
Quando dona Marisa morreu, o ministro todo-poderoso do STF Gilmar Mendes ligou para Lula e chorou ao falar com ele. Foi nesse momento que Gilmar se deu conta do grande erro que havia cometido. No enterro da esposa de Lula estavam presentes todos os oponentes políticos do ex-presidente, de Sarney a FHC. A morte nos iguala e, de uma certa forma, nos humaniza. A tristeza por uma grande perda nos une e congrega.
Lembro agora da confraternização de Natal entre os soldados ingleses e alemães emergindo das trincheiras lamacentas para celebrar a esperança no fim da guerra. Naqueles momentos eles se sentiam todos iguais, a despeito de suas fardas, suas armas, suas diferenças e suas visões de mundo. Ali, em meio à barbárie, brotava a flor tímida da humanidade, em meio aos escombros de uma guerra brutal.
Quando ocorreu o desastre da Boate Kiss, Dilma chorou, abandonou às pressas um encontro no exterior e foi oferecer sua solidariedade às vítimas. Também chorou na tragédia de Realengo, assim como tantos outros estadistas hoje igualmente choram ao anunciar as mortes pela pandemia do Corona. Bolsonaro limita-se a produzir risadas histriônicas de sua claque ao dizer “E daí?”.
Bolsonaro disse que Dilma deveria sair, “de câncer, de infarto, de qualquer forma”. Sequer o seu sofrimento como sobrevivente de um câncer, ou o seu martírio como torturada pela ditadura, produziram nele uma simples atitude de respeito. Pior ainda; exaltou o torturador responsável pelas atrocidades cometidas contra ela. Agora, em nenhum momento surgiu deste homem qualquer sinal de compaixão diante das mortes pelo Covid19. Nem mesmo uma palavra de conforto ou de empatia; apenas desprezo e escárnio.
Não se trata de acreditar que Bolsonaro é “direto”, “grosso”, “verdadeiro” ou “sincero”. Não, ele é apenas a negação da vida, a rejeição aos valores humanos e a exaltação do fanatismo mitômano.