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Dragões

Monstros reais que só existem

nas lembranças e nas memórias feridas

Falsos, mentirosos, medonhos

Mas nos sonhos, no delírio real de suas imagens

São humanamente doces, afáveis cordiais

São, todavia, monstros

Mas de um tipo especial

Cuja magia, que se desprende

das labaredas do seu hálito cru

Apenas revela os monstros

Que insisto em acolher

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Amor

Quisera falar do sexo
Mas não posso
Do céu subterrâneo de nossos afetos
Mas não devo
o mundo escondido de nossos desejos
Mas não nego
a fuga absurda de nossos retornos
Mas não quero
o sentido último de nossos abraços
Mas não vejo
a luz que meus olhos encontram no escuro
Mas não digo
o suspiro de um dia saber-te sem mim

Amália Quintero D’Arroyo, “Fugas”, Ed Pindorama, pág 135

Amália Quintero de Arroyos é poetisa e nasceu em Aveiro – Portugal em 1959. Estudou literatura na Universidade de Lisboa e posteriormente iniciou seu trabalho como professora de literatura nas escolas públicas da região do Aveiro. Em 1985 publicou um livro de poesias chamado “Algures” que recebeu boas críticas e um convite da editora Pindorama para escrever uma série de mais 3 livros de poesia, surgindo daí a trilogia “Chegadas”, “Esperas” e “Fugas”, lançados respectivamente em 1991, 1996 e 2000. Recebeu o prêmio Cordéis de melhor livro de Poesia em 2005 por “Fugas”. Mora na cidade do Porto e é casada com o desenhista Fernando Monturo.

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Territórios

 

Escrevi isso há 4 anos durante o atendimento a um trabalho de parto no hospital e me surpreendi, pois não lembrava de jamais ter escrito poesia. Contei pra Zeza e ela disse que era mentira. Talvez seja…

 

Territórios

 

Se o corpo de uma mulher

é um grande território,

onde guerras acirradas

atropelam gerações,

como negar seu direito

na luta da retomada?

 

Se a riqueza dessa terra,

por ter história e ser matriz,

seduziu o forasteiro

que dela quis se apossar,

como não aceitar que o ventre

– e tudo que tem em volta –

queira mais do que depressa

sua posse retomar?

 

Os lindeiros desse chão,

achados de posse eterna,

se esqueceram que a pequena,

por mais delicada que fosse,

tinha na mão um desejo

e no coração um poema.

 

O poema curioso,

cheio de rimas ricas,

dizia meio por assim,

porque a memória anda fraca,

que a conquista não se faz,

no martírio e na faca.

Que a mulher ou é livre,

ou melhor então nem nasça,

pois quem de si o leite dá,

de sua carne outra uma,

não pode viver cercada,

da liberdade, negada

 

O poema era esse,

que a lembrança se achega,

por mais que a mente procure

a palavra escondida.

Mas na mão está o desejo,

que se abre e nos afirma,

que a mulher tão paciente,

agora vai à luta.

Mais que a dor que sempre teve

ela agora só procura,

o caminho que é só seu,

que desenha na lonjura

do seu firme caminhar.

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