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Ingenuidade

No dia 21 de maio 2024 aconteceu (mais uma) bela lapada em todos os tolos da esquerda liberal que acreditaram que o marreco de Maringá um dia seria punido. O ex-juiz Moro foi absolvido no TSE por 7 X 0.  A esperança ingênua de que fosse feito justiça por um órgão historicamente golpista é a marca registrada de uma esquerda que não aprende as lições, apesar da severidade dos acontecimentos. Nossa fé em figuras medíocres como Carmem ou Alexandre, sem falar nos nefastos Nunes e Mendonça do STF, é atestado de infantilidade política. A direita tem mesmo suas razões para reclamar do autoritarismo desses personagens, mesmo que por razões não democráticas.

Uma esquerda que serve de suporte acrítico às instituições burguesas – polícia, forças armadas, supremo – não mereceria sequer o nome de esquerda, pois é impossivel aceitar docilmente que a salvação da democracia brasileira pudesse vir dos representantes máximos da burguesia nacional. Acreditar nisso é o mesmo que exigir de um rebanho de ovelhas que apostem no bom coração e nos princípios dos lobos para escapar da carnificina. Antes de construir um movimento forte é necessário reconhecer seus inimigos. Como diria Sun Tzu “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.”

Respondam com sinceridade: se fosse Lula a sentar no banco dos réus no TSE, acham mesmo que a “prudência” seria utilizada para seu julgamento? Estariam os ministros tão aferrados à uma interpretação benigna das ações do ex-presidente? Lula foi preso por um apartamento que nunca foi seu!! Dilma foi defenestrada sem cometer qualquer crime. José Dirceu foi condenado sem provas, mas pela “literatura internacional”. Se necessário, o judiciário tira leis da cartola para condenar a esquerda – sem vergonha alguma para criar suas próprias leis, no melhor estilo ditatorial. A história recente dos julgamentos de personidades da esquerda mostra que a balança sempre pesa contra o povo e a favor dos representantes das elites financeiras e do poder burguês. Aceitar passivamente essas instituições é uma ingenuinade que não se pode admitir para partidos que pretendem mudar a história desse país.

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Duvivier o Supremo

Gregório Duvivier é a mais perfeita explicação – existem outras – para o fracasso retumbante das esquerdas no Rio de Janeiro, fracasso esse que permitiu a ascensão da direita miliciana e dos candidatos de extrema direita evangélica. Sim, eu sei que há outros fatores relevantes, mas quando nomes como o de Márcia Tiburi assumem protagonismo político no PT da cidade isso é uma sinalização clara do drama que se abateu sobre a esquerda carioca, incapacitada de apresentar candidatos que representem a classe operária e suas demandas.

Gregório é o Luciano Huck da esquerda: rico, midiático, com sucesso profissional e oriundo de família burguesa, ele é um personagem facilmente identificado com a esquerda identitária do Brasil, e mais especificamente a esquerda do Rio de Janeiro. Enquanto Luciano faz assistencialismo barato e oportunista, arrancando lágrimas do público ao arrumar casas e carros de “eleitos”, Duvivier usa o identitarismo como forma de engajamento social, e isso explica sua atual defesa rasgada da nomeação de uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal. Ao lado disso, faz ataques explícitos ao Ministro Zanin por votos que não contemplam (no seu ver) sujeitos que, como ele, circulam no jet-set do Leblon e defendem pautas importadas do Partido Democrata americano.

“Maconheiro” assumido, fez dessa prática uma plataforma política, usando-a como emblema pessoal através das piadas que sempre faz sobre o tema. Entretanto, a despeito de serem questões respeitáveis, quando a cor e o gênero de uma ministra do STF, assim como a liberação do uso de drogas, se tornam plataformas mais importantes que as lutas da classe trabalhadora por moradia, alimentação, escola, e justiça social estamos diante de um problema grave, porque uma pauta periférica assume uma preponderância imerecida.

E veja; nada a reclamar de quem faz apologia da liberação da maconha – uma luta da qual eu me engajaria sem pestanejar – mas quando um humorista como Gregório Duvivier assume a condição de porta-voz e representante das demandas da esquerda usando essa bandeira isso se torna uma grave perversão do ideário da classe trabalhadora e os caminhos que ela pretende trilhar. Os recentes ataques ao portal 247, por meio do humor e do deboche – e aqui deixo minha defesa do deboche como ferramenta de crítica política – são movimentos claros em defesa do identitarismo como via de combate social. A insistência na estratégia de representatividade e visibilidade de grupos oprimidos persiste mesmo quando sabemos dos péssimos exemplos obtidos com esse tipo de política, em especial no quer diz respeito às indicações ao STF.

