Quando soube da notícia do novo Papa eu lembrei de uma antiga piada que meu pai contava. Ele dizia que, durante um Conclave, os cardeais reunidos elegeram o primeiro Papa dos Estados Unidos. Porém, havia uma preocupação: os cardeais avisaram ao escolhido que não aceitariam misturar o papado com o capitalismo, pois a Igreja não toleraria atos de mercantilismo.
O Papa aceitou, mas como bom americano, ficou contrariado. “Afinal, que mal há em disseminar a palavra do Senhor e, ao mesmo tempo, ganhar uns trocados?”
Instantes antes de saudar o povo na praça, ele recebeu uma ligação no seu celular e pediu aos colegas cardeais um minuto de privacidade. Durante algum tempo ficou ocupado ao telefone e, após terminar a ligação, aproximou-se da sacada do Palácio no Vaticano, olhou para a multidão que o aguardava e disparou:
Meu notebook perdeu um dente. A tecla “alt gr” saiu da boca do teclado e foi ganhar o mundo sem suas irmãs. Apesar de ainda ser possível apertar o buraquinho que restou, achei que valia a pena consertar por razões estéticas. Liguei para o “Rei dos Notebooks” (nome fictício) e perguntei se faziam o conserto da tecla faltante. Disseram que sim.
Fui até a loja e mostrei o teclado banguela. O jovem funcionário coçou o queixo como fazem os obstetras olhando traçados de tocografia, olhou para mim e disse: “humm, vou falar com o técnico”. Deu três passos e parou. Olhou para mim e completou: “… mas já vou avisando que a troca custa 80 reais”.
Sorri e agradeci. Peguei o notebook de volta e coloquei na pasta. Antes de sair de casa pesquisei o preço de um teclado novo, deste modelo, caso fosse necessário trocar: valor com envio: 49 reais. O preço para a troca de uma única tecla que o funcionário me deu foi acintoso. O “Rei dos Notebooks” não ia lucrar comigo dessa forma.
Saí da loja e caminhei uma quadra quando vi uma lojinha minúscula onde se lia “conserto de computadores”. Era uma loja cheia de computadores, carcaças, CPUs e memórias RAM no balcão. Resolvi entrar para perguntar se ele trabalhava com “odontologia informática”. Mostrei a dentadura falha e o senhor imediatamente pegou uma caixa com uns 200 ou mais teclados velhos, de todos os tipos e formatos imagináveis, arrancou de um deles o “alt gr” e colocou a prótese no meu notebook. Quanto? 10 pila, 2 minutos de atendimento.
Nos anos 90 eu estava em Camboriú – antes de se tornar a cidade cafona e cheia de novos ricos de agora – com a minha família. Na época meus filhos tinham 8 e 5 anos. Resolvemos voltar para casa depois do almoço, no final das férias de 1 semana no litoral catarinense. Aproveitamos a manhã para tomar o último banho de mar, depois almoçamos e tomei um banho para começar a viagem.
Bem, este foi o problema. Como na época eu tinha um cabelo farto e rebelde, percebi que se saísse para dirigir com o cabelo molhado ele se tornaria um emaranhado obsceno de cabelos, com cada fio apontando para uma localidade distinta do universo. Para evitar isso, resolvi colocar uma touca cirúrgica que guardava comigo para secar o cabelo. Dito e feito: coloquei as malas no carro, ajeitei as crianças e saímos para a estrada, usando minha touca cirúrgia para secar o cabelo.
Alguns quilômetros adiante, já próximo de Florianópolis, percebi ao longe um acidente na estrada. Era possível ver uma fumaça saindo dos veículos envolvidos no acidente enquanto uma fila de carros se formava, diminuindo a velocidade para assistir a cena. Quando me aproximei, percebi que só havia policiais no local e nenhuma ambulância. Fiquei preocupado que houvesse feridos que estariam aguardando a chegada de auxílio e resolvi me apresentar para ajudar. Imediatamente parei ao lado do policial que coordenava o trânsito e gritei:
– Hei, policial!! Eu sou médico. Vocês precisam de alguma ajuda?
O patrulheiro se aproximou do vidro do carro e ficou me olhando por alguns instantes. Depois de um tempo respondeu laconicamente:
– Não precisamos de ajuda. Não houve feridos, apenas danos materiais. Obrigado.
Só me dei conta quando Zeza começou a rir. Ela disse: “O guarda deve ter pensado que tu és um maluco que pensa ser uma mistura de médico com Batman”. Foi então que me dei conta que estava usando aquele bizarro gorro cirúrgico e que o policial teria todo o direito de imaginar que eu era um psicótico que sai de carro pelas ruas procurando avidamente casos para atender.
