
Escrevi isso há 4 anos durante o atendimento a um trabalho de parto no hospital e me surpreendi, pois não lembrava de jamais ter escrito poesia. Contei pra Zeza e ela disse que era mentira. Talvez seja…
Territórios
Se o corpo de uma mulher
é um grande território,
onde guerras acirradas
atropelam gerações,
como negar seu direito
na luta da retomada?
Se a riqueza dessa terra,
por ter história e ser matriz,
seduziu o forasteiro
que dela quis se apossar,
como não aceitar que o ventre
– e tudo que tem em volta –
queira mais do que depressa
sua posse retomar?
Os lindeiros desse chão,
achados de posse eterna,
se esqueceram que a pequena,
por mais delicada que fosse,
tinha na mão um desejo
e no coração um poema.
O poema curioso,
cheio de rimas ricas,
dizia meio por assim,
porque a memória anda fraca,
que a conquista não se faz,
no martírio e na faca.
Que a mulher ou é livre,
ou melhor então nem nasça,
pois quem de si o leite dá,
de sua carne outra uma,
não pode viver cercada,
da liberdade, negada
O poema era esse,
que a lembrança se achega,
por mais que a mente procure
a palavra escondida.
Mas na mão está o desejo,
que se abre e nos afirma,
que a mulher tão paciente,
agora vai à luta.
Mais que a dor que sempre teve
ela agora só procura,
o caminho que é só seu,
que desenha na lonjura
do seu firme caminhar.