Joaquim Barbosa é o caso mais emblemático: negro e oriundo das camadas populares ele foi exaltado pela imprensa burguesa pela sua ação moralizante, devastadora e antipetista no Mensalão, o qual foi o grande tubo de ensaio para as jornadas de junho, a Lava Jato e os golpes contra Dilma e Lula. Hoje recolheu-se ao silêncio. Para além dele, as mulheres indicadas ao STF tiveram um comportamento tão ruim quanto o “representante negro”, basta lembrar os votos de Rosa Weber (“não tenho provas, mas a jurisprudência me permite”, ou “não concordo, mas voto pela colegialidade”) e o comportamento francamente golpista de Carmem Lúcia na prisão de Lula, agredindo despudoradamente a Constituição. O pior erro, nestes casos, é se surpreender com as ações desses ministros; basta lembrar o papel do STF no golpe de 1964 e na consolidação do golpe contra Dilma em 2016. É importante entender que tais personagens fazem parte da cúpula do poder burguês no Brasil, sem qualquer compromisso com as demandas de defesa do Estado democrático de direito e da constituição de 1988. Portanto, sabendo de qual classe eles são oriundos, é uma ingenuidade inaceitável acreditar que algo progressista possa brotar do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, sua origem, cor e gênero não os impediram de sucumbir espalhafatosamente às pressões da burguesia que os domina, mastiga e engole.

Resta lembrar que o STF é um órgão que só se justificaria pela defesa da Constituição, nada além disso. Seus ministros não têm cargos representativos, como ocorre no legislativo e executivo. Assim sendo, a indicação a este cargo deveria levar em consideração tão somente a história pessoal do candidato nos debates jurídicos e constitucionais, e não por “advogar” para grupos e minorias, em especial quando ele próprio se beneficia das decisões. Por estas razões, acredito que a defesa de Duvivier de uma mulher negra para o STF terá como resultado o oposto do que deseja: exatamente por seu ativismo a indicação será vista com reserva, porque vai escancarar o fato de que não há real preocupação com o garantismo constitucional, mas com a mais pura e aberta defesa do identitarismo dentro do STF.

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Ilusões

Já é hora de parar com a mania que a esquerda liberal tem de fazer elogios rasgados e imerecidos ao STF. O supremo tribunal é uma instituição pusilânime, que referendou todos os golpes no Brasil, e Lula tinha razão quando denunciou sua covardia. Em 1964 estiveram ao lado dos interesses americanos e dos militares golpistas e lhes ofereceram o arcabouço jurídico para as suas ações. Em 2016 chancelaram o golpe contra a presidenta Dilma sem que houvesse qualquer crime de responsabilidade. Sim, e o agora exaltado Lewandowski estava à frente desta aberração.

Não tenho qualquer ilusão com esta instituição burguesa, onde um conhecido antipetista autoritário, cortador de pés de maconha, e preferido do golpista Temer, virou “herói” nacional. “Cria cuervos” é só o que digo sobre Alexandre de Moraes. Não tenho dúvida alguma de que, mesmo depois do desastre Temer/Bozo ocorrido nos últimos 6 anos, os ministros do STF estarão ao lado do sistema financeiro e das instituições burguesas – como sempre fizeram – caso estejamos diante de uma nova crise institucional.

Não há como esquecer que foram eles que promoveram o golpe de 64, produziram a farsa do Mensalão, bloquearam Lula de assumir um ministério no governo Dilma, permitiram o golpe contra a presidente eleita, assim como o impedimento da candidatura de Lula e sua posterior prisão. Só liberaram Lula quando o fracasso retumbante do governo Bolsonaro era evidente e estava prejudicando a imagem externa do Brasil. Se dependesse de figuras como Xandão, Toffoli, Fuchs, Rosa Weber, Carmem Lúcia e Fachin, Lula permaneceria preso, ainda que comprovadamente inocente e mesmo depois da VazaJato.

E sim… precisamos entender que Bolsonaro é o resultado do processo acelerado de falência do capitalismo, e não sua origem. Bolsonaro não tem capacidade para ser o criador de nada. Se não fosse Bolsonaro seria outro a ocupar o posto de liderança do fascismo brasileiro; Mourão, Braga Neto, Moro, Dalanhol, General Heleno entre outros poderiam estar em seu lugar. Estes personagens são provavelmente muito mais perigosos que Bolsonaro, exatamente por não serem tão incompetentes e ignorantes quanto este. De nada adianta prender o ex presidente por seus múltiplos crimes sem enfrentar o bolsonarismo, o nazifascismo tupiniquim e a extrema direita imperialista, que floresceram no Brasil como reflexo das crises do Imperialismo.

A esquerda precisa entender que não podemos esperar que uma instituição criada para proteger a burguesia e seus interesses – o STF – seja capaz de liderar mudanças marcantes na estrutura perversa do capitalismo brasileiro. Abandonar nossas ilusões infantis sobre tais instituições arcaicas é um dever de quem deseja a transformação radical no mundo.

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