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A Esquerda e Maduro

A imprensa – repetindo uma crítica velha, que apenas se retroalimentou agora – diz que é um absurdo comemorarmos a vitória de Maduro – tratado como um ditador sanguinário – nas eleições recentes da Venezuela. Não poderia ser diferente, tendo em vista o tipo de imprensa frouxa que criamos no Brasil, Todavia, essa crítica emerge também de setores da esquerda, mas o que esperar de uma esquerda onde até um sionista ex-BBB, que apoia Tebet para as eleições 2026, se acha a última bolacha do pacote apenas pela sua vinculação identitária. Até este momento em que escrevo esta crônica o presidente Lula e o presidente Petro não reconheceram a vitória de Maduro nas eleições – o que mostra frouxidão no apoio ao governo de enfrentamento aos imperialistas. Para estes “esquerdistas”, é necessário defendermos a democracia liberal burguesa a qualquer custo, nem que para isso usemos a narrativa produzida pelos “think tanks” liberais e as próprias palavras com as quais o imperialismo nos descreve.

Para os epítetos oferecidos ao presidente Maduro pela nossa imprensa “isenta”, resta explicar como um sujeito pode ser “ditador” e vencer seguidas eleições democráticas e livres, vistoriadas sempre por inúmeras nações estrangeiras, inclusive recebendo delegações das várias “ditaduras” europeias, em especial da “ditadura” francesa, da “ditadura” inglesa e também de países da América Latina? “Ahh, mas ele impediu sua adversária de concorrer”. Bem, não foi “ele”, o presidente Maduro, mas o judiciário Venezuelano, que condenou uma candidata que teve inúmeras inconsistências na sua prestação de contas de seu cargo como deputada. Digam: como um sujeito assim seria tratado nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na Holanda? “Ahh, mas o judiciário de lá é controlado pelo governo”. Quem disse? Quem prova? Olhem o Brasil, como exemplo: acham que Lula controla o STF – que inclusive o prendeu ao arrepio da lei? Bolsonaro é o principal nome dos fascistas e da extrema direita brasileira e está impedido de concorrer; é o conhecido “inelegível”. Porém, está nessa situação por crimes contra o sistema eleitoral transitados em julgado. Seremos uma ditadura por causa disso? Devemos aceitar qualquer violação à lei para satisfazer a sanha de controle por parte dos americanos?

O que significaria a volta da extrema direita à Venezuela, trazendo consigo o controle imperialista ao pais? Depois de um quarto de século de lutas por autonomia e controle de suas riquezas, como ficaria o país sendo novamente entregue às potências estrangeiras? Não seria justo que a vitória (mais uma vez nas urnas) da Revolução Bolivariana fosse  comemorada e entendida como uma conquista do povo na sua luta por autonomia? Tais esquerdistas liberais não conseguem se dar conta que essa narrativa de “Maduro ditador” é uma construção do imperialismo para atacar qualquer líder popular que desafie o Império e seus interesses. Cegos pela propaganda intensa que lhes é dada para engolir, não perceberam as inúmeras mentiras contadas de forma repetitiva, da mesma forma como foram contadas sobre Dilma e Lula. Não é possível esquecer onde os sucessivos golpes e o “law fare” contra Lula nos conduziram: o Brasil foi colocado nas mãos de um ladrão, reacionário, entreguista e incompetente como Bolsonaro, cujos crimes expostos à luz do dia chocam qualquer sujeito minimamente honesto. Por obra do imperialismo,  todo grupo de resistência contra a opressão é chamado de “terrorista” (como o Hamas, o Hezbollah e os Houtis) e todo líder popular de esquerda ou progressista é tratado como ditador (ou narcoditador) como fazem com Kim Jon Un, ou Chávez.

O controle imperialista e os embargos criminosos contra um povo bravo que decidiu democraticamente não se submeter ao imperialismo levaram a décadas de dificuldades para o país caribenho. A derrota de Maduro levaria inexoravelmente ao poder a extrema direita ligada aos Estados Unidos, liberal, conservadora e violenta. E vejam: criticar Maduro é possível e até louvável, mas torcer contra sua vitória quando seus concorrentes são fascistas e entreguistas é apostar na subserviência da Venezuela ao imperialismo mortal, cruel e assassino. A direita chama a Venezuela de antidemocrática, e usam como argumento a pretensa fuga de venezuelanos para o Brasil através da fronteira. Por acaso a fuga de cidadãos, esmagados pelas dificuldades impostas pelos embargos americanos e pelas dificuldades econômicas da Venezuela, significa que o país é uma ditadura? Por acaso as dificuldades do país podem ser desvinculadas dos bloqueios criminosos contra o país? Aguardo as provas de que não existem liberdades democráticas na Venezuela, ou pelo menos que elas sejam menores que no Brasil e nos Estados Unidos. Aliás, nos Estados Unidos se você usar uma bandeira palestina ou se fizer boicote ao estado terrorista de Israel pode ser preso ou morto. Serão eles uma ditadura?

Muitos adversários costumam fazer pouco caso dos boicotes ao país. Dizem “O governo costuma culpar o embargo por tudo”…. mas não é para culpar? A estes pergunto: sabem o que representa para um país um embargo de remédios, comida, peças para máquinas, equipamentos médicos, tecnologia, maquinário etc., praticamente tudo que é produzido pelo comércio internacional? Quem não sabe, tente lembrar o que foi uma simples greve de caminhoneiros no Brasil e a falta de apenas um produto: a gasolina. Agora multiplique por mil e faça durar 20 anos e teremos as dificuldades da Venezuela. Acham que isso não é suficiente para destruir a economia de um país? Ora, sejam respeitosos com a verdade. E sabem por que os Estados Unidos organizam e promovem este tipo de torniquete sobre a economia dos países rebeldes? Para forçar o povo a odiar seu governo, pela mesma razão que Israel mata civis para fazer o povo palestino odiar o Hamas. É simples quando se abre os olhos…

Por fim: a Venezuela foi um dos países com maior crescimento econômico em 2022 na América Latina e registrou uma das principais expansões do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) também em 2023, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). E no primeiro semestre de 2024 a Venezuela já cresceu 7% (!!!!!)

A esquerda precisa acordar para estas narrativas conhecidas e gastas que não passam de pura propaganda imperialista, armadilhas da imprensa corrupta do Brasil e de fora daqui que tem o claro objetivo de manter a América Latina sob as botas dos imperialistas do norte.

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Arquivado em Causa Operária, Pensamentos

Verdades inconvenientes

Liberalismo não tem nada a ver com liberdade, mas com propriedade privada. As sociedades liberais se organizam a partir da premissa de proteção da propriedade privada dos meios de produção, e defendem essa prerrogativa mesmo que às custas de aceitar a pior das barbáries humanas: a escravidão. John Locke, grande teórico do liberalismo, enriqueceu com o comércio de escravos. Como pode um sistema que diz lutar pela “liberdade” aceitar o lucro com a venda escravos como um meio lícito de enriquecimento?

A polícia, desde sua origem, existe para defender a propriedade, não as pessoas, e a defesa do sistema liberal é a tarefa primordial dos policiais. É por isso que se um ladrão roubar seu carro a polícia atira para matar; é evidente que, para este sistema, os objetos e as propriedades, são mais sagrados do que a vida. As forças de repressão, inseridas nesse modelo, servem como primeira linha de contenção contra a revolta popular. Que outra maneira haveria para conter o ódio das massas para a realidade do liberalismo, onde 1% da população concentra metade da riqueza de um país, como é o caso do Brasil?

Nossos mitares são todos corrompidos pela visão imperialista, e não é à toa que existe uma franca vinculação dos nossos comandantes com as forças armadas americanas. Esta conexão foi forjada por anos de cursos, intercâmbios, propaganda (inclusive do cinema), recursos, negócios, doações e treinamentos para manter as forças armadas como fiéis defensoras da propriedade, da burguesia e da elite financeira. Para isso, recebem como recompensa a blindagem histórica sobre seus malfeitos – da corrupção à tortura. Não é de se espantar o pendor golpista desses militares, desde sempre.

Nosso judiciário é formado pelo suco do poder burguês, com linhagens de juízes e desembargadores que se sucedem na cortes de todos os níveis, sendo o aparato mais moderno e sofisticado – usado em várias latitudes – para a fomentar a guerra híbrida. Para constatar a participação do judiciário na política basta ver a epidemia de “law fare” que ocorreu no Brasil, Argentina, Peru etc. nos últimos anos. Tornou-se muito mais barato para a matriz financiar meia dúzia de juízes (como Sérgio Moro) através de convites, treinamentos, homenagens, aulas e palestras pagas do que apoiar uma quartelada golpista como nos acostumamos a ver no sul global nos anos 60-70 do século passado.

A mudança do Brasil se inicia reconhecendo essas verdades doloridas, aceitando que nenhum tipo de reformismo produzirá uma mudança substancial na estrutura de poderes do Brasil. Perdemos tempo demais imaginando consertar estruturas corroídas e anacrônicas, ou tentando atalhos que nos iludem, como a perspectiva identitária. Somente uma mudança que leve em consideração os 99% de brasileiros que fazem a riqueza desse pais poderá nos fazer avançar como nação.

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Arquivado em Ativismo, Política

Inquisição

As inúmeras piadas que debocham do presidente Lula chamando-o de “analfabeto” e todos os sinônimos de “ignorante” confirmam meu post anterior. Nunca foi corrupção o que move os odiadores de Lula; sempre foi nojo de pobre e trabalhador. Preconceito de classe sem máscara. Mesmo com a fantasia lacerdista de “combate ao mar de lama”, a verdade uma hora acaba aparecendo. Todo ato falho acaba se evidenciando na fissura que separa as palavras, no chiste, no erro ou na quebra.

O Lula não tem o direito de ser o presidente dos seus iguais. Os outros podem até roubar abertamente (o mensalão tucano prescreve agora) mas o PT, o Lula? Não… ele fala mal e não conjuga bem os verbos. Só o resto do mundo pode exaltá-lo como a grande liderança que é, mas aqui jamais será perdoado do crime de ser pobre.

Mas…. se Lula for preso sem provas, ou apelamos para o domínio do fato, ou mesmo se seguirmos a pista que Moro deu e atendermos “o clamor das ruas” (os aldeões com archotes acesos queimando uma bruxa é a melhor descrição disso) o que vai impedir que eu, você ou qualquer pessoa seja presa com base apenas em convicções? Você nunca pensou no significado disso para a vida dos cidadãos comuns? Como ficam os julgamentos banais do cotidiano quando desprezamos as provas e apelamos para o convencimento emocional dos juízes? O que vai impedir QUALQUER magistrado de prender alguém sem as devidas provas? Que significado haverá para a sociedade a tirania absolutista do judiciário?

Acha mesmo que a caçada a Lula não vai lhe afetar? Prove que o carro que você fez um “test drive” não é seu, ou o(a) namorado(a) que você teve não é seu(sua) esposa(o) devendo, portanto, dividir os bens e pagar pensão após o fim do namoro. Ou o contrário… prove que o apartamento pelo qual você lutou para pagar as prestações é verdadeiramente seu, já que os documentos nada valem diante das sólidas convicções de um juiz. Prove que o filho (não) é seu, ou que o salário (não) foi pago.

Se essa tipo de poder for dado aos juízes o que restará como proteção à nós, pessoas não-deuses?”

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