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Fortunas

Virou um mantra dentro da esquerda progressista a proposta de taxar grandes fortunas. Vários analistas falam – com muita razão – que a burguesia “hard core” do Brasil não paga imposto, e que um milionário paga menos tributos do que uma professora de escola primária. Não há dúvida que, dentro do modelo econômico em que estamos inseridos, esta é uma proposta coerente; eu me permito, entretanto, uma pequena digressão. Para mim, a taxação das grandes fortunas funcionaria como liberar os animais do zoológico. Ora, todos concordamos com a necessidade de libertar os animais aprisionados das gaiolas onde estão expostos à nossa curiosidade. A crueldade de colocá-los “atrás das grades” para que possamos admirá-los à custa de seu sofrimento não parece ter cabimento no mundo atual. Todavia, esse recurso, apesar de justo e correto, tem a potencialidade de desviar a verdadeira questão do nosso horizonte e do nosso foco. O que deveríamos estar verdadeiramente questionando – com força e insistência – é a própria existência de zoológicos, que só existem porque nossa ganância desmedida causou a destruição do ambiente natural dos animais selvagens. Esse deveria ser o real debate – a preservação do ambiente natural – e não a simples libertação dos bichos cativos.

Mutatis mutandis, as grandes fortunas só existem porque o sistema capitalista concentra a riqueza de forma obscena, aumentando as distâncias entre o trabalho e o capital pela própria essência concentradora do capitalismo. Deveríamos estar discutindo as razões pelas quais existem bilionários, que são as maiores ameaças atuais à democracia. A razão simples é que essa riqueza abusiva destes sujeitos sempre se traduz em poder político, o que pode ser facilmente percebido pela atuação dos bilionários e suas corporações nos reiterados ataques às democracias da América Latina em todo século XX. Elon Musk e o conhecido bilionário das “revoluções coloridas” George Soros são o exemplo claro do risco que os bilionários representam para as nações do sul global. A ideia de taxar fortunas se encaixa na perspectiva de “mudar a superfície para manter a essência intocada”, e por isso mesmo serve aos interesses da esquerda liberal, que não aceita a luta de classes e insiste na ilusão de “disciplinar o capitalismo” e esperar por uma “conciliação de classes” que leve ao progresso, o que sempre se mostrou um fracasso.

É por esta razão que vedetes da “esquerda” liberal americana usam o slogan tax the rich, como se esta frente de lutas fosse uma linha de combate revolucionária, quando na verdade não passa de uma manobra diversionista do próprio capitalismo para nos impedir de adotar a luta anticapitalista como bandeira. A mais conhecida é Alexandria Ocasio-Cortez, a estrela da “esquerda” histriônica do partido democrata. Ela faz parte de um grupo de novatos do partido democrata chamado “The Squad“, que tem essa fachada jovem mas insistem nas práticas reformistas por todos conhecidas, e que jamais foram capazes de produzir reais modificações ou benefícios para a classe trabalhadora. Todas essas iniciativas partem da “esquerda woke” americana e deveriam ser repudiadas pois não passam de cortina de fumaça para nos impedir de perseguir o real objetivo através da verdadeira luta.

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Proposta demagógica

Mais uma vez: retirar recusos do fundo partidário é uma posição reacionária. Descapitalizar as eleições trata a escolha popular como algo menor, como se financiar a democracia fosse algo desprezível e de menor importância. Continuo absolutamente contrário a esta proposta, pelas razões que já expus. Essa proposição fortalece os partidos da direita, os conservadores e obolsonarismo. Equivaleria a usar o dinheiro dos sindicatos para debelar a crise, causando um enfraquecimento das instituições de proteção ao trabalhador. Não faz sentido algum abrir mão de avanços da democracia – como é o fundo partidário – através de propostas populistas para enfrentar a crise. O fundo partidário oferece paridade de armas aos partidos!!! Não se justifica enfraquecer a democracia em nome de uma crise; existem muitas outras formas de capitalizar o governo sem prejudicar as eleições e os partidos de esquerda. Esses fundos foram criados pra dar mais transparência e equidade para as eleições.

