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Parto

Sonhei que havia parido uma criança na Santa Casa. Eu mesmo. Parto normal, e não me perguntem como. Antes de sair avisei todos em casa que eu ia ao hospital e já voltava. O nome da criança era George, provavelmente em homenagem ao meu tio Eric George Jones que faleceu há poucos dias. Pari sozinho, sem auxílio, mas lembro do neonatologista me procurando com a conta após o parto, já que eu não tinha convênio. Saí do hospital carregando meu filho em uma espécie de Van e coloquei o bebê, ainda envolto em lençóis, ao meu lado com a ajuda de duas funcionárias antigas do hospital. Tentei colocar cinto de segurança nele, mas o cinto era grande demais.

Pensei: “Só mesmo um homem para não se dar conta que não dá para dirigir um carro com uma criança solta no banco”. Sim, a gente não tem esses gatilhos. Nesse momento, George começou a conversar comigo sobre assuntos diversos enquanto eu dirigia. A voz era de criança, mas os temas bastante complexos. A solução que ele encontrou para não virar no banco do carona nas curvas foi se levantar e me abraçar. Assim ele ficava seguro enquanto eu manobrava.

Não existe sonho que não seja pleno de conteúdos. Sonhar que estou parindo é um tema muito comum e renitente para mim, só que dessa vez eu lembro até de ter feito força. Depois do parto ainda revisei o colo uterino (???). Pela manhã, durante o café, disse o nome da criança para minha filha que está grávida (dã) e ela achou o nome meio “palha”. Achei interessante a crítica que, ainda dentro do sonho, fiz à falta de habilidade dos homens para coisas básicas, como deixar o bebê seguro quando vai dirigir, mas também achei importante o simbolismo do bebê lhe abraçar como forma de buscar essa segurança. Talvez a mensagem mais importante do sonho seja que não há nada mais forte para manter alguém seguro do que o afeto explícito que podemos oferecer.

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Pensamentos mal humorados

Insistir na proposta neoliberal, o mesmo modelo fracassado que falhou em todos os lugares nos quais foi implantado (vide Chile), é aceitar a opressão de milhões em nome de uma fantasia.

É curioso como os espíritas têm – quase sempre – uma postura reformista relacionada ao capitalismo. Quase todos acreditam que a “evolução espiritual fará o sujeito menos egoísta e mais caridoso”. Ou como me diziam muitos, “Não importa o sistema; qualquer um será bom ou ruim, dependendo da pureza da alma das pessoas”. Segundo me dizia um ex-amigo “No futuro os empresários se negarão a explorar as pessoas porque terão Jesus no coração”. A ideia que perpassa é a de que o capitalismo, quando bem administrado, subverteria sua própria essência – o capital – e se tornaria humanista.

Nada pode ser mais ingênuo do que isso. Aguardar que a justiça social seja oferecida graciosamente pelos opressores é um absurdo tão gigantesco quando imaginar que na história do mundo alguma liberdade foi alcançada por “dádiva” – e não for luta e sacrifício. Já a caridade, para os espíritas, significa distribuição de rancho e roupinha para pobre; sopão e festa de Natal para criança. Em outras palavras, alívio das culpas acumuladas pela vida burguesa”, exatamente a mesma prática dos empresários picaretas e selvagens, ou das senhoras da alta sociedade que fazem chazinho beneficente para auxiliar a enfermaria de pediatria da Santa Casa.”

A caridade espírita é cristã: ou seja, visa manter a pobreza para que a caridade e os caridosos continuem necessários e exaltados. Nossa caridade é um dos braços mais poderosos para a manutenção da miséria. Por isso as instituições internacionais ajudam tanto os identitários: para manter a sociedade dividida e manipulada, ávida por ajuda que caia do céu.

Estou farto dessa caridade dos caridosos. O mundo não precisa dessa esmola, dessas migalhas. Precisamos de justiça social, equidade, respeito à natureza e o fim do capitalismo. Ou como diria HOJE Alan Kardec “Fora da justiça social não há salvação”. Não é?

O Terceiro setor – as ONGs e similares – são a representação inequívoca da falência do Estado. Tapadores de buracos. Participei de várias a vida inteira, e com orgulho – especialmente da ReHuNa – mas sempre soube que nossa existência era a imagem perfeita da incompetência do Estado para realizar estas funções. Eu gostaria que a ReHuNa deixasse de existir, por ser desnecessária. Os colegas que ainda estão lá, entretanto, serão necessários ainda por um bom tempo.

Quando ouço falar de “Hospital de Caridade” me dá calafrios. O mesmo mal-estar que eu sentia ao ouvir o nome completo da Santa Casa: “Santa Casa de Misericórdia” que deixava claro que você só estava sendo atendido lá porque alguém teve pena de você, e não por ser seu direito constitucional à saúde. Eu pergunto: desde quando cidadão precisa “caridade”??? Saúde não se ganha, se conquista através de políticas públicas. Filantropia é um remédio amargo e indigesto, cuja finalidade é manter um sistema injusto e cruel através da dominação e dependência. Qualquer país minimamente decente acabaria com todos os sistemas de filantropia interna.

Quem assumir em 2022 receberá um país dividido, em frangalhos, com a infraestrutura destruída por Moro e depois complementada por Bolsonaro/Guedes, sem emprego, sem estatais para alavancar o desenvolvimento, com teto de gastos e ainda controlado por uma elite financeira exploradora e uma burguesia de rapina, as mesmas que escondem dinheiro no exterior.

Nunca houve ‘taxação justa’ do setor produtivo, muito menos agora onde a sonegação bate recordes.

É preciso subjugar as forças armadas golpistas, exterminando o padrão reacionário que existe em seu seio tal como bem conhecemos. É preciso punir os militares assassinos e corruptos, como o comandante dos massacres do Haiti. Sem o fim do “partido militar” e de seus militantes nunca avançaremos. Precisamos fazer o resgate da história, corrigindo o erro da “transição pós 64”. Sem isso teremos nova crise militar em poucos anos.

É preciso acabar com a classe burguesa no poder. Esse é um projeto de décadas, mas o único onde é possível vislumbrar um futuro possível. O fim do capitalismo é a única esperança de continuidade da espécie humana. As pandemias em sequência e o colapso do sistema capitalista são avisos claros de que esse sistema de dominação e opressão não tem mais força para manter este planeta.

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Síndromes

Casal alemão

Esta é uma história interessante sobre conhecer as alternativas para poder usufruir das escolhas.

Um casal se conhece em um distante distrito rural no noroeste do Rio Grande do Sul no fim dos anos 40. Oriundos de uma cultura alemã eram dois agricultores simples e de pouca cultura. Ambos virgens e “passados” em idade, com mais de 40 anos. Durante 3 anos tiveram relações, mas ela disse a ele que tinha uma espécie de “fraqueza” e por isso não menstruava. Um dia o marido foi convidado pelos amigos do “Clube de Bolão” (muito comum nas comunidades alemãs do interior do RS) para jogar contra um time de uma comunidade próxima. E lá foi ele, na boleia de um caminhão. Após o jogo os colegas da outra cidade (um pouco maior) convidaram o time adversário e fazer uma festa na “zona do meretrício”. Mesmo com as reservas do nosso amigo, ele aquiesceu e resolveu experimentar os “sabores da carne”. Foi uma experiência dramática…

Quando chegou em casa pegou uma pequena mala, arrumou suas poucas roupas e disse à mulher: “Arrume suas coisas. Vamos agora mesmo para Porto Alegre falar com um doutor. Você não é normal“. Claro, teve que explicar a ela como havia feito tal constatação, mas diante da descoberta dramática ela sequer se importou. Aquilo seria a resposta para muitas de suas próprias indagações. Aquilo explicaria porque ela sempre foi “diferente” das demais meninas.

Ao chegarem à capital foram atendidos por um professor meu, já falecido, Prof Krieger. Ele examinou a paciente e explicou a eles a síndrome de MRKH – Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser – que consiste em agenesia vaginal e uterina, mas com os ovários íntegros e funcionantes (o que explica a manifestação de caracteres sexuais secundários, como pelos pubianos, deposição de gordura corporal e crescimento das mamas). Havia apenas uma pequena reentrância de menos de 3 cm no introito vaginal. A solução (na época) seria cirúrgica, e complementada por dilatadores.

Uso esse caso sempre para mostrar que, se você não conhece as alternativas, não tem como fazer uma escolha consciente. O marido era feliz, pois acreditava que o sexo fosse apenas aquele exercício de encostarem-se mutuamente, sem uma penetração efetiva. Quando pode avaliar uma relação sexual “completa” é que conseguir ver o quanto havia de estranho na sua vida sexual.

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