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Solidão

Muito da solidão que percebo está relacionada à negativa do sujeito em aceitar seus próprios medos e falhas, e na busca ilusória de jogar sobre o outro a culpa de suas mazelas. Aceitar seus erros é o passo essencial e precípuo para transformar-se aos olhos de quem se deseja.

Hilde Willburg, “Seven steps to Love”, ed. Capri, pag. 135

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Vida e Arte

Claro que é possível separá-las, e assim o fazemos cotidianamente, basta ver a forma distinta como nós analisamos as falhas e defeitos de nossos ídolos. Nossa indignação é seletiva; não é justa, isenta ou desprovida de paixões.

Criamos uma enorme celeuma com o caso Pelé-Sandra, e o simples fato de ter sido tão explorado deveria nos ensinar algo. Por outro lado, também há mulheres e homens que realizaram grandes obras em favor da humanidade cujas vidas privadas foram repletas de problemas éticos extremamente graves. Nossa capacidade de exaltar alguns defeitos e esquecer outros nos mostra que, para o nosso juízo, mais importante que o delito é o sujeito que o comete, e isso expõe o quanto estes problemas alheios se relacionam com as nossas questões pessoais. Ao mesmo tempo que vejo justiceiros atacando o Rei do Futebol nunca vi ninguém atacando a memória de Simone de Beauvoir – ícone feminista – por suas ligações com a pedofilia e outras práticas condenáveis (como seduzir suas alunas). Também nunca vi alguém cancelando Marie Curie – grande mulher cientista – pelo caso amoroso que teve, já viúva, com seu auxiliar de laboratório, homem mais jovem e casado, fato que levou à dissolução do seu casamento. Apesar de ser muito maltratada pela sociedade parisiense em sua época, este fato hoje em dia é quase desconhecido, eclipsado pelos seus dois prêmios Nobel em duas áreas distintas. Também não vejo ataques sistemáticos a Rachel de Queiroz por ter sido uma árdua defensora da ditadura militar que massacrou o Brasil por duas décadas. Leiam sobre o genial poeta Pablo Neruda e vejam como foi sua terrível relação com a parentalidade.

Poderia passar horas citando outros personagens cujos erros receberam um claro perdão, comparando esse tratamento com as fogueiras montadas para outros, cujos crimes foram iguais ou até de menor importância e consequência. Assim, parece claro que oferecemos o benefício do esquecimento aos erros de alguns, enquanto tentamos nos lembrar diariamente dos defeitos de outros.

E vejam: tenho convicção de que os erros dessas personagens são do seu tempo, falhas humanas, e isso não diminui a importância e o valor de suas obras para a sociologia, a ciência e a literatura, produções essenciais para toda a humanidade.

E porque fazemos essa análise enviesada, com pesos e medidas diferentes para delitos semelhantes?

Agimos assim porque alguns “defeitos” observados nos outros não são suportáveis, e alguns são mesmo inconfessáveis. Por exemplo: ser um Deus negro em um país que nunca cortou plenamente os laços com o racismo. Também o crime de ser homem numa sociedade pós moderna que condena a masculinidade, tratando-a como “tóxica”, e que julga com estrema severidade um ídolo por não amar sua filha da forma como nós exigimos que esse amor se estabeleça.

Sabemos que o capitalismo e sua estrutura de classes precisa de um exército de homens que se submetam docilmente a um sistema injusto e abusivo. Por esta razão, causa desconforto vermos um homem negro ser a figura mais emblemática do povo brasileiro. Isso fere nossas aspirações de “nação branca” e escancara nossa origem mestiça.

Pelé cometeu erros humanos, mas que tocam na ferida exposta de muitas pessoas em sua relação com a figura paterna. Por isso, pela projeção que fazem da relação de Pelé com esta filha, colocam Pelé como o “paradigma do pai ausente”, nem que para isso precisem comprar uma história maniqueísta, cheia de furos e lapsos, demonizando o jogador e colocando sua filha e genro num pedestal. Toda narrativa assim construida tem como objetivo moldar a história para criar vilões e mocinhos, sem contradições, sem nuances, sem complexidades, apenas o confronto entre o “bem” e o “mal”, a vítima e o algoz.

Aceitar a falibilidade humana – o que inclui a história dos nossos heróis – é importante para humanizar tais personagens. Além disso, fazer linchamento morais de alguns e passar pano para outros apenas demonstra que sob as capas de erros e virtudes que todos nós carregamos existem essências que nos incomodam e agridem, enquanto outras nos causam empatia e compaixão. Não são os erros, mas quem os comete. Alguns sujeitos podem errar; outros não tem o direito às falhas humanas. Nosso julgamento – condescendente ou inexorável – diz muito mais de nós do que dos pecadores sobre quem jogamos as pedras.

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Voto impresso

“Vamos discutir agora a questão seríssima do voto impre… digo auditável, para que as eleições de 2022 sejam limpas”

Cara, de uma vez por todas…. NÃO VAI TER VOTO IMPRESSO e por várias razões – entre elas a recusa do congresso. Todavia, a mais importante é que, mesmo que fosse algo necessário para a lisura das eleições, NÃO HAVERIA TEMPO para criar um modelo novo em tão pouco tempo. Não se muda a tecnologia usada há 25 anos – com pleno sucesso – em um ano e meio. Além disso, a mentira do Bolsonaro é de que os votos não são auditáveis – e são!!! Aécio Neves pediu auditoria em 2014 e ela foi feita. Sem falhas.

Pergunto: se houvesse fraude eleitoral por que Bolsonaro teria sido eleito? Por que Dilma foi reeleita? Por que Aécio perdeu, se ele era o candidato da gente do dinheiro e do “mercado”? Nada disso faz sentido.

Aliás, só uma coisa parece ser certa: Bolsonaro está pavimentado o caminho para dizer que perdeu as eleições por fraude, EXATAMENTE o mesmo roteiro que Trump, o outro bufão da extrema direita supremacista branca, tentou ativar nos Estados Unidos.

A derrota de Bolsonaro cada dia fica mais certa, e por isso mesmo ele cria o factoide de que existe fraude ou de que ela pode ser facilmente realizada. Quer convulsionar o país. Quer criar a ideia de que é “popular”, tem a preferência do povo e que – palavras suas – “não aceita nenhum resultado que não seja a sua reeleição”.

A quem serve essa patifaria? A quem serve exigir algo que não é possível realizar? A quem serve jogar o povo contra a justiça? A quem serve jogar o povo – SEM PROVA ALGUMA – contra o sistema eleitoral?

Bolsonaro tentará um autogolpe se nada mais funcionar e, como bom psicopata, não se importa com quantas mortes terá que lidar. Aviso apenas que Bolsonaro já tem 75% de pessoas contrárias à sua sanha autoritária e se ele resolver destruir a democracia neste pais o povo inevitavelmente sairá para as ruas

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