Quem sabe tiramos recursos da compra de armas de Israel ou deixamos de financiar a policia assassina? Quem sabe finalmente taxamos os bilionários? Não, a proposta é fazer valer o poder econômico da direita e da burguesia, através do estímulo ao financiamento próprio das campanhas. Quem seria eleito sem dinheiro público? Ora… os empresários, os políticos já eleitos, os milionários, s elite financeira, etc, e não o trabalhador simples, o pedreiro que mora na Lomba do Pinheiro e quer representar sua comunidade ou o funcionario público que deseja uma valorização para o servidor do Estado. Se essa proposta vier a vingar, apenas os ricos terão dinheiro suficiente para financiar suas campanhas; os pobres não terão condições sequer para entregar um santinho. “Proponho a gente cancelar o 13º salário de todos. Não seria uma coisa fixa, apenas um direcionamento pra essa causa, para essa necessidade. Como uma atitude dessas poderia enfraquecer a democracia? Por favor eu queria mesmo entender“.

Ora, estou sendo irônico; não é da população pobre ou da democracia que devemos tirar recursos!!! Essa proposta enfraquece a política, mas só através da política poderemos resolver a crise, até porque foi ela mesma – e as nossas péssimas escolhas – quem criou todos os males que agora enfrentamos. 

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Trabalho

A mensagem que fica, a partir da ingênua resposta da menina é: você não precisa ser uma mera empregada (comissária de bordo); pode ser uma empresária e dona de um avião. Essa é a moral que subjaz, o subtexto que brota das palavras da menina, travestida de empoderamento feminino. Troque “avião” por qualquer setor do capitalismo, como loja, fábrica, empresa, escritório, etc… e verá que existe um nível de valoração que vai do mais baixo (o trabalhador, a comissária, o empregado) até o capitalista (o dono do avião, o proprietário da empresa, o dono da loja), como se trabalhar e ter uma função (como o simples proletário e a comissária) fosse menos nobre, menos válido ou menos importante do que ser um capitalista dono das coisas, cuja virtude fundamental é possuir grandes volumes de dinheiro, cuja origem é sempre desconsiderada nesta equação.

Pior: as palavras da garota escondem a verdade, vendendo a imagem ilusória de que uma menina pode vir a ser dona de um avião “se ela se esforçar muito“, quando a realidade material mostra que os donos de avião – e de fábricas, de terras, de grandes lojas, etc – pouco se esforçaram na vida em comparação ao trabalhador comum – como qualquer um de nós. Apesar de exceções notáveis e pontuais, são pessoas cuja riqueza vem de suas famílias, de sua classe, de seus contatos e do acúmulo de capital que as gerações anteriores produziram. Portanto, a frase contém uma glamorização do capitalismo e dos bilionários, enquanto insiste na desvalorização do trabalho de todos nós, o qual é tratado como algo menor, menos valoroso e menos interessante quando comparado com o charme de ser bilionário…

Para que fique mais fácil entender, se esse avião for da Virgin Airlines a dona dele se chama Joan Templeman, esposa de Richard Branson, e ela se esforçou durante a sua vida muito menos do que qualquer comissária de bordo. Essa é a questão de querer ser “dono” ao invés de ser “trabalhador”. Para trabalhar é preciso esforço; para ser “dono” nem sempre.

Para descontrair:

A enfermeira sorridente apresenta o bebê recém nascido à sua irmãzinha pelo vidro da maternidade. Ao lado da menina o pai sorri para a moça com o bebê nos braços e diz para sua filha:

– Sabia que se você estudar bastante também poderá ser uma parteira?
A menina põe as mãos na cintura, empina o queixo e então responde:
– Se eu quiser posso ser a dona do hospital!!

Os demais pais, que aguardavam ansiosos para ver seus bebês na sala de espera, abraçam e consolam o pobre pai que cai em prantos enquanto diz entre soluços: “onde foi que dei errei? O que fiz de tão errado?”.

