Empresários da Intolerância

Eu prefiro ver a emergência de sentimentos discriminatórios nas últimas entrevistas com “pastores” de igrejas evangélicas através de uma análise mais mercadológica. Os tais defensores dessas visões homofóbicas sabem que existe uma parcela minoritária da população que simpatiza com as teses de extrema direita. Os consumidores desse tipo de visão de mundo são frequentemente sexistas e preconceituosos, brancos, moralistas e muitas vezes ligados a uma religião. Fundamentalistas e oportunistas, tentam explicar a sua condição social superior através de uma espécie de “essencialismo”, ao estilo de Calvin Candie em Django Livre, que justifica as diferenças sociais ligadas às raças com explicações genéticas e frenológicas estapafúrdias. Para esse grupo “reacionário” sempre haverá prepostos, “escolhidos” para levar adiante suas ideias. E essa escolha por um “nicho de mercado” está relacionada aos 20 bilhões de reais que verteram para as igrejas brasileiras no ano de 2011. Muito dinheiro para ser dividido entre alguns poucos empresários da fé.

Bolsonaro, militar aposentado e deputado do Rio de Janeiro, é popular por essa mesma razão: ele representa essa parcela minoritária – mas significativa – da população. Os disseminadores das teses da direita falam àqueles que se sentem amedrontados com o surgimento de uma maior liberdade sexual. Quanto mais livre a sexualidade, mas ela é ameaçante à vista de alguns. Enquanto o homossexualismo era a explicação mais fácil, tornado desvio e doença pela oficialidade que redigia o DSM, ele estava restrito aos consultórios médicos. Após a queda do “Muro de Pedra” (Stonewall, boate gay de Nova York que foi invadida pela polícia no início dos anos 70), e a consequente reação do universo homoerótico, o mundo não seria mais o mesmo. Surgia a homossexualidade e os conceitos de “opção” e posteriormente “orientação sexual”.

Mas a liberdade cobra seus preços. Entre eles a “homofobia”, fruto da abertura sexual, exatamente porque a liberdade de expressão é opressiva para aqueles que se julgam ameaçados pela pluralidade de opções. Esses grupos reacionários normalmente atacam o que mais temem, e usam explicações de ordem religiosa (assim como Calvin Candie usou a Genética, em Django Livre, para explicar a escravidão) para levar adiante suas ideias segregacionistas.

Minha posição, diante dessa especial visão do problema, é ignorar os arautos da “decência sexual”, não dar publicidade aos seus pressupostos e não difundir suas ideias (que é exatamente o que eles querem quando expõem suas declarações escandalosas). E isso não é omissão, pelo contrário. Trata-se de uma estratégia para manter esses grupos como minoritários, e não permitir que suas ideias grosseiras e discriminatórias se propaguem.

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