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Julgamentos

Peço àqueles que julgam a vida pessoal do Pelé, exaltando suas falhas e minimizando suas glórias, que não me julguem por esta mesma lógica quando eu estiver morrendo, pelo menos não em frente aos meus. Espero também que não sejam julgadas desta forma – e com a mão tão pesada – quando seu próprio tempo estiver para chegar. A crueldade sobre os corpos frágeis e indefesos daqueles que estão se despedindo da vida não leva ninguém ao céu; sequer lhes torna melhores, mais nobres ou superiores. Deixem os julgamentos para quem é isento de pecado.

Pelé é o maior gênio do futebol, o esporte que tanto amamos. Por certo que para alguns, que tem as emoções controladas e agem sempre de forma racional, é fácil fazer desaparecer da memória e dos sentimentos décadas de emoções compartilhadas com o maior ídolo do esporte, movidos por um suposto erro pessoal na vida do nosso craque. Eu, infelizmente, não consigo. Para aqueles que não se afetam com a iminente partida de Pelé eu pergunto: será que apenas quando a tragédia lhes atinge pessoalmente ela é digna de lágrimas?

Parece bem claro para mim que, fosse Pelé uma mulher e seria mais fácil perdoar seus deslizes. Todavia, ele é homem e ainda por cima é negro!!! Difícil para muitos sentir algo pelo Rei Negro do Futebol. Melhor e mais fácil seria adorar o Airton Senna, não? Esse pelo menos sempre foi da classe média e bem branquinho.

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Epílogo

Em 1996 minha mãe visitou Paris pela última vez. Meu pai não parecia tão entusiasmado com esta viagem, mas ela sabia que seria sua última oportunidade de visitar a cidade dos seus devaneios de menina. Alguns anos depois meu pai perceberia os primeiros sinais da doença degenerativa que, por fim, a levaria. Tão logo voltaram para casa e meu pai me disse que esta havia sido a derradeira viagem, mas só muito tempo depois entendi a razão.

Desta vez meu pai resolveu alugar um pequeno apartamento onde ficaram por 3 meses. Neste período minha mãe escrevia cartas e as mandava para os filhos, netos e amigos. Era uma época anterior à internet quando a única forma de saber como estavam era aguardar as mensagens trazidas pelo carteiro.

Agora com tempo e energia, minha mãe percorreu a cidade inteira a pé. Desenhou em um mapa os trechos percorridos com meu pai e quando retornou ao Brasil me mostrou os rabiscos orgulhosa. Talvez em uma outra vida eu possa estar ao seu lado na “sua” cidade e poderei sentir a real emoção transmitida por ela.

Aqui está um dos cartões postais que ela enviou para sua amiga Marli, com quem estabeleceu uma relação de mãe para filha por muitos anos. Pode-se ver, brotando da caligrafia linda e com letras desenhadas, a emoção de estar na Paris dos seus sonhos. E quando dizia “minha cidade” ela estava realmente falando sério…

Sei que essa lembrança chegará a ela no mundo espiritual, mas não agora. Por certo que a esta hora estará olhando as vitrines da Avenue des Champs-Élysées.

A bientôt, maman…

Aqui e aqui estão dois outros posts que escrevi sobre a ligação de minha mãe com a França.

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Casa Sagrada

Bebe utero

Casa sagrada
De paredes vermelhas
Tantas vezes tuas lágrimas
Pintaram o alvo lençol
Quantas vezes teus lábios
Falaram comigo em meus sonhos

 Acalentou meus filhos
Quando lá os deixei
Nutriste seus sonhos
E os guardaste para mim
Agora que vais
Leva meu adeus e a certeza
Da gratidão eterna pelo bem
Que fizeste à vida.

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