken from a video, March 5, 2020.

Na minha perspectiva – e se estiver errado eu vou me retratar – sair de casa para dar uma volta sem andar de ônibus, metrô ou participar de qualquer aglomeração não produz nenhum problema em relação à pandemia. Ficar trancado sem ar livre e sem sol tem a potencialidade de piorar os resultados.

Sei que esta é uma estratégia de classe média, onde existem carro, praças, etc., mas não está errado pegar o carro com a família e caminhar ao ar livre para dar uma volta. O perigo está no CONTÁGIO, de pessoa para pessoa, ou nos objetos que outras pessoas manipulam. Digo isso porque existem alguns riscos associados ao confinamento. Um deles é a violência doméstica de toda natureza (entre os adultos e sobre as crianças). Ficar sob aprisionamento pode produzir a eclosão de processos psíquicos violentos pelo choque constante dentro de um espaço restrito.

Acrescente -se a isso o fato de que a “segunda onda do tsunami” – que é a questão econômica – vai bater à nossa porta assim que a questão médica ficar estabilizada. Isso vai acrescentar mais stress às famílias, e as consequências bem sabemos quais podem ser.Assim, sair de casa SEM ENTRAR EM CONTATO com outras pessoas pode ser uma atitude de auxílio à saúde mental. Se houver alguma evidência em contrário estarei pronto para rever essa ideia.

Não quero ser alarmista mas acho que estamos vivenciando apenas o primeiro vagalhão do Tsunami Corona, que é a própria doença e os óbitos dela decorrentes. Depois da estabilização dos casos haverá uma espécie de euforia (como se pode ver na China agora) seguida de uma consternação ao constatarmos o tamanho do estrago. Aí vem o segundo vagalhão da depressão econômica.

Como será possível reerguer o país sem um governo, sem liderança, sem planos? Como usar o Estado como motor da recuperação quando somos liderados por um bando de fanáticos, fundamentalistas de mercado, que desprezam a posição privilegiada do Estado como propulsor de desenvolvimento?

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