Arquivo do mês: março 2022

Notícias da Guerra

Pelo que escutei hoje as tropas do exército vermelho estão a 15 km da Praça Maidan. Creio que Putin está esperando um aceno de Zelensky, e por isso a chegada a Kiev parece progredir em câmara lenta. Mas concordo com John Mearsheimer: “se for necessário – na perspectiva russa – os exércitos entram em Kiev e colocam tudo abaixo”. E isso está no DNA de um país que passou por invasões e ameaças durante séculos. Putin não vai deixar um novo Fuhrer se criar na casa ao lado.

É só uma questão de tempo a queda de Kiev, mas creio que a Rússia se preparou muito para as sanções. Putin sempre teve isso no horizonte. Para a Rússia a questão da Ucrânia é uma ameaça à sobrevivência da nação russa, e por isso o arsenal nuclear foi colocado em alerta máximo. Como disse o professor John Mearsheimer (veja aqui sua excelente análise), não havia escolha a não ser a invasão e a destruição do arsenal militar da Ucrânia. E sobre as sanções… quem vai perder mais? A Europa ou a Rússia? Se estas sanções não derrubaram Cuba, Nicarágua, Coreia do Norte ou Irã, porque iriam derrubar a Rússia?? É apenas um castigo cruel dos feitores americanos punindo o que acreditam ser seus vassalos rebeldes.

Por outro lado, ainda vejo pessoas insistindo em debater a crise do leste europeu pelas lentes da “esquerda x direita”. Ora gente… são dois governos de direita se digladiando ferozmente!!! Não podemos entrar nessa fantasia de direita contra esquerda. Essa guerra não tem nada a ver com essas ideologias. A Ucrânia seria igualmente invadida se fosse comunista e estivesse ameaçando a Rússia dessa forma.

“Ah, mas não havia sinal algum de que a Ucrânia seria uma ameaça à Rússia. Por que a OTAN haveria de invadir ou ameaçar um país gigante como a Rússia?”

Ora, basta perguntar para Napoleão, as dez nações que invadiram a Rússia durante a Guerra Civil para auxiliar os mencheviques contrarrevolucionários. Podemos também perguntar quais os planos de Hitler e porque desfez o pacto Molotov-Ribbentrop para dominar os recursos – em especial o petróleo – da Rússia.

Se não fosse para ameaçar a Rússia, qual seria a razão de expandir as fronteiras da OTAN? Se não fosse para cutucar o urso no olho, porque as ameaças? Por que Zelensky falou explicitamente em colocar armas nucleares da OTAN em seu território? Por que a idolatria a figuras como Stepan Bandera, um colaboracionista nazi, e os símbolos do III Reich que enfeitam até os shoppings de Kiev?

E por que agora passamos a falar de “expansionismo russo” se jamais usamos este termos para as mais de duzentas invasões americanas nos últimos 70 anos? Quando os gringos invadiram o Panamá e sequestraram seu presidente, chamamos a isso de “expansionismo americano”? Por que – mais uma vez – dois pesos e duas medidas?

A Rússia não vai anexar a Ucrânia, pois isso seria uma estupidez, e os russos não são burros. A campanha russa é para criar um “buffer”, uma zona neutra desmilitarizada, e para desnazificar esse país, lotado de fascistas e nazi-lovers declarados. É exatamente por isso que, ao contrário de todas as invasões do Império (inclusive na Iugoslávia) não houve uma destruição massiva do país. Na Ucrânia não está ocorrendo nenhum abalo nas cidades, apenas de alvo militares – e, por certo, algumas adjacências, mas o número de mortos desta guerra é menor do que um fim de semana de carnaval nas estradas brasileiras. O objetivo da incursão russa é limpar, não destruir o país.

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Lembranças

A Igreja do Cebrero, no município de Pedrafita, província de Lugo na Galícia

As pacientes costumavam me contar do seu passado assim: “Bahhh, naquela época eu andava muito louca”, ou diziam “Só agora estou conseguindo sair de um período muito triste”. Entretanto, também falavam coisas do tipo “sim, aquele foi o período mais feliz da minha vida, mas eu não tinha consciência disso”.

A análise que faziam era sempre pretérita, como se a felicidade ou alegria só pudessem ser analisadas na distância garantida pelo tempo. Hoje eu penso que o futebol “das onze à meia noite” com meu filho e seus amigos eram momentos de esfuziante alegria, assim como os almoços de domingo quando meus pais eram vivos, com filhos e netos pequenos a colorir os espaço da casa deles.

Mas, quando essas coisas aconteciam, a vida real e concreta obliterava a precisa avaliação do esplendor de cada um desses momentos. O mundo que passa diante dos nossos olhos nos dificulta avaliar a real dimensão dos acontecimentos. É como postar-se diante de uma montanha que de tão alta nos impede avistar seu cume, e só quando nos afastamos é que podemos ver seu verdadeiro tamanho. Quando fiz o Caminho de Santiago com minha filha e minha sobrinha tive breves “flashes” em que eu conseguia sentir o êxtase daquela aventura, tentando apreender o gozo feliz do futuro antes que ele se tornasse memória.

Quisera guardar para sempre a emoção das crianças que tiram de cada momento a total emoção que lhe cabe. Queria voltar o tempo, sentar à mesa na casa da minha mãe e perguntar ao meu pai da vida e do mundo. Queria jogar bola com a garotada e sentir o prazer dos gols e das vitórias. Queria de novo caminhar livre pela Meseta contando os passos para chegar no Cebrero e depois em Santiago. Agora, só me resta viver cada um desses momentos na lembrança.

Mas sei que a vida é sopro e que os dias tristes e frios que se aproximam poderão se aquecer nas memórias felizes e assim afastar a inevitável tristeza destes tempos vindouros de sombra e despedida.

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Você é romântico?

Muitas vezes ouvi esta pergunta dirigida a um homem e até para mim mesmo. Sempre achei essa questão interessante, em especial porque ela esconde um truque.

Eu acredito que existem dois tipos de românticos. Via de regra, quando as mulheres fazem este tipo de pergunta estão querendo saber se aquele sujeito é um “romântico performático”. Isto é: um sujeito que manda flores, escreve bilhetes, faz declarações de amor, produz performances públicas de afeto, etc. Em verdade, se refere a uma manifestação exterior, uma encenação – verdadeira ou não – de conteúdos internalizados de desejo e afeto.

Todavia, esta não é a minha definição preferida, pois ela se refere a uma manifestação externa e superficial, que bem pode ser enganosa. Não são poucos os psicopatas que exercem o “donjuanismo“. Em verdade, a literatura e as colunas policiais descrevem sujeitos especializados em roubar senhoras solitárias usando essas sofisticadas técnicas de sedução com extrema capacidade e eficiência. Muitos são “românticos” que possuem um deserto no peito, e uma vida afetiva vazia. Outros amam a si mesmos, e usam o outro como escada para seu narcisismo.

Todavia, a definição que me atrai é a do “romântico raiz“, como um sujeito que acredita – de forma irracional – na ideia do amor romântico. Isto é: alguém que acha que a vida é melhor a dois, que uma união estável é prazerosa, que dormir de conchinha, ter alguém para contar as agruras do seu dia, ter filhos e netos e envelhecer juntos tem valor e sentido. O romântico seria alguém que sonha em ter alguém “para si”. Por esta classificação, o “romântico raiz” parte de uma posição subjetiva que dispensa qualquer performance. Não se trata de como atua, como se expressa, mas como sente e percebe sua própria sexualidade.

E vejam, aqui não faço nenhum julgamento de mérito. Acho o amor romântico um fetiche como qualquer outro, apesar de reconhecer que – ao contrário das cintas liga, dos chicotes e das roupas de couro – ele é socialmente aceito, admirado e estimulado. Creio que esse engajamento ajuda a oferecer mais estabilidade social ao patriarcado, e por isso valorizamos tanto os longos casamentos de figuras públicas – e mesmo dos nossos amigos.

Porém, não acredito que um sujeito seja mais feliz se for casado, ou eroticamente “comprometido”. Não existe nada que me convença que uma ligação amorosa estável, única e perene produz maior chance de uma vida feliz. Mesmo assim, reconheço que em nossa cultura amar e desejar seu/sua parceiro(a) para sempre é a suprema fantasia erótica.

E, por essa definição, sou um romântico irrecuperável

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Fragmentação e Unidade

Ah, mas a Rússia de hoje – e a União Soviética antes dela – é uma nação violenta e que só se importa com armas e guerra

Lembrem que se não fosse por uma preocupação obsessiva com a guerra e a defesa a Rússia não existiria, e estaria hoje dividida em múltiplas pequenas nações, frágeis e independentes umas das outras, mas subservientes ao poder das nações imperialistas. Seriam orientadas pelo controle central do Império a se odiarem de morte, soterrando suas semelhanças em nome de diferenças ridículas e desprezíveis. E sobre armar-se, em quantos dias a Coreia do Norte seria varrida do mapa não fosse por seu arsenal nuclear? As suas bombas continuam sendo a garantia de sobrevivência. Em quantas pequenas nações seria dividida a China, não fosse a revolução socialista de 1949 que criou o estado gigantesco e poderoso de hoje? As suas bombas continuam sendo a garantia de sobrevivência.

A intenção do imperialismo sempre foi dividir para enfraquecer, e desta forma facilitar a dominação. A guerra da Bósnia, no início deste século, foi o capítulo final da fragmentação da Iugoslávia, uma nação diversa, com uma cultura rica e multiétnica. O país era composto por seis repúblicas regionais e duas províncias autônomas, e estava dividido de acordo com os grupos étnicos que as compunham e que, após a morte do Presidente Tito na década de 1990, separou-se em vários nações autônomas. Estas oito unidades federais passaram a ser seis repúblicas: Sérvia, Macedônia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e as duas províncias autônomas ficaram com a Sérvia: Kosovo e Vojvodina. A guerra do Kosovo levou à perda desta região para os combatentes do ELK (Exército de Libertação do Kosovo – combatentes de etnia albanesa) após 79 dias consecutivos de intenso bombardeio da OTAN contra a Sérvia, destroçando a economia do país e provocando, posteriormente, a deposição do presidente Slobodan Milosevic. Mas na base destas ações no final do século passado e início deste estavam os interesses imperialistas de enfraquecer a região para mais facilmente controlá-la, incorporando as nações dissidentes à frente bélica da OTAN.

Existe um claro interesse do imperialismo em dividir as nações, torná-las minúsculas, facilmente controladas pela centralidade do Império, assim como foi feito pelos grandes impérios durante toda a história da humanidade. Após fragmentada a nação inimiga torna-se muito mais fácil colocar um títere qualquer no comando e comandá-lo com os cordões invisíveis da subserviência, do endividamento e do colonialismo.

É evidente que estas sempre foram as intenções das grandes potencias imperialistas em relação à Rússia. Um país gigante, com uma cultura poderosa, multiétnico, rico em recursos naturais que sempre despertou o interesse de seus vizinhos, de Napoleão a Hitler, mas que se mantém unida e cada vez mais forte em função de uma ideologia nacionalista de fortalecer a união de seu povo em torno da grande “Mãe Rússia”.

Também a multi fragmentação africana pelo colonialismo objetivava enfraquecer os antigos reinos e etnias que compunham a África pré-colonial. Mas não é necessário irmos tão longe: basta olhar para a América Latina fragmentada e perceber que sua divisão e o incentivo às disputas locais sempre foi do interesse do imperialismo para nos manter separados. As desavenças entre Chile e Argentina, Bolívia e Chile, Colômbia e Venezuela sempre estiveram na pauta do Império, estimulando desavenças para impedir uma real união contra as forças exteriores que nos exploram.

Qué pagará este pesar
Del tiempo que se perdió.
De las vidas que costó,
De las que puede costar.
Lo pagará la unidad
De los pueblos en cuestión,
Y al que niegue esta razón
La Historia condenará.”
(Canción por la Unidad Latinoamericama – Pablo Milanés)

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Psicopatas

Nas redes sociais adoram dizer que Putin é um “assassino psicopata”. Afinal, ele é russo e tivemos mais de 100 anos de propaganda imperialista para nos convencer que este povo comia criancinhas. Tudo isso é claramente intoxicação produzida por estes anos todos de propaganda americana. Aliás, aposto o quanto quiserem como estes que atacam o presidente russo são incapazes de sustentar a afirmação. Desafio que mostrem onde ele foi assassino e onde foi psicopata.

Ninguém responde a isso, o mesmo silêncio que sempre escutei quando pedíamos as provas de que “Lula é ladrão”.

Só uma dica: estima-se que Clinton + Bush + Obama mataram diretamente por volta de 11 milhões de pessoas em suas guerras. Isso sem contar as mortes decorrentes dos embargos, sanções, boicotes e sabotagens, ou as guerras por procuração, como as mortes produzidas por Israel. Digam onde o “assassino psicopata” Putin chegou perto disso.

Agora peço que mostrem a guerra que ele iniciou, o país que invadiu em busca de petróleo, o número de mortos, os governos nacionais que derrubou, os golpes que patrocinou e as cidades que destruiu.

