Arquivo do mês: julho 2018

Pudor

Uma vez eu disse uma frase no meu Facebook que ajudou a piorar minha fama. Na verdade era a pura expressão de uma percepção que eu tinha de mim mesmo, e não dos outros. Mesmo assim, levei paulada. A frase era até bem simples: “De todas as virtudes de uma mulher a que mais me atrai é o pudor“.

Evidentemente eu falava de uma perspectiva subjetiva e bem pessoal, mas algumas preferiram tomar isso como uma afirmação prescritiva e, como de hábito, choveram afirmações redundantes como “a mulher se veste como quiser”, ou as previsíveis “mulher se veste para si e não para os outros”. É óbvio que se veste como quiser; hoje em dia quem ousaria questionar esse direito? Também é certo  que se veste para si mesma, mas sempre em função do olhar do outro.

Apesar das contrariedades, mantive o que disse até porque não se tratava de uma “opinião”, mas de um sentimento, absolutamente pessoal, que fala de mim e não das mulheres. Também não acredito que haja uma maneira “correta” ou justa de se vestir, e esta liberdade vai desde o nu total à roupa de uma marquesa francesa do século XVII. Não faço mais julgamentos sobre a forma como os outros se cobrem.

Entretanto, o pudor é o mistério que sussurra. Ele provoca e instiga ao invés de oferecer sem luta. Produz uma mobilização interna que vai além do olho, e se acomoda nos porões obscuros de nossa imaginação. Por isso casei com a mais recatada das mulheres, a mais reservada e cuja alma, ainda hoje, guarda segredos a serem perseguidos. E acreditem, o pudor foi o gatilho.

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Curso Homeopatia para Profissionais do Parto

Curso Homeopatia para Profissionais do Parto

Duração: 16h (2 dias)

Valor promocional: R$ 550,00

Data:_______

Programa:

  1. Por quê homeopatia?
  2. Paradigmas de compreensão do binômio saude-doença.
  3. Antropologia da doença e formas terapêuticas.
  4. Hahnemann e a história da Homeopatia
  5. O que é homeopatia? Individualização, dinamização, abordagem sistêmica e paradigma relacional.
  6. Repertórios, pesquisas e Matérias Médicas
  7. Humanização do Nascimento
  8. Quando e porque tratar com homeopatia
  9. Homeopatia na Gestação
  10. Homeopatia no parto
  11. Homeopatia no puerpério
  12. Principais medicamentos e seu uso
  13. Como formar uma botica homeopática.

Para maiores informações entrar em contato:

Ricardo Herbert Jones

Fone: 55 51 999810445

ricardoherbertjones@gmail.com

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O passado presente

Quando eu tinha 5 anos de idade aconteceram duas coisas importantes na minha vida: o Brasil mergulhou em uma ditadura militar que durou toda a minha infância até a entrada na vida adulta e meu pai fez uma inusitada e incrível viagem de estudos à França, onde ficou por 6 meses.

Quando na minha entrada na adolescência eu disse ao meu pai que ele era um sujeito de muita sorte, pois teve a possibilidade de conhecer Paris e Marselha; Nice e Lyon. Ele me respondeu de forma profética: “Isso não é nada. Quando você tiver a minha idade estas viagens, que hoje parecem tão difíceis e caras, serão tão acessíveis quanto pegar um ônibus até o centro da cidade”.

Hoje percebo o quanto estes fatos me marcaram. Não só não consigo aceitar o novo golpe que nosso país sofreu como me tornei um viajante compulsivo. Nunca menospreze a importância das experiências primitivas na constituição do sujeito.

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Ética profissional

Surgiu um interessante debate a respeito da interferência dos profissionais na escolha da abordagem terapêutica de pacientes. Fiquei com esta dúvida: Recomendar que alguém mude de psicoterapeuta ou de abordagem psicológica seria antiético sempre? Por quê? Recomendar que uma gestante mude de profissional e de abordagem obstétrica é antiético quando sabemos da vinculação desse profissional a um modelo quando a paciente explicitamente deseja outro? Por que damos tantos conselhos a gestantes sobre seus profissionais e não podemos fazê-lo com os neuróticos e deprimidos à nossa volta?

A vinculação do paciente a uma corrente psicológica (comportamental, humanista, Gestalt, psicodrama,  psicanálise ou psicologia analítica, põe exemplo) se relaciona aos seus valores e visão de mundo. Entretanto, muitas vezes a paciente diz “Adoro meu …… (analista,  psicólogo, terapeuta, etc) mas apesar dessa ligação não vejo progresso nos meus transtornos dentro da minha expectativa (que podem ser diferentes da minha ou do seu terapeuta, analista, etc).”

