Primeiramente é importante deixar claro este conceito. Amor romântico não é isso que muitas das pessoas imaginam; aliás, quase todos confundem esse conceito quando se trata das formas de constituir uma sociedade. Amor romântico é casar (ou qualquer relação semelhante que objetiva constituir uma familia) por amor, e não por qualquer outro interesse. Essa criação social é relativamente jovem na história da humanidade, e ainda hoje existem milhões de casamentos que não ocorrem por amor, fora do esquema que temos aqui, e que ocorrem por contrato de divisão de terras, divisão de poder, por escolha dos pais, para fazer filhos, por interesses jurídicos (green card, por exemplo), por rituais familiares, etc.
O Japão tem uma longa história de casamentos arranjados, chamados “omiai”. Este país mudou bastante a partir da 2a guerra mundial e a forçosa ocidentalização que se obrigou pela invasão americana e hoje em dia muitas pessoas estão escolhendo parceiros que conhecem e amam. Há não menos de 20 anos o total de casamentos Omiai era de 20%, mas hoje estima-se que cerca de 5% a 6% dos japoneses ainda usam o modelo do casamento arranjado e aceitam ter seus parceiros escolhidos por outras pessoas. Os casamentos arranjados ainda são a norma na Índia, mas há uma tendência crescente de algumas mulheres escolherem seus próprios parceiros, ou simplesmente não se casarem. Ou seja: o casamento romântico que parece morrer aqui, lá na Índia está recém nascendo e florescendo, e se tornando – só agora – a norma.
Esses casamentos arranjados, que foram o padrão da humanidade por séculos, costumam ser uma instituição muito mais sólida, firme, forte e permanente. Como dizia Contardo Calligaris, “o casamento é uma instituição sólida, a única coisa que o enfraquece e ameaça é o amor”. Todos nós percebemos o quanto o casamento de nossos avós eram bem mais duradouros que os atuais, mas também muitos se espantam (ou ficam horrorizados) ao descobrir que muitos destes nossos antepassados… jamais se amaram.
Enquanto isso, o casamento por amor romântico é uma novidade recente onde o sentimento afetivo (amor) é o principal elemento de união, não havendo outras amarras explícitas para o contrato. Não são escolhas parentais e não são valores materiais os objetivos dos que escolhem o parceiro, o objetivo não é monetário e não há interesses escusos.
Algumas pessoas dizem que este tipo de união é fracassada, tendo em vista que na idade madura mais da metade das pessoas já estão separadas desse amor. Pois foi esse meu interesse ao perguntar: se não for esse o modelo de casamento – por amor – qual seria? Voltar a ter casamentos por dinheiro, escolhidos pelos pais? Pessoas fazendo filhos sem se conhecer? Máquinas de gestação extra corpórea? Relações fugazes? Longos namoros sem coabitação? Filhos criados por comunidades de mulheres? Paternidade dispersa? Pessoas vivendo sozinhas e se encontrando apenas por sexo (como ocorre em parte da juventude de hoje)?.
Claro que qualquer um pode escolher o seu modelo, mas isso não se configura um padrão social, apenas uma forma de resolver sua vida erótica, e sobre essa questão social se apoia a pergunta inicial. Alguns perguntaram “para que precisamos modelos?”, que é uma pergunta válida para o sujeito, mas se vamos tentar entender as tendências sociais é importante questionar as razões pelas quais escolhemos formas de guiar as práticas de união social – em especial aquelas que vão produzir filhos e manter nossa espécie.
Portanto, não estou falando de “amor verdadeiro”, “amor eterno”, “amor real e sincero” e muito menos do conceito de “romantismo”, ou seja, “práticas externas e explícitas de demonstração de afeto e paixão por uma pessoa”. Isso é outro assunto. O amor romântico pode ser silencioso e discreto, basta ser movido tão somente…. por amor.