Vamos, desafio…

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Os biscoitos

Há uns 20 anos atrás eu estava tomando um espresso em uma cafeteria do segundo andar do shopping Total aqui em Happy Harbor num dia chuvoso como hoje. Subitamente vi bem à minha frente uma senhora tropeçar no degrau que dava acesso às mesas e cair de forma espalhafatosa ao chão. Eu me levantei reflexamente para ajudá-la, mas fui impedido pelo seus gritos.

– Não me toque, eu quebrei a perna. Tenho osteoporose, sei como é!!

Minha reação foi pensar: “Senhora, não foi pra tanto. Foi apenas um tombo. Não precisa fazer esse drama todo“, mas quando cheguei bem perto e pude ver a barra da calça levantada ficou fácil constatar a evidente fratura da tíbia esquerda. Senti vergonha de ter desconfiado, ainda que em pensamento, da sua percepção da seriedade da queda.

Quando me dei conta da gravidade da cena falei para as pessoas ao meu lado: “Não mexam nela, a perna está mesmo quebrada na altura da canela. Chamem o SAMU para removê-la com cuidado. Eu sou médico e ficarei aqui aguardando”.

A dona da cafeteria, esbaforida e nervosa, ligou para o SAMU imediatamente. Naquele momento me vieram à mente meus anos de pronto-socorro e lembrei dos atendimentos de mais de duas décadas passadas. Lembrei da dor produzida pelas bordas ósseas desalinhadas e resolvi ajudar fazendo uma manobra para aliviar a for.

– Senhora, me chamo Ric e sou médico. Eu posso ajudar tracionando seu pé. Vai aliviar a dor. A senhora me permite?

Ela respondeu dizendo “se passar essa dor, pode ser”. Ato contínuo, tracionei o calcanhar em direção oposta ao corpo e percebi que ela imediatamente sentiu a dor diminuir. “Obrigado moço, aliviou bastante”.

Acho que devo ter ficado mais de uma hora parado no meio da cafeteria puxando aquele calcanhar enquanto esperávamos o SAMU. Quando chegou a equipe de emergência, ela foi rapidamente transportada de maca para uma ambulância e posteriormente atendida no Pronto Socorro.

Semanas mais tarde recebi uma caixa no consultório onde havia um pote biscoitos e um bilhete. A desafortunada senhora descobrira meu endereço pelo nome completo que eu havia lhe dado. No bilhete que acompanhava os biscoitos ela escreveu que havia sido submetida a uma cirurgia e que o traumatologista do hospital elogiou minha iniciativa de tracionar o tornozelo. Em tom de brincadeira, o colega falou que, apesar do azar do tombo, foi muita sorte ter alguém com rudimentos de traumatologia por perto para dar a primeira assistência.

Os biscoitos eu lembro até hoje como os mais saborosos do universo. Eram tão bons que eu não comia mais do que um por dia e deixava o pote escondido, para durar mais tempo e não ter que dividir. Mas por certo a oportunidade fortuita de ser a pessoa certa no momento certo é a parte mais saborosa dessa memória.

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Paradoxo da Paz

“Desculpe, sou contra o Putin, um diabo medonho, e porque tenho horror a qualquer guerra. Não existe justificativa para elas. Ah, e dizem que o Putin é homofóbico”

É impressionante a dificuldade dessa esquerda liberal de entender que essa guerra não pode ser avaliada por critérios morais aplicados a seus personagens principais. Também parece difícil entenderem que a guerra já estava acontecendo há 8 anos mas, curiosamente, só quando a Rússia reagiu é que os “pacifistas” se escandalizaram. Lembra muito o horror que surge quando uma bombinha Palestina atinge Israel alertando os “pacifistas” – que saem as ruas vestindo branco e pedindo paz – mas são os mesmos que respondem com absoluta apatia quando ocorrem os repetidos massacres em Gaza (que os sionistas tratam como “mowing the lawn” – aparar a grama).

Pois agora aparecem oportunistas que são contra a Guerra da Ucrânia, mas sequer ficam com a cara vermelha ao apoiar nazistas “old school” – que sequer podem ser chamados de neonazis, porque de novo nada têm. Querem a paz, mas só a paz do domínio, da submissão e do silêncio.