O que fazer nesses casos?  Silenciar? Quantas vezes escutei de pacientes de analistas “Não aguento mais aquela múmia. Não fala nada e não me dá um conselho sequer!!!” e diante disso eu dizia “Talvez psicanálise não seja para você, ou talvez precise de um analista menos ortodoxo“. Seria isso antiético ou a necessária reavaliação do choque entre expectativas e realidade?

Sim, eu entendo que não devemos induzir pacientes a romper vínculos de acordo com NOSSAS crenças e preferências pessoais. Não podemos transmitir “na marra” nossa visão de mundo a um cliente. Entretanto, essa condição precípua de respeito à energia transferencial não pode nos levar ao imobilismo diante da disparidade EXPRESSA entre os desejos do paciente e o que ele efetivamente recebe do seu tratamento.

Minha tese se baseia na contraposição à afirmação peremptória de que sugerir que um paciente mude de abordagem ou de profissional é uma conduta ANTIÉTICA e que feriria os princípios de nossa atuação profissional.

O vínculo é importante, mas não é sagrado. Os casos de escravidão mental com gurus e pseudo-terapeutas nos provam isso. Portanto, diante do PEDIDO ou da ABERTURA do paciente em questionar seu tratamento,  como fazem as milhares de gestantes que nos procuram, não devemos nos furtar a ter posição e auxiliar na busca por um profissional que se adapte melhor ao paciente.

Por outro lado, estamos de acordo que só podemos tocar na tessitura delicada da transferência quando o próprio paciente nos oferece esta posição ou em condições especiais (e bem mais raras) de abusos e violências ocorridas no âmago da relação profissional.

Espero ter sido claro em minha discordância e em minha concordância.

Se ele quiser sair sairá a seu tempo“. Sim, verdade… mas como? A forma mais tradicional é perguntar e questionar. No espaço cibernético das mídias sociais fizemos isso por quase 20 anos, e não me pareceu antiético. Entretanto, meu ponto de convergência é que não podemos ter uma postura messiânica e salvacionista. Nas palavras célebres deste espaço “a consciência é uma porta que só abre por dentro“. Assim, se é fundamental esperarmos os tempos e as falas, também é lícito estar preparado para uma demanda que surge de quem sofre, ao confrontar-se com a dificuldade de suprir suas demandas.

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Depressão

Quando vejo pacientes chorando em vídeos na internet dizendo “Não menosprezem a minha dor; depressão é uma doença grave e precisa de tratamento” eu automaticamente me compadeço e me identifico com o sofrimento do sujeito. Mais ainda, reconheço a necessidade de olhar para a depressão com cuidado e seriedade. Entretanto, por trás desses depoimentos surge uma imensa força de propaganda para que a depressão seja medicalizada, tratada como um transtorno físico, olhando-a por uma perspectiva ontológica e adorcista.

Logo depois destes depoimentos tocantes aparecem frases como “Depressão é doença séria, mas tem remédio“, fazendo-nos crer que se trata de um mal em si (e não um desarranjo funcional da própria vida) e que a cura virá de fora, com drogas químicas que agem no cérebro modificando suas respostas aos estímulos sensoriais.

Pois a verdade é bem diferente do que a indústria quer nos fazer acreditar. Os antidepressivos são repetidamente confirmados como placebos, com efetividade nula ou sem significado estatístico para comprovar um efeito positivo.

“Os ensaios clínicos descobriram, reiteradamente, que os antidepressivos ou não são mais eficazes que o placebo, ou são ligeiramente mais eficazes.”

Para maiores informações, clique aqui.

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Porta aberta

Eu concordo que romantizar parto e maternidade é um erro que pode custar caro. Lembro muito bem da frustração de mulheres que idealizaram seus partos de forma muito intensa e irreal e acabaram em cesarianas. Para estas a perda do “parto ideal” produz uma queda ainda maior por causa das expectativas criadas sobre o evento. Por esta razão é importante transmitir a elas a noção de que no parto, no amor e no sexo não há garantias e que é melhor que estejam preparadas para os reveses que podem vir a ocorrer.

Entretanto, também não é justo oferecer a elas uma visão negativa e catastrófica do parto e amamentação com a desculpa de que, assim “preparadas” para o pior, não serão pegas de surpresa. Para tudo há que buscar a moderação e o “caminho do meio”. Transformar o parto em um circo de horrores serve apenas àqueles que desejam manipular pelo terror.

Depois de atender por mais de 30 anos a estes eventos, com toda sorte de resultados, a minha postura se baseava numa frase que meu pai repetia: “Visualize o melhor, prepare-se para o pior“. Zeza tinha também uma expressão muito boa para esse dilema: “Você pode enaltecer o quanto quiser as virtudes do parto e da amamentação, mas deixe sempre uma porta aberta em seu discurso para permitir que a esperança entre quando os projetos não ocorrerem como os idealizamos.

Essa porta é o segredo, e sei o quanto é difícil mantê-la aberta. Entretanto, este é o ponto nevrálgico da preparação: capacitar as mulheres para que possam lidar com maturidade seja qual for o resultado.

(De uma conversa com Andreia Moessa De Souza Coelho)

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O que querem as mulheres?

Em um trabalho de 2002 a enfermeira e pesquisadora Ellen Hodnett reuniu 137 relatórios (estudos descritivos, ensaios randomizados e revisões de intervenções no parto) sobre os fatores que influenciam as avaliações de mulheres sobre suas experiências de parto. Quatro foram os fatores essenciais:

  1. Expectativas pessoais;
  2. A quantidade do apoio recebido dos profissionais;
  3. A qualidade do relacionamento cuidador/paciente e
  4. O seu envolvimento na tomada de decisões

Estes fatores parecem ser tão importantes e primordiais que sobrepujam as influências de idade, status social, etnia, preparação para o parto, ambiente físico do centro obstétrico, dor, imobilidade, intervenções médicas e continuidade nos cuidados.

Para este estudo os fatores afetivos e psicológicos sobrepujam as questões técnicas da assistência, a preparação de pré-natal, a continuidade no cuidado e inclusive a dor. Surpresos?

A conclusão de Ellen Hodnett é marcante:

“As influências da dor, do alívio da dor e das intervenções médicas intraparto na satisfação subsequente não são tão óbvias, tão diretas e nem tão poderosas quanto as influências das atitudes e comportamentos dos cuidadores”.

Uau!!!

Assim sendo fica mais fácil entender o sucesso do “Dr Frotinha”. Mesmo sendo um cesarista, sem vinculação com a Medicina Baseada em Evidências e com práticas agressivas, violentas, dolorosas e muitas vezes perigosas e ineficazes, sua abordagem afetiva e próxima pode oferecer às gestantes suas necessidades primordiais de afeto, reconhecimento e participação nas decisões. Assim, mesmo oferecendo uma assistência de baixa qualidade e desvinculada da ciência obstétrica, ele é capaz de transmitir uma ideia de cuidado, um clima de atenção e uma percepção de autonomia (mesmo quando ilusórias).

É evidente que não podemos nos colocar diante de um falso dilema. Não há porque contrapor a atenção centrada na pessoa e uma abordagem que estimula a autonomia com as evidências científicas e a prática humanizada. É, em verdade, exatamente o que a Humanização do Nascimento se propõe. É plenamente possível oferecer às mulheres o “melhor de dois mundos”. Não precisamos mais de profissionais “capengas” que ofereçam apenas um aspecto da atenção, relegando o outro lado ao desprezo.

Entretanto, este estudo evidência que, quando olhamos para o parto pela perspectiva das mulheres é importante não esquecer que o parto é um processo sexual e afetivo acima de qualquer outra consideração. Não é o medo da dor ou do excesso de intervenções o que mais as domina, mas o temor pela rudeza nas relações e o medo de não ser ouvida nas decisões sobre seu corpo e seu bebê.

Aceitar essa perspectiva nos ajuda a entender o que se passa na mente de uma mulher que vai parir. Se as ferramentas tecnológicas são capazes de nos garantir a devida segurança diante das patologias é fundamental entender que a maioria delas não tem muito mais de 100 anos de idade, enquanto o cuidado amoroso, empático, doce e próximo oferecido às mulheres têm a exata idade da existência do gênero humano nesse planeta.

Mais do que treinar profissionais de parto para uma atenção cientificamente embasada é também essencial selecionar aqueles que percebem na assistência sensível e amorosa o caminho mais seguro para um parto satisfatório.

PS: O nome disso é “sincronicidade”. Escrevi o texto acima – que fala dos aspectos emocionais e psicológicos como preponderantes na qualidade da avaliação das mulheres sobre o parto – após rever o trabalho da enfermeira Ellen Hodnett sobre o tema. Procurei uma foto sua para ilustrar o texto e lembrei no nosso breve encontro no Chile em 2012. Tinha na memória uma foto que tiramos juntos, mas sabia que jamais a encontraria e acabei colocando uma encontrada na internet.

Naquela data eu fiz a ela apenas uma pergunta: “É possível melhorar este sistema de atenção ao parto centrado no trabalho médico?”, ao que ela me disse apenas “não, este modelo não tem futuro”. Depois ambos falamos de netos; do seu que recém havia nascido em casa (e do vídeo do nascimento dele que tinha o barulho do aspirador de pó do andar de cima) e do meu primeiro, que nasceria alguns meses depois, de cuja existência eu havia sido avisado dois ou três dias antes.

Pois 20 minutos depois de publicar o texto baseado em seu trabalho o Facebook me lembra do aniversário de 6 anos desse encontro. Mais ainda: me mostra a foto que eu jamais encontraria se fosse procurar. Como explicar essa coincidência?

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