Talvez minha calvície tenha sido uma forma que Deus criou para eu não pagar mais estes micos
Vou contar uma história sobre cães: quando era pequeno meu vizinho tinha um cachorro peludo e brabo chamado “Fully”, que me dava muito medo. Brabo, irritante, neurótico, barulhento e traiçoeiro. Era um cachorro pequinês, e por isso nunca consegui resolver meu trauma com esta raça de cães. Um dia avançou no meu irmão menor, que era bem pequeno ainda, e tive que segurá-lo no colo para que o maldito não o mordesse. Pois quis o destino que, na primeira vez que fui à China – mais especificamente em Beijing – eu encontrasse ao lado de uma barraca na feira de rua um cachorro muito bonitinho. Era tipo o nosso caramelo, marrom, magricela, alegre e simpático, que ficava balançando a cauda sem parar, com aspecto dócil e amável. Fiquei magnetizado pelo cachorrinho, mas quando me aproximei senti um arrepio no couro cabeludo e fui tomado por um sentimento de de puro pavor. Por instantes fiquei paralisado, por certo pelo retorno do recalcado dos temores infantis.
Não, ele não me mordeu, nem ameaçou. Ficou balançando o rabo e me olhando. Porém, quando me aproximei dele me dei conta que naquela cidade, inobstante a raça… todo o cachorro é pequinês.
Era uma vez… uma famosa Drag Queen que resolveu se casar, mas para isso resolveu fazer a maior festa da história da cidade. Dinheiro não seria o problema, e para isso resolveu fazer um evento grandioso o suficiente para entrar na história. Não apenas convidou o mais caro buffet, alugou o clube mais chique da região, os garçons mais gatos, o serviço de manobristas mais top, luzes, palco, convidados da alta burguesia, etc, como também prometeu o mais fantástico de todos os vestidos de noiva, uma arte jamais produzida pela criatividade humana.
No dia do casamento a noiva chegou em uma limousine prateada, dirigida por um motorista negro, alto e forte escolhido pelo nome: Jarbas. Logo ao chegar ao local a multidão cercou o carro para ver a noiva e sua promessa de glamour; todos queriam ver o espetáculo que ela prometera. Quando a porta da limousine se abriu de dentro dela saltou uma perna esguia e forte cujo calcanhar era adornado por uma pulseira recheada com pedras preciosas. Nós pés um salto agulha de uns 18cm; um sapato Loubotin branco cravejado de joias. Acima do joelho uma jarreteira cor-de-rosa com fios dourados deixava a panturrilha ainda mais realçada e delicada. A pele estava alva e brilhante pela sessão de massagens e cremes hidratantes recebida no “dia de noiva”.
O vestido era apenas deslumbrante. Feito com renda Soutache, apresentava um cordão a contornar os desenhos proporcionando um aspecto de profundidade aos florais, mais justo à cintura e estruturado. As modistas que se aglomeravam na calçada estavam espantadas e abismadas, pois se tratava de um vestido de noiva clássico, requintado, sofisticado e com um toque todo especial de atrevimento.
– Calma, gente, calma!!! Esperem!! É apenas a aia!!!!!
Era a Drag Queen, avisando que o melhor ainda estava por chegar. Pois na data histórica de 30 de junho de 2023, o Brasil inteiro festejou a inelegibilidade… da aia.
Mitose = doença de quem acredita em ou exalta mitos;
Meiose = doença psíquica de quem acredita que os fins justificam os meios;
Fagocitose = destruição de fagotes, instrumento musical, possivelmente derivado de um antigo instrumento conhecido como bombarda-baixo. No final do século XVI foram destruídos vários desses instrumentos no que ficou conhecido como “A noite dos Fagotes”, por causa de um fagotista anarquista chamado Valéry Deschamps. Esse cidadão manteve-se durante um dia inteiro à frente da casa do alcaide da cidade de La Rochelle e passou 24 horas ininterruptas tocando “La Chasse” como forma de protesto pela taxação da couve de Bruxelas. Populares se aglomeraram e começaram uma depredação, mas não da casa do alcaide Jean Claude Lefray, mas do fagotista Valery e seu instrumento, pois ele tinha tão somente noções primárias sobre o uso do fagote. Depois de ver seu instrumento despedaçado (fagocitose) o ativista voltou no dia seguinte com outro fagote, para continuar o protesto, e essa ação motivou a turba enfurecida a destruir todos os fagote da cidade para evitar que a manifestação voltasse a ocorrer, produzindo a famosa “Noite dos Fagotes”. Hoje a data é comemorada em La Rochelle com uma marcha de homens empunhando archotes que segue até a frente da prefeitura, terminando com um concerto, onde normalmente se ouve “La Chasse” e na qual o gran finale é o “Concerto RV.495, de Vivaldi”, para fagote.
A moça das entregas me chama no portão da Comuna com um pacote na mão. Pergunta por “Richard”. Eu respondo que não há ninguém aqui com esse nome. Ela aperta os olhos, aproxima o pacote do rosto e diz:
– Richard Herbert Jones?
– O nome é “Ricardo”, respondo.
Ela aperta os olhos mais uma vez e confirma o nome na etiqueta do pacote.
– Oi Ric, queria te perguntar uma coisa. Não se preocupe, não é sobre nós. – Diga. – Alguma vez já sentiu como se alguém distante tivesse um boneco de vodu igual a você e estivesse enfiando nele uma agulha na altura do peito? – Não, nunca. Por quê? – …… tá, e agora? Nada ainda?