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Minimalismo

Minimalismo, no meu conceito, é um estado de espírito, uma forma de encarar a vida e o consumo, não um conjunto de regras para serem cumpridas ou levadas ao cabo, como se fosse a “religião da escassez”. Baseia-se na regra dourada de Sêneca, que afirmava que “a pobreza não surge da falta de recursos, mas da multiplicidade dos desejos”. Para haver a dor da falta há que primeiro existir o desejo de possuir.

Somos seres constituídos de forma distinta e complexa, e em nossa arquitetura psíquica dormitam falhas e vazios que, muitas vezes, preenchemos com “cargo”, coisas, badulaques, matéria, comida e emoções. Entretanto, o que te faz falta pode ser irrelevante ao outro. Sempre vai haver alguém que sente mais a falta de algum conforto moderno, algum bem material e mesmo um afeto banal, e não há dúvidas que muitos vão desapegar de quase tudo – até dos amores, enquanto outros ficarão eternamente encarcerados pela penúria.

Mesmo que eu entenda a dificuldade de largar algo, como uma roupa, um carro, um livro, um eletrônico, acredito ser ainda mais necessário – e muito mais desafiador – o desapego das vaidades e das disputas de ego, pois este é o mais complexo de todos os minimalismos. Livrar-se da falsa imagem de si mesmo, desapegar-se do seu orgulho rastejante, abrir mão das vaidades oportunistas são formas fundamentais de retirar matéria acumulada das próprias costas, cujo peso faz atrasar nossa verdadeira missão.

O verdadeiro minimalista não se interessa pelos bens alheios e não faz julgamentos sobre o que é necessário, útil ou adequado aos outros. Espera-se dele que seja minimamente responsável pelas escolhas que faz, para si mesmo e para o planeta.

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O Mínimo

No grupo que participo sobre “Minimalismo” o pessoal insiste em fazer perguntas ao estilo “ter carro novo é contra o minimalismo?”, “posso ter ar condicionado?”, “comprar IPhone é contra os ideais minimalistas?” Fazem estas perguntas como se minimalismo fosse uma religião, para a qual questionam seus “dogmas”, como quem pergunta ao padre se “flertar na Igreja é pecado“. No fundo estão atrás de ideologias e líderes para seguir, já que decidir por si mesmo implica muita responsabilidade.

Minimalismo é essencialmente uma atitude e uma proposta de vida. Não tem regras, mas princípios. Parte da ideia da otimização dos recursos do planeta, para não gastamos mais do que necessitamos, deixando os outros em falta. É um estímulo à solidariedade entre os povos. Porém, é mais do que isso: em um planeta de recursos limitados o minimalismo é uma proposta de sobrevivência global.

Também significa retirar dos objetos uma parte do desejo que os contamina, tentando fazer da obtenção das coisas uma ação mais racional, mais útil e menos perdulária, questionando nosso egoísmo e nossa propensão acumulativa.

Sem regras rígidas, sem catecismo, sem culpas, sem cobranças, apenas olhando as necessidades acima dos desejos.

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Bolhas identitárias

O documentário “Minimalist” (que eu gostei muito) que é sobre uma dupla de rapazes que abandonaram seus empregos e carreiras para investir em uma vida mais simples e sem luxos, vivendo com o que consideram necessário e essencial. É um discurso minimalista, como o nome diz, e que prega o desapego às futilidades do dia-a-dia e uma opção pelo que é realmente valioso na vida. O documentário aborda a turnê desses dois jovens pelos Estados Unidos e a venda do livro com suas ideias.

Daí alguém me marca em uma página que critica o filme. Tudo bem, até me interessei, talvez o documentário tenha um erro essencial, uma visão equivocada ou mesmo um paradoxo que eu não tinha me dado conta. Quando comecei a ler percebi que a crítica era porque o filme era “machista“, já que os protagonistas eram homens, e as mulheres deveriam estar presentes em um documentário que aborda este tema.

Eu pergunto: um documentário sobre os Beatles também seria irremediavelmente machista? Stones? O Grêmio? Como esses dois aventureiros e idealistas poderiam fazer um documentário sobre sua jornada de auto transformação e NÃO serem considerados machistas, já que são homens?

A crítica do filme deixa clara a ideia de que o crime inafiançável desses dois rapazes é o fato de serem homens e tentarem construir um caminho diferente para suas vidas.

Eu não suporto mais essas bolhas identitárias. Eu simplesmente não aguento esse discurso pois vejo que ele está destruindo a solidariedade e as próprias esquerdas. Agora não é para o bem de todos, o que vale é “minha bolha primeiro, afinal...” e aí você coloca o discurso pré determinado para defender os interesses do seu grupo em detrimento de todos os outros. Vale mais quem puder ser mais vítima.

O identitarismo é uma ação de direita travestida de movimento por direitos humanos. Ele oferece todas as armas para os fascistas que odeiam igualdade e faz de inimigos pessoas que poderiam estar do mesmo lado. Que tristeza. Passei a ter alergia a qualquer manifestação dessa natureza

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Minimalismo

Dias atrás vi um belo documentário no Netflix, o qual recomendo com fervor: Os Minimalistas. Trata da história de uma dupla de jovens que resolveu se desfazer de quase tudo e viver uma vida o mais despojada possível, tateando os limites do desapego material. Ao assistir à narrativa fiquei envergonhado de perceber o imenso grau de fetichismo que ainda depositamos (depósito) em coisas, de roupas, objetos, utensílios a tamanho de casas.

Somos verdadeiramente governados por objetos que gravitam ao nosso redor, deixando de lado os verdadeiros valores da vida. Todos os conceitos do Minimalismo já existem na minha cabeça como elementos racionais há muitos anos, e a própria opção por viver no meio da natureza e em comunidade vai nesse sentido. Como próximo passo cabe a mim a difícil tarefa de que tais ideias baixem um pouco do alvo inicial e atinjam o coração.

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