Em nome de uma russofobia e um ódio infantil à “pessoa do Putin” (e não sua política nacionalista e seu governo de direita) aceitam de bom grado passar pano para fascistas e assassinos, que queimaram mais de 50 pessoas vivas em um sindicato em Odessa, construíram laboratórios para guerra química, amarram cidadãos em postes, espancam ciganos e aniquilaram – através de suas brigadas de ultradireita – mais de 14 mil cidadãos em Donetsk e Lugansk desde o golpe de 2014

Por que apenas agora a guerra se tornou inaceitável? Por que admitiram até então que um país dominado por nazistas se juntasse à OTAN e se armasse com bombas atômicas ao mesmo tempo em que rasgavam o acordo de Minsk? Por que se negaram a perceber que uma ogiva nuclear em Kiev leva 4 minutos para atingir Moscou e estaria sendo colocado em uma cabeça de ponte da OTAN na Europa Oriental? Qual país no mundo inteiro aceitaria essa ameaça no seu vizinho? Por certo que o Império americano não, visto que a crise dos mísseis de Cuba em 1963 teve a mesma motivação.

É impossível não se indignar quando vemos xenofobia e desrespeito à todas as pessoas que defendem a Rússia e que cometem o “crime” de refletir com conhecimento de causa e sensatez, fugindo da propaganda imperialista massacrante, entreguista e oportunista que nos invade. A mesma imprensa corporativa que, em nome dos interesses do sistema financeiro internacional, emporcalha redações e redes de TV com mentiras que transformam nazistas declarados em “nacionalistas” e “forças da resistência”.

Estar contra o Putin (que é um direitista, autoritário, anticomunista e, talvez, homofóbico – who cares??) significa cerrar fileiras com a OTAN e a barbárie maligna e genocida do Império americano. Putin, por mais defeitos que tenha, está do nosso lado, lutando por um mundo multipolar, contra o Imperialismo corrupto e racista. Muitos ainda confundem a paz com a falta de reação e a apatia diante da violência imposta. Muitos mais acreditam numa “pax americana”, onde o imperialismo reinaria sem reação. Esta é uma visão ingênua e paradoxalmente violenta, pois condena muito mais pessoas à opressão e à morte.

Ninguém que se diga de esquerda pode estar ao lado dos golpistas ucranianos e do Império Americano. Uma improvável vitória dos nazistas da Ucrânia poderia determinar as bases irreversíveis para uma terceira guerra mundial. Aí reside o maior paradoxo: os pacifistas pró imperialismo e defensores da OTAN esperam como resultado desse conflito algo que inevitavelmente levaria a uma guerra de proporções catastróficas.

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A busca pelo idiota comum

Vejo muita gente – inclusive à esquerda do espectro político – tratando a guerra como se ela partisse das propensões despóticas, dos valores morais e do estado de espírito dos líderes envolvidos. Assim, a guerra da Ucrânia teria acontecido pelo (mau) humor do presidente Putin, pelos seus defeitos, pela sua índole belicosa e violenta, como nas histórias da idade antiga onde um Rei invadia um país estrangeiro – levando à morte milhares em ambos os lados do conflito – apenas porque roubaram dele a mulher que amava.

Nada pode ser mais ingênuo do que isso. Entretanto lembrei do Presidente Bush filho dizendo “vou vingar o que você fez ao meu pai” dirigindo-se a Saddam Hussein quando da invasão do Iraque. Retórica que se usa na busca do “idiota comum”, aquele que tenta reduzir as complexidades da geopolítica às emoções comuns, suas batalhas diárias, seu mundo limitado de relações. Reduzir uma guerra a um embate de vaidades pessoais feridas é a mais absoluta tolice. O que existe por trás dessas narrativas é a tentativa de reduzir a complexidade geopolítica e econômica de uma guerra a questões pessoais e morais, porque assim o “idiota comum” consegue se engajar e juntar-se à grande massa de manobra que forma a opinião pública.

Percebo o mesmo fenômeno nos ataques que os identitários americanos fizeram ao presidente Trump. Era quase engraçado observar as críticas que se fazia ao então presidente por suas posições pessoais – e claramente orquestradas – sobre mulheres, imigrantes e negros. Existe um conluio que envolve ambos os partidos americanos para que as discussões em nível nacional durante as eleições se concentrem nas questões morais e de costumes. Por isso tanto se valoriza o fato de que o presidente é “fiel à esposa”, que “frequenta a igreja”, que é um sujeito “temente a Deus”, porque tal enfoque afasta a todos da realidade acachapante de que existe apenas um partido a governar os Estados Unidos: o “Deep State”, composto dos membros de Wall Street, Indústria de Armas, BigPharma e as empresas tecnológicas do Vale do Silício.

