Esta seria a imagem de Maria, mãe de Jesus, uma palestina analfabeta que nasceu num lugar extremamente miserável na periferia do Império, na Palestina ocupada por Roma. Ela foi descrita por Chico Xavier e transferida para a tela por um artista mineiro. Como pode ser constatado, é uma Maria europeia e ariana, tão branca quanto as imagens do Jesus germânico que ainda percorrem o imaginário, difundidas pelo cinema. É fácil constatar que o espiritismo, como toda seita cristã que se preze, embarca na canoa do embranquecimento dos palestinos, aceitando como fato uma Maria que em NADA se parece com as mulheres extremamente pobres das populações palestinas de dois milênios passados. Esse trabalho do artista Vicente Avela, baseado na descrição pormenorizada de Chico Xavier, me faz lembrar o apoio explícito do grande médium mineiro à ditadura militar de 1964. Tanto a descrição europeizada de Maria quanto o apoio ao golpe militar de 64 são a comprovação de uma dessas teses excludentes:
1- Os fenômenos mediúnicos de Chico são derivados do mais puro “animismo”, ou seja, criações do próprio espírito encarnado, que transfere para os seus escritos as suas próprias ideias, perspectivas, visões de mundo, seus preconceitos, seu talento, sua cultura e seus erros conceituais. Seriam a expressão clara de Francisco Xavier, e não mensagens de espíritos desencarnados que se comunicavam com este plano. Ou seja: o apoio a uma ditadura brutal e a noção de uma Nossa Senhora bonita, delicada e de pele alva – contrastando com o que se esperaria de uma Palestina miserável que viveu há 2 milênios – seriam fruto das ideias próprias de Chico Xavier, e não fenômenos “extrafísicos”. Outra perspectiva seria…
2- A espiritualidade que nos rodeia, e também ao Chico Xavier, seria tão afeita a estes erros – uma Maria ariana e a venda nos olhos diante da selvageria de uma ditadura militar – quanto qualquer sujeito inculto, xenofílico e eurocêntrico, sem nenhum diferencial de ordem intelectual ou moral. Os espíritos, apesar de estarem do “lado de lá”, não teriam vantagem alguma quando comparados a qualquer ser humano encarnado de sua época. Ou seja: se são tão iguais à nós, fica difícil entender a razão pela qual insistimos em escutar seus conselhos. Por que faríamos isso se basta olhar para o lado em uma mesa de bar para escutar algo de igual sofisticação?
Eu, pessoalmente, fico com a segunda explicação. O entorno espiritual deve ser por demais semelhante ao que temos aqui. Os personagens desencarnados devem cultivar dúvidas semelhantes às nossas, e cometem erros que conhecemos bem. A diferença, se houver, se limita à percepção alargada da vida espiritual – e não muito mais do que isso.




