Arquivo da tag: sombra

Exposição

Eu acho mesmo que a publicidade sobre personalidade das redes sociais atua de forma desfavorável para os profissionais liberais, como obstetras, médicos em geral, advogados, psicólogos, etc. Eu ainda acho mais seguro que estes profissionais usem perfis enxutos, básicos, muito simples e que ofereçam orientações simples sobre o seu ofício, mostrando a direção e o sentido amplo da sua proposta de trabalho (por exemplo, humanização do nascimento), mas sem exposição intensa e ostensiva dos profissionais – excesso de fotos, prêmios, filhos, conquistas, casa, férias, etc.

Cada dia mais me convenço que uma postura pessoal discreta é o melhor caminho, o mais seguro. Aqui na minha terra há uma expressão que diz “não alerte os gansos”, ou seja, não chame tanta atenção para si mesmo, pois poderá em breve se tornar alvo dos invejosos e daqueles que se sentem ameaçados pelo seu sucesso. As redes sociais devem ser prioritariamente usadas para disseminação de ideias, não de propaganda pessoal, pois a exaltação de egos é uma luz muito forte, que invariavelmente projeta uma enorme sombra. O número de profissionais famosos que sucumbiram ao tsunami do próprio ego deveria nos ensinar algo sobre os perigos dessa vitrine virtual.

PS: Isso não é indireta para ninguém, só uma digressão sobre superexposição midiática.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Luz e Sombra

Muito poucos se preocupam em dar apoio e suporte aos cuidadores. Quando as perdas acontecem eles se tornam invisíveis ou se transformam em alvos fáceis para nossas frustrações. Humanizar o nascimento também é cuidar de quem cuida. Se para cuidar é preciso aparentar força e confiança, quem haveria de duvidar de uma máscara tão bem costurada à pele, a ponto de nos fazer crer que nada a pode perturbar, nem mesmo “a dor que deveras sente”.

Esta escolha é sempre complexa pois se baseia em fatores subjetivos e questões circunstanciais e, em verdade, ela está na base de toda a opção que fazemos por cuidar das pessoas. Você pode escolher o contato nos limites do necessário para realizar sua função específica; entretanto poderá entender que somente ao raspar as crostas superficiais do sujeito é possível entender o que se passa para além de sua epiderme.

Assim sendo, diante de nós duas portas se oferecem: uma delas nos leva ao mundo do aparentemente manifesto, do discurso, da evidência, do sinal aparente e do sintoma mais grosseiro. Um mundo muito próximo da biologia, da física e do real que (ilusoriamente) nos envolve. Já a outra porta nos leva ao mundo do simbólico, do relativo, do subjetivo e do pessoal. Um universo de significados e significantes dispersos e fora de ordem, onde moram nossas verdades mais sombrias. A casa das verdades perenes, das memórias sombrias e do medo.

Ambas as portas nos oferecem a oportunidade de conhecer os pacientes, mas enquanto a primeira permite um contato superficial a segunda nos obriga à criação de um vínculo que também nos impõe – em contrapartida – a conexão afetiva e emocional. Por isso mesmo adentrar desta forma no universo mais profundo dos pacientes nos leva obrigatoriamente à empatia e à conexão, à alegria e ao sofrimento.

Quem escolhe a segunda porta sabe que as alegrias serão sempre o tempero da vida; a luz que nos faz caminhar e seguir adiante. Todavia, sabe também que as perdas e os insucessos não poderão passar pela vida de quem cuidamos sem nos afetar da mesma forma.

A dor de perder na luta inglória contra a morte será sempre maior quando nossos corações se conectam com quem vestiu as capas do luto. Quem escolhe a com-paixão – o afeto compartilhado – sabe “a dor e a delicia de ser o que se é”. Sabe também que o preço das alegrias supremas é estar junto de quem sofre, para poder auxiliar quem se depara com as dores mais profundas que a vida pode reservar. Merece um abraço todo aquele cuja dor de hoje lhes rasga a alma, exatamente porque são pessoas de luz e espíritos especiais.

Reese Waldorf, “Who cares”, ed Epigram, pág. 135

Rose Waldorf nasceu em San Diego, na Califórnia, em 1977. Muito cedo se interessou pelas questões do parto e do nascimento e após terminar o “high school” na sua cidade resolveu estudar enfermagem para se dedicar à parteria. Foi criadora da “Heaven”, uma Casa de Parto que atua no mais puro modelo de parteria, atendendo a população pobre e as imigrantes mexicanas da fronteira. Escreveu seu livro “Who Cares” após sofrer uma crise de pânico por excesso de trabalho (burnout) e perseguições da corporação médica de sua região. Seu livro rapidamente se tornou uma espécie de “manual emocional para parteiras iniciantes”, pois descrevia não apenas as partes belas e sublimes da tarefa de atender partos, mas também as sombras, as violências, as agressões e as perseguições a que são submetidas. Rose continua atendendo partos e morando em San Diego. É casada e tem dois filhos, Jeremy e Jason.

Deixe um comentário

Arquivado em Citações, Histórias Pessoais, Parto

Iluminação

Há quem diga que a iluminação é um salto em direção à luz; eu a enxergo como um mergulho corajoso na própria sombra.

Kimberley McCaulin, “Leap into Darkness”, Ed. Bethesda, pág 135

Deixe um comentário

Arquivado em Citações

Freud, sempre ele…

sigmund-freud

A frase original é de Sigmund Freud é “O que João diz de Pedro fala mais de João do que de Pedro”.

Essa é uma técnica de análise que sempre achei válida. Nunca peça para alguém descrever a si mesmo, pois somos os piores avaliadores de nossas próprias almas. Todavia, ao descrevemos a outrem, deixamos escapar o que pensamos de nós mesmos, e estas imagens aparecem refletidas no espelho que o próximo nos oferece.

Assim, fuja daqueles que ostentam dedos acusatórios apontados contra tudo e todos; eles, na verdade, apontam para a própria sombra.

Sempre…

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos