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Homens que odeiam as mulheres

Existe um texto profundamente misândrico que circula pela internet no qual se lê, com as tintas marcadas pelo mais profundo ressentimento, que os homens não amam (su)as mulheres, não tem por elas qualquer apreço e apenas as desejam para diversão; querem apenas fazer sexo com elas. Usam-nas como troféus, adereços, carne animada, brinquedos que exibem aos amigos como prova de sua capacidade fálica. O texto oferece uma perspectiva dos homens (não de alguns, mas do gênero inteiro) como sendo o ápice do egocentrismo na criação divina, sendo o desprezo pelas mulheres o esporte mais cultuado entre eles. O texto é adorado por uma parte das feministas, que amam publicá-lo sempre que algo de ruim lhes acontece em relação aos homens. Ato contínuo, dezenas de mensagens se seguem abaixo do texto ao estilo “Tamo junto miga, não passarão”.

O que mais me impressiona neste libelo anti-masculinista é seu inequívoco clamor supremacista. Sim, para que dissemina este texto os homens odeiam as mulheres; têm por elas desprezo e ódio, e apenas se relacionam para o seu prazer egoístico, seja pelo sexo ou pela procriação, para terem alguém que leve adiante seus genes. Não se importam com sua música, sua arte, sua inteligência, suas inegáveis virtudes, seus múltiplos talentos e passam a vida a explorá-las em serviços domésticos desgastantes e tediosos. Santas ou putas. Já as mulheres…. são todas puras. Seu amor pelos homens é inquestionável. Totalmente desinteressado, sem viés, sem segundas intenções, sem atitudes dissimuladas ou malévolas. Por certo que jamais usariam estas bestas peludas para o prazer; ora, quem ousaria se interessar por seres sem delicadeza, brutalizados e insensíveis? E sobre o ódio… não, apenas pena por sua existência estéril e medíocre.

Desta forma, não há como aceitar a ideia de que os homens odeiam o sexo oposto, enquanto as mulheres os acolhem e amam (algo difícil de entender em algumas escritoras contemporâneas), sem mergulhar em uma visão abertamente supremacista, que considera as mulheres moral e intelectualmente superiores aos homens. Como se Deus (ou a evolução das espécies) houvesse dotado as mulheres de valores morais e espirituais que sonegou aos homens, em troca de alguns músculos, barba, bolas e um punhado a mais de testosterona.

Cada vez que leio sobre o tema me pergunto se estas mulheres algum dia em suas vidas se preocuparam em entender o que significa ser homem. Quais os desafios que o masculino impõe a cada um que pretende transitar em sua perspectiva planetária? Qual o sofrimento inerente a cada um que, ao caminhar pela trilha da incompletude, precisa encontrar nas mulheres seu elemento faltante, a peça essencial da qual carece? Quais os dilemas e sofrimentos inerentes à condição de homem que não podem ser percebidos à vista desarmada, e só podem ser compreendidos depois de uma investigação meticulosa sobre sua essência?

Acreditar que apenas um dos gêneros é capaz de tantos defeitos e deméritos é diminuir a própria potencialidade feminina, colocando-a como subalterna até na capacidade de fazer o mal. Eu, de minha parte, considero as mulheres tão competentes quanto os homens nos empreendimentos humanos, tanto para a luz quanto para a mais obscura das bestialidades.

Na imagem, Elisabeth Bathory, um anjo exemplar…

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Puteiro

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“Com a morte “acidental” de Teori e a nomeação de Alexandre de Moraes consolida-se o golpe na trincheira jurídica e cumpre-se a profecia de Jucá. O Brasil realmente tornou-se um puteiro.”

As putas sempre mereceram todo o meu respeito. Conheço muito bem a trajetória das prostitutas desde o surgimento da primeira associação de trabalhadoras do corpo, liderada pela socióloga Gabriela Leite, que lutava pela regulamentação e proteção das prostitutas em todo o país. Lembro de levar essa discussão – de claro cunho socialista – para a faculdade de medicina e receber o natural rechaço dos colegas e o desprezo dos professores. Naquela época me intrigava a expressão que Gabriela usava: “Por que o trabalhador se deixa explorar na parte de cima do seu corpo e nós não podemos usar a parte baixo?

Uma das frentes de luta das prostitutas era exatamente o que citei lá em cima: o “puteiro”. O prostíbulo era também chamado de “casa de tolerância”, porque lá se toleravam as explorações das mulheres em nome do desejo, por ser um lugar absolutamente selvagem dentro das sociedades, existindo como um enclave de barbárie nas cidades contemporâneas. Ali onde a civilização não ousava entrar, o poder era dos mais fortes e a Lei era a da selva.

Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não para.

Por isso Cazuza não fala das putas, e nem eu. Falamos da construção social ao redor delas, o entorno de exploração e escravidão a que elas se submetem ao ousarem vender seu corpo. Falamos da ausência de Lei e estado na organização de um comércio tão antigo quanto o próprio patriarcado e da história como a concebemos.

Putas somos todos nós. Somos estas entidades de carne que se desfazem lentamente em um estado leniente com a exploração, e que tanto nos afeta quanto nos desumaniza. Putas somos nós governados por cafetões que usam nosso corpo de trabalho cujo resultado fica na mão dos donos do bordel e não serve para nós oferecer um mínimo de dignidade.

Pelas putas, sim… mas contra os puteiros indignos e imorais que nos aprisionam.

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