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A Patologia Social dos Biliardários

Foto: Carta Capital

Numa sociedade dividida em classes, onde existem bolhas que separam as castas sociais, bilionários são pessoas distantes do nosso convívio regular. Em função dessa distância, e da necessidade de essencializar as diferenças, os bilionários desenvolvem desprezo pelo povo, seus jeitos, seu cheiro, suas roupas, sua música, seu linguajar. Essa percepção que têm de nós surge do fato de que eles se isolam num universo onde apenas encontram seus iguais – outros bilionários – cuja fortuna foi certamente forjada na exploração do trabalho alheio, na pilhagem, no roubo, à sombra dos poderosos e com doses quase imperceptíveis de escrúpulos. O jornalista Chris Hedges tem um excelente ponto de vista no que diz respeito à “Patologia dos Ricos”, afirmando que nossa percepção dos muito ricos é baseada em propaganda e que não espelha a realidade da sociopatia que tal divisão de classes proporciona.

Muitos, e durante muito tempo, acreditaram que um dos principais problemas está na falta de educação do povo, o que faz com que tenhamos políticos despreparados para dar conta das coisas do país. Em verdade, os oligarcas brasileiros – e igualmente os americanos – são paridos nas melhores escolas e com a melhor educação que se conhece. O problema não é a falta de preparo e de educação, mas um sistema político que escolhe representantes nas classes dominantes sucumbindo à ilusão de que sua educação os faria agir de forma a produzir progresso e justiça social.

Atenção: o “biliardário” não é o seu vizinho que tem uma casa de dois andares na praia ou que tem uma Hylux na garagem. Esse é o “rico” da classe média. O biliardário é um sujeito que você nunca viu pessoalmente.

Bilionários vivem em bolhas de privilégios, em condomínios fechados de usura e abundância indecentes. As únicas pessoas normais a quem encontram são vassalos, serviçais, muitos deles esperando uma pequena migalha ou o sublime êxtase de dizerem-se próximos do “comendador” ou da “fulana, rica e extravagante”. São personagens que desde crianças foram ensinados dar ordens a adultos; empregadas, babás, motoristas, diaristas, etc, acostumado-se a olhar a quem trabalha de cima para baixo. O mundo das gentes normais é algo que assistem com certo desprezo, com distância, olhando através de suas gigantescas TVs panorâmicas de plasma. A tragédia ocorre quando sujeitos com essa formação assumem posições do poder, como a família Bush, os Clinton, Trump, os Kennedy ou Boris Johnson, pois que enxergam o povo com profundo menosprezo, como uma imensa massa de serviçais ao seu serviço – e não o oposto, como somos iludimos a pensar.

Por certo que não é preciso dizer que toda a riqueza obscena que os cerca desde o berço não é garantia alguma de felicidade, realização ou alegria. Vidas construídas sobre “coisas” frequentemente são tão frágeis quanto a matéria que constitui seus objetos, a qual se deprecia rapidamente. Acreditar na capacidade do dinheiro em produzir a realização plena do sujeito é desprezar as evidências cotidianas que nos mostram a inexistência dessa conexão.

Uma amiga doula americana certa feita foi convidada para atender um casal herdeiro de uma família bilionária de um país distante. Recebeu para isso altos honorários e todas as despesas pagas. Depois do atendimento ela descreveu o casal como pessoas extremamente simples, com hábitos mundanos e triviais, iguais aos de qualquer mortal. “Gente como nós”, disse ela com a doçura que lhe caracteriza.

Eu lhe respondi que até a Rainha da Inglaterra pareceria normal num contato trivial e ocasional. Entretanto, os valores do sujeito vão inexoravelmente aparecer quando forem colocados à prova – em especial num momento de crise. O sujeito que desprezou e xingou policiais na frente da sua casa, dizendo ganhar milhões enquanto eles não passavam de pobres funcionários públicos, apenas expôs seu espírito deteriorado em um momento de crise, deflagrado por uma quantidade razoável de álcool. Posso apostar que, no dia a dia, ele é um sujeito que dissimula e esconde com perfeição seus preconceitos e o desprezo que, em essência, nutre pelos que estão abaixo de si na pirâmide dos ganhos materiais.