Todavia, o eleitor americano médio precisa de circo, e para isso a vida pessoal, os (des)amores, as frases descontextualizadas ditas no passado e a história familiar entram em cena roubando o lugar dos debates sobre saúde, economia, política externa, educação, etc. No Brasil as questões morais são menos importantes, mas nossa fixação na “corrupção” (uma chaga moral) ocupa o lugar onde deveriam estar programas e propostas. Aqui também temos nossos “idiotas comuns” que atacam a pessoa dos mandatários por não conseguirem entender a complexa tarefa que lhes cabe.

É exatamente este tipo de visão moralista e obliterante que permite que um presidente desastroso como Barak Obama, que invadiu SETE países durante a sua administração, pode ser visto ainda hoje como um “exemplo de administração” um exemplar “homem de família”, e ganhar o prêmio Nobel da Paz de 2009, mesmo que seu governo tenha sido um dos mais violentos e assassinos dos últimos anos, e um dos mais desastrosos no que diz respeito à classe média americana – o que levou à eleição de Trump. Este último teve celebrada sua derrota pelo mundo inteiro, que o considerava um monstro, homofóbico, racista e misógino, sem se dar contra de que esta é uma construção fartamente alimentada pela máquina de guerra americana, ávida por colocar no poder um presidente ligado às suas intenções imperialistas e fomentadoras de conflitos mundo afora. Como disse muito bem Glenn Greenwald em uma recente entrevista “Nada do que Trump fez pode ser comparado à maldade moral das guerras patrocinadas por Bush e Obama”.

Quando escuto pessoas no Brasil e fora daqui “torcendo” pela Ucrânia e se justificando com algo como “Putin não dá para aceitar, afinal, ele é homofóbico!! sou obrigado a reconhecer que esta redução da complexidade das guerras à lógica de uma briga de rua produz efeitos até entre as pessoas esclarecidas. Mas não deixa de ser lamentável.

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Lei de Goodwin

Há muitos anos confirmo na prática a lei de Goodwin. Esta regra explica que “à medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler e/ou os nazistas tende a 100%.” A “lei” leva o nome de Mike Goodwin, um advogado libertário (portanto, de direita) que luta por causas como a liberdade de expressão, mas tem um comportamento antifascista. Curiosamente a lei é “Goodwin”, ou “boa vitória”, pois a menção a Hitler tem o objetivo de colocar o opositor numa posição sem saída.

Esta é a pergunta que eu fazia: por que a infinitas tretas da Internet terminavam em Hitler e não em Cristo, Buda ou Papai Noel? Por que nossa fixação nesse personagem e nesse acontecimento?

Hoje quando vejo a discussão sobre o direito que os nazistas teriam – ou não – de se organizar chego à conclusão que este espaço é reservado para um consenso civilizatório. Era como brigar na pelada de futebol e dizer “não mete à mãe no meio”. Era o limite a partir do qual entrava-se numa dimensão para além do concebível.

Posso entender essas escolhas por limites a partir dos quais não há debate, mas sobra sempre uma questão: quem tem o direito de estabelecê-los?

Ok, nazismo. Milhões de mortos, antissemitismo, loucura genocida. Porém, por que nosso horror não recai sobre o stalinismo? Ou sobre o mais mortífero dos sistemas, o capitalismo? Porque não sobre os que defendem o aborto – ou sua liberação? Por que essa escolha?

Existem várias razões, mas o poder das vítimas em exaltar os horrores sofridos é muito óbvio. Enquanto houver esse fantasma nossos olhos serão desviados do holocausto que ocorre ainda hoje, conduzido pelas vítimas de outrora.

Não aceito temas proibidos, cancelamentos ou assuntos vedados. Tudo precisa ser discutido. Não posso aceitar docilmente que os piores nazistas disfarçados dessa nação obstruam o debate em nome da “moralidade”.

Ou ninguém mais desconfiou dos sujeitos que atiraram as primeiras pedras? 

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Propaganda imperialista

Entre conhecidos portugueses vejo também constantes ataques a Putin. Por lá também viceja uma EPB – Esquerda Pequeno Burguesa – anti Rússia, anti Putin e anticomunista que mascara suas perspectivas imperialistas com um falso “discurso pela paz”. Não há porque acreditar que seja um fato isolado; a Europa inteira deve estar infestada por esse tipo de narrativa.

Não aceitam o contraditório e acreditam que apoiar os nazistas da Ucrânia – que mataram 12 mil civis no Dombass e queimaram vivos sindicalistas em Odessa – poderia ser um passo em direção à “paz”.

Nunca é demais alertar a todos sobre a pervasividade da propaganda imperialista; ela está por todo lado.

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