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Geni

Sim, é verdade que encontraram a minuta do golpe no gabinete de Bolsonaro, com as explicações para a tomada violenta do poder por parte da direita raivosa e ligada aos interesses imperialistas. Isso parece ser suficientemente grave para reconhecer que Bolsonaro tinha interesse em golpear a frágil democracia brasileira ao lado de seus comparsas da caserna. E não apenas isso: as provas materiais contra Bolsonaro se avolumam, não deixando qualquer dúvida de que ele planejava se manter no poder por meios obscuros e até violentos. Entretanto, não resta dúvida que as redes de comunicação do Brasil – Globo, Record, SBT e Band – também já tinham preparados, nas gavetas de seus executivos, os seus editoriais para divulgar em rede nacional no dia posterior ao golpe. Neles veríamos as explicações para a adesão ao ataque contra a democracia e, mais uma vez, a justificativa seria a “defesa da democracia” contra os interesses “comunistas”, para combater a “ditadura do judiciário” e o “mar de lama” da corrupção do PT. Seriam implacáveis com o Partido dos Trabalhadores e a esquerda, colocariam Lula e Alexandre de Morais na prisão e criariam do ar um apartamento, um barquinho de lata ou uma ligação com o PCC para jogar o povo contra seu líder.

Portanto, o combate ao bolsonarismo, como se ele fosse a origem do mal e o grande risco à democracia, é de uma ingenuidade inaceitável. Antes mesmo de Bolsonaro, o STF deu mostras de ser um órgão corrompido e politicamente orientado, legislando (sim, criando leis em estilo livre) sempre que os seus interesses foram ameaçados. Foi assim no golpe de 64, no mensalão, no golpe contra Dilma e na prisão criminosa de Lula, bastando lembrar o voto de Rosa Weber pela prisão do ex-presidente, uma das maiores vergonhas do judiciário brasileiro de todos os tempos, que rivaliza com a frase da mesma ministra no seu voto no julgamento do Mensalão: “Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.

Já Bolsonaro não passa de um idiota útil para a direita. Não existe nenhum intelectual conservador ou liberal que tenha respeito pelas suas capacidades de liderança ou pelas suas inexistentes qualidades morais ou intelectuais. Bolsonaro é a Geni da direita: desprezado, mal visto, desconsiderado, mas ao mesmo tempo popular e sedutor para uma parcela considerável da população, aquela que cai facilmente no discurso de força e de autoridade que viceja nas democracias liberais decadentes – vide França, Itália, Inglaterra, Polônia, Hungria. Isso atrai as massas deserdadas pelo capitalismo que adoram um ditador “mão forte”, vingativo, que represente o poder fálico do qual se ressentem, basta lembrar de Adolf e Benito. Mas bem o sabemos que Geni, da obra de Chico Buarque, não tinha poderes, apesar de ter sido incensada pelos poderosos e tratada como rainha quando foi necessária ao sistema. Na verdade ela era apenas o marionete de decote avantajado, manipulada pelos poderosos que estavam por trás de suas ações, os burgueses da cidade.

A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni…

Portanto, à esquerda não cabe a tarefa de se postar como mero contraponto ao bolsonarismo. Quando este personagem for finalmente soterrado, outro pateta útil será colocado em seu lugar, e aqueles que outrora o aplaudiam, que o exaltavam e se acercavam dele, vão tratá-lo como um lixo, uma excrescência, algo a ser esquecido e até amaldiçoado.

Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni

Já tivemos Joaquim Barbosa, Dalanhol e Moro ocupando esta posição, os quais, sejamos francos, seriam muito mais danosos ao povo brasileiro do que o ex-militar bunda suja. Eles têm a mesma vinculação com o imperialismo e com a burguesia brasileira, mas não possuem o carisma dos ídolos da direita como Orbán, Netanyahu, Trump, Bukelele, e o próprio Bolsonaro. E ao lado destes ícones do neofascismo sempre esteve a imprensa corporativa, do Brasil e do mundo, sem exceção, apoiando ações golpistas em nome de seus interesses. Aqui na aldeia ela esteve ao lado de Bolsonaro, pelo menos enquanto a tragédia do seu governo ainda podia ser sustentada. Como esquecer a “escolha difícil” do Estadão?

A solução para o Brasil é resistir à tentação de atacar Bolsonaro como se fosse a “origem de todo o mal”, mas educar o povo, mostrando que a solução será pela luta de classes, inobstante o espantalho que seja colocado pela burguesia para manter intocados seus poderes.

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Heróis do Futebol

Ronaldinho Gaúcho, Neymar Jr e Ronaldo Fenômeno

Os heróis culturais do esporte mais popular do planeta, expoentes em seus campos de atuação, são a consequência do sistema que controla o mundo e também esse espetáculo. Desta forma, Neymar jamais teria esse comportamento e essa fortuna se não fosse nutrido por esse maquinaria econômica. Apesar de reconhecer sua importância é forçoso entender que o mundo cria estes heróis com a mesma voracidade que os expurga. E não só no futebol, mas em qualquer área do entretenimento, da vida social e da política. Citando apenas a aldeia, onde estão agora os heróis do golpe midiático antipetista como Moro, Alexandre Cunha, Joaquim Barbosa senão em um merecido ostracismo, após terem sido alçados à condição de personalidades inatacáveis da cultura? Inúteis figuras, agora estão curtindo seus milhões, esquecidos e apagados.

Voltando ao futebol, Neymares, Cristianos, Ronaldos e tantos outros são o resultado da nossa neurose, o produto de uma complexa engenharia de mídia e poder econômico, trabalho de elaborada manipulação dos corações e mentes do mundo inteiro, controlada por gigantescos interesses econômicos e geopolíticos.

Por certo que os jogadores alimentam a cultura do “futebol moderno” – individualista, hipercapitalista, elitista – de forma dialética, mas não são seus causadores, sendo apenas o reflexo de uma estrutura social construída para valorizá-los. Criticar os ídolos é como criticar o policial que usa de sua autoridade delegada para bater em trabalhadores e professores quando, em verdade, eles são apenas os instrumentos de uma política estatal de punição das classes sociais exploradas e oprimidas. Olhar para personalidades fulanizando suas ações é perder deliberadamente a compreensão do todo e deixar de lado a ultraestrutura que os governa.

A figura do policial, do Neymar, da Anitta ou do Bolsonaro, apesar se serem importantes nessa equação, são descartáveis. Ronaldinhos e Pelés se aposentaram e foram trocados por outros, assim como músicos e políticos o são. A estrutura subjacente utiliza esses personagens para que se mantenha como fonte de lucros e poder para a elite invisível que a controla.

Atacar os heróis populares é atacar apenas a pequena parcela visível do iceberg, sem colocar a devida importância no gelo que se esconde abaixo da superfície e que, em verdade, é quem produz a pequena fração que se expõe para fora da água. Neymar é um excelente exemplo de um sujeito inserido nesse contexto, pois seu personagem foi manufaturado pela indústria bilionária do futebol. Os jogadores são proletários – apesar de uma diminuta franja ser muito bem paga – dessa gigantesca fábrica,e não são os responsáveis pela sua criação; apenas colaboram em sua mitologia e na manutenção desse empreendimento.

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