Zardoz, filme de 1974 com Sean Connery

O mesmo posso imaginar do jovem casal de bilionários, que certamente vivem no Valhalla dos ricos, no Olimpo dos “diferenciados” e que não conhecem, como nós, o preço do quilo da alcatra e não se espanta com o preço do leite. O mundo contemporâneo criou o universo distópico de Zardoz, um obscuro filme de 1974 com Sean Connery, onde a população rica vive reclusa em redomas de vidro para se proteger da crescente massa de miseráveis. E não se trata de uma avaliação de ordem moral, mas uma perspectiva de classes, onde a separação econômica – cuja ligação se dá pela exploração – produz uma ideologia e uma conduta cotidiana que naturalizam essa distância entre os bilionários e o povo por eles explorados.

Estabelecer conceitos – para o bem e para o mal – baseado nas informações superficiais colhidas em contatos ocasionais é sempre um passo para o equívoco ou a injustiça. Diga aí: quanto tempo você levou para se dar conta que aquele ex-campeão de Fórmula 1 era um reacionário de primeira?

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O Café e o Cocô

Nos Estados Unidos da América o dono do Twitter ameaça oferecer liberdade total de expressão no seu novo brinquedo de poder o Twitter. Curiosamente, a esquerda americana – os leftists – não estão reclamando com a devida veemência contra a concentração obscena de poder na mão de um sujeito egocêntrico e paranoico como Elon Musk, mas centram sua artilharia na possibilidade de que possamos escrever, a partir de agora, sem censura. Sim, a esquerda americana – que na verdade é uma direita identitária – teme que muitas mentiras serão disseminadas sem qualquer filtro. “O que será dos gays, dos negros, das trans, etc”.

Ora, esse tipo de vigilância de costumes não poderia perdurar muito mais tempo. Ninguém mais aguenta patrulha de expressões, de vocabulário e de sentimentos ofendidos. Ninguém suporta mais essa infantilização que se criou nas relações – em especial na Internet – e que trata a todos como crianças frágeis que não aguentam piadas ou críticas fortes.

Para piadas ruins conte outra melhor. Para ofensas, use ironia – ou ofenda também, se não lhe resta mais nada na sua caixa de ferramentas. O que não é mais admissível e o espetáculo constrangedor de correr sempre para a mamãe – seja ela o estado, o Twitter, o Facebook, o Instagram, etc – e fazer queixa para que uma instância de poder venha nos proteger. Um dia as pessoas teriam que crescer e enfrentar por si mesmas estes desafios.

Uma pena que a esquerda raiz, socialista e marxista não teve força para liderar a luta pela liberdade de expressão. Somos poucos a lutar contra os desmandos autoritário e da censura. Enquanto isso a esquerda liberal foi invadida por identitários que são os primeiros a pedir cancelamentos, silenciamentos, censura e cerceamento da liberdade de expressão. Uma lástima que essa nova onda veio de um bilionário Ancap, representante da direita mais perversa e concentradora de riquezas.

Bem, dizem que o melhor café do mundo é o Kopi Luwac, feito com grãos retirados do cocô da Civeta. Quem sabe essa metáfora sirva para a gente lembrar que em longo prazo a liberdade é sempre melhor do que qualquer censura, e que a gente pode consegui-la mesmo que tenha que separar seu valor da bosta que a envolve.

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A Sedução dos Atalhos

Na série de artigos que escrevi ultimamente sobre George Soros e a “benemerência colorida” era exatamente sobre essa perspectiva que eu me debruçava. Muitos de nós estamos tão fortemente aprisionados na perspectiva capitalista que sequer percebemos as armadilhas do realismo capitalista para a captura de consciências. Por isso eu vi com um certo horror a passividade com que grupos de assistência ao parto saudavam a intromissão da “Open Society” – uma organização internacional com tentáculos em todo o planeta e gerenciada pelo bilionário Soros – nas nossas organizações, e a justificativa dada era de que “Bem, não há como combater a perversidade desse sistema; assim, nada mais nos resta a não ser jogar a toalha. Porém, não custa nada aproveitar um pouquinho destes valores oferecidos para mitigar os efeitos devastadores do capitalismo na cultura, nos povos, nos trabalhadores e nas minorias“. É neste exato momento que nos iludimos com a ideia de que o auxílio às vítimas do capitalismo pode ser feito usando os próprios recursos dos capitalistas, sem perceber o quanto isso reforça seus pressupostos.

