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Crenças

A crença em uma vida futura não é mesmo uma questão de escolha. Imaginar ser possível educar alguém para aderir ao ateísmo ou às crenças de sobrevivência de um princípio espiritual é ilusório. Acreditar em uma vida que não se esgota na matéria densa é um sentimento, não uma construção racional; sua negação também. Assim, as pesquisas em um sentido ou outro apenas reforçam ou refutam estas crenças para os sujeitos já conectados a estas perspectivas. Atacar os polos deste matiz – os crentes e os niilistas – tratando-os como estúpidos ou ingênuos é injusto e inadequado e, para mim, tem o mesmo sentido de criticar a orientação sexual de alguém usando argumentos racionais. Resta o fato de que a postura agnóstica é a mais honesta de todas: não sei os mistérios do mundo e da vida, do infinito e da morte. Portanto, não é justo ser definitivo sobre o que desconhecemos e muito menos ser peremptório sobre a imensidão do que ignoramos.

Rev. Augustus Margolyes, “Das Incertezas Inóspitas”, Ed. Paulines, pág. 135

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Os Médicos e a Escuta

Esse é um um dos problemas clássicos da medicina: fale por não mais do que cinco minutos com um médico tradicional, formado em uma universidade padrão, e diga a ele que sua dor de cabeça ocorre quando está para chover, ou que sua pressão no peito melhora quando chora muito. Em poucos instantes verá o quanto a descrença nas palavras dos pacientes funciona como uma religião niilista, que sustenta sua arrogância e mantém a ilusão de superioridade que carrega sobre todos os outros mortais.

Para ele, os pacientes produzem ilusões sobre si mesmos, ficções criadas para dar sentido às suas dores, mas apenas o médico, dotado do saber iluminista e isento de preconceitos, consegue desvendar o que sequer o paciente é capaz de descobrir. Repito a pergunta do amigo Cláudio Sousa: “que satisfação resta a este c(l)ínico tão desencantado com as mentiras que seus pacientes contam?”

A coisa mais bela da arte médica é a capacidade – que raríssimos médicos possuem – de escutar seu paciente, sem confiná-lo a uma lista diagnóstica, uma caixa constrita de verdades pré-estabelecidas, valorizando o que o paciente tem a dizer sobre si mesmo, produzindo suas próprias verdades.

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Nobel

Um excelente químico deveria se manter fazendo experimentos em seu laboratório e não se aventurar na filosofia, pois que nesse ramo sua ignorância fica evidente

Dizer que a religião se tornará supérflua, inútil ou desnecessária é acreditar que um dia todas as dúvidas existenciais serão respondidas, todas as questões morais solucionadas, não restará nenhuma pergunta a ser feita e todo o sentido do universo caberá em uma fórmula química. Tal arrogância e prepotência só cabe nas mentes irracionais.

Imaginar tal cenário é o mesmo que olhar para o universo acreditar que tudo à nossa frente um dia caberá nos livros de exatas. Para pensar assim é necessário produzir um mergulho obscurantista nas doutrinas ateístas, que nada mais são que religiões niilistas baseadas na fixação pelo nada.

Isso não quer dizer que as religiões sejam justas e boas, ou que não sejam obscurantistas e atrasadas. Apenas afirmo que as religiões são da natureza humana, surgem de necessidades humanas, pela incessante inquietude por respostas e pela angústia do desconhecido. Anseiam por sentido e produzem modelos para o que não foi ainda descoberto. Imaginar um mundo sem essa inquietação é tão somente acreditar no fim do desejo humano. Quanto mais ele despreza as religiões mais precisa criar uma para sustentar sua (des)crença.

Aos químicos, a química; aos filósofos, poetas e sonhadores tudo o que ainda resta descobrir.

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