
Há alguns anos eu fazia uma palestra num seminário para enfermeiras obstétricas em Beijing na China sobre pré Natal normal. Lá pelas tantas falei que se esperava “um aumento de pelo menos 9 kg para as gestantes em gestações eutócicas e sem nenhum transtorno”.
Como sempre, falei as poucas palavras e aguardei a tradução. Naquele congresso não estava minha tradutora oficial, Hanna Zhao, mas uma jovem chinesa que eu ainda não conhecia. Depois que ela traduziu minha fala escutei um “ohhhhhh!!!” em uníssono, seguido de risos contidos e sussurros, correndo por entre os assentos do enorme e moderno salão de conferências. Olhei para a minha tradutora e ela apenas me devolveu um sorriso constrangido.
Terminei minha palestra e fui procurar os amigos para tomar um chá durante o intervalo. No meio da multidão de enfermeiras miudinhas escutei uma voz me chamando freneticamente.
Era a minha tradutora. Estava acompanhada de minha amiga Meng Xu da escola de parteiras. Levava a mão à boca e tinha os olhos vermelhos. Perguntei o que havia ocorrido e ela, com a voz embargada, me explicou.
– Desculpe Dr. Ricardo. Eu me enganei. Por isso a reação das enfermeiras. Eu não sou da área da saúde, mas agora a professora Meng me explicou o que houve. Eu disse a elas que as crianças no seu país nasciam com no mínimo 9 kg de peso!! Eu não havia entendido que era o aumento de peso das mães!!! Desculpe, desculpe!!!
Disse a ela que não se preocupasse que eu explicaria na minha próxima fala. Mas até hoje imagino que alguma enfermeira chinesa pode andar espalhando por aí que as brasileiras têm pererecas gigantes capazes de parir crianças de até 9 kg…