Não acredito na possibilidade de avançar em campos tão sensíveis como a assistência à saúde – em especial à assitência à mulher – sem uma ruptura com a lógica subjacente ao sistema capitalista, onde a saúde está vinculada ao lucro e ao incentivo das intervenções. Um sistema que lucra com a piora da qualidade de vida dos clientes/cidadãos tem uma estrutura perversa, que não pode perdurar. Aceitar que os grandes capitalistas financiem ONGs que atuem no Brasil é aceitar que influenciem na forma como essas questões são abordadas pela população. Esta interferência é deletéria e ameaça a soberania de qualquer país.

Como seria possível deixar que o capitalismo curasse as feridas que ele mesmo produz pela adoção de uma sociedade dividida em classes? De acordo com Fisher:

“… o realismo capitalista conquistou de tal modo o pensamento público que a ideia de anticapitalismo não mais atua como a antítese do capitalismo. Em vez disso, é implantado como um meio de reforçar o capitalismo. Isso é feito por meio da mídia que visa fornecer um meio seguro de consumir ideias anticapitalistas sem realmente desafiar o sistema. A falta de alternativas coerentes, conforme apresentadas através das lentes do realismo capitalista, leva muitos movimentos anticapitalistas a deixarem de visar o fim do capitalismo, mas em vez disso mitigar seus piores efeitos, muitas vezes por meio de atividades individuais baseadas no consumo.”

É fundamental entender que o capitalismo é um sistema que está fadado a falhar, pois não é possível crescimento infinito em uma realidade finita, e a exploração de uma classe sobre a grande maioria da população é moralmente inaceitável. Os modelos de benemerência criados por bilionários, como tentativa de mitigar o sofrimento que o sistema (que os beneficia) impõe, apenas atrasa a adoção de uma mudança profunda na estrutura social. As maquiagens na assistência à saúde da mulher, ao parto e nascimento, não vão solucionar os problemas nevrálgicos dessa sociedade, mesmo que pontualmente possam trazer benefícios para indivíduos “agraciados” por esta ajuda. Este é o clássico “mudar os rótulos para que a estrutura se mantenha intocada”.

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Corrupção à granel

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Eu afirmo que comparada à corrupção LEGAL e corriqueira da sonegação de tributos, a corrupção de agentes do governo – seja de onde for – é café pequeno; totalmente desimportante quando comparada à grande corrupção do sistema capitalista. Basta olhar os números. Isso não significa que ela não deve ser combatida, mas apenas que deve ser vista em perspectiva, para que não seja usada eternamente como cavalo de batalha dos grupos de direita. Aliás, os escândalos mostrados na CPI da Pandemia e da família Bolsonaro mostram que essa retórica da direita é pura encenação. Era falso com Adolf, com a Ditadura Militar, com Collor, com Bolsonaro e com tantos outros.

“Somadas, as mil empresas que possuem as maiores dívidas ativas com a União sonegaram R$ 754,7 bilhões aos cofres públicos. Se esse valor fosse quitado pelos empresários, o Brasil poderia pagar 14 meses de auxílio emergencial aos trabalhadores informais, autônomos e desempregados. De acordo com o Ministério da Economia, cada mês do benefício custa R$ 51 bilhões.”

51 bilhões POR MÊS!!

Enquanto isso, a maior força tarefa para o combate à corrupção – a Lava Jato – de triste memória, arrecadou tão somente 4.3 bilhões, o que é menos de 10% do que poderia ser pago de auxílio a cada mês. É ÓBVIO que esse “combate à corrupção” promovido pelos governos de direita é uma cortina de fumaça, alienante e moralista, para não enxergarmos a verdadeira corrupção, o enorme furo que esse modelo produz nas contas.

Entretanto, apesar da disparidade desses números a corrupção é vendida desde sempre pela extrema direita como “o grande mal a ser combatido”. Por isso permitimos que surjam bilionários como o velho da Havan, o Bezos e o Elon Musk, cuja fortuna é produzida pela incapacidade do Estado em produzir justiça social.

O combate à corrupção deve ser feito dentro dessa perspectiva. Feche-se o megaducto da sonegação atacadista primeiro, para depois fechar a torneira dos corruptos à granel.

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Interesses ocultos

Não se trata de ser anti ciência, anti medicamentos, anti vacinas, anti cesarianas ou contra qualquer coisa, mas ter a coragem de fazer perguntas que precisam ser respondidas. É acima de tudo uma postura que encara as oligarquias planetárias e questiona seus métodos e seus objetivos. Afinal, quais os interesses de Bill Gates nesse cenário?

Uma lembrança: em 21 de abril de 1998 o jovem deputado Luis Eduardo Magalhães morreu de um infarto fulminante. A importância de sua morte era aumentada por três fatores: ser filho do poderoso ACM, ser líder entre seus pares e por ter apenas 43 anos de idade. A notícia chocou a todos. Na semana seguinte encontrei no corredor do prédio do meu consultório um colega cardiologista. No melhor estilo “small talk” disse a ele “E essa do filho do ACM, hein? Que horror!! Tinha só 43 anos!!”

Ele curvou os lábios para baixo e disse: “Nem fale, mas por outro lado o meu consultório nunca esteve tão cheio. Estou marcando consultas com semanas de antecedência. Podia acontecer uma coisa dessas cada seis meses.”

Claro, estava brincando, mas deu a entender, um pouco constrangido, que estes desastres acabavam lhe trazendo benefícios. A criação de doenças novas e a exaltação de tragédias produzem medo. E o medo, como bem o sabemos, faz desaparecer a razão e a clareza dos fatos e acaba nos jogando em um redemoinho de más escolhas. O pânico é sempre um péssimo conselheiro.

Assim, muita gente poderosa se beneficia com este tipo de tragédia global, e não precisamos ir muito longe para verificar isso. Os maiores beneficiários são empresários que estão revolucionando os setores de tecnologia, saúde e equipamentos médicos, como o bilionário sul-africano Elon Musk, ou a chinesa Zhong Huijuan.

Já é possível dizer que 2020 foi, na verdade, um dos melhores anos para os bilionários em muito tempo. As fortunas somadas dessa turma chegaram a US$ 10,2 trilhões recentemente, de acordo com um relatório divulgado pelo banco suíço UBS. Trata-se de um valor recorde, sendo que o anterior, de US$ 8,9 trilhões, data de 2017. Não apenas essas pessoas, as mais ricas do mundo, recuperaram seu patrimônio, como, em alguns casos, fizeram-no crescer. E isso aconteceu no mundo inteiro, e o Brasil participou da festa.De maneira geral, grandes nomes ligados ao universo da tecnologia e do varejo, como Jeff Bezos (Amazon), Bernard Arnault (LVMH), além dos chineses Ma Huateng (maior acionista da gigante de internet e da comunicação Tencent), cujo patrimônio aumentou quase US$ 20 bilhões em questão de meses, e Qin Yinglin (maior produtor de porcos do mundo) foram os grandes destaques desse show dos bilhões”. (leia aqui matéria completa)

PS: Veja abaixo uma entrevista sobre Bill Gates que foi dada por um dos jornalistas investigativos mais famosos da atualidade: Max Blumenthal, que entre outras coisas escreveu “The 51 Days War” sobre o massacre Palestino em Gaza em 2014.

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A Benevolência dos Bilionários

Eu fico um pouco espantado – não deveria – quando escuto manifestações de pessoas dizendo que “ao invés de irmos para Marte deveríamos estar lutando aqui mesmo para acabar com a miséria e a pobreza”.

Poucas frases poderiam ser mais ingênuas do que esta. Nada mais infantil do que pedir que a pedra de sustentação do capitalismo seja destruída….. pelos capitalistas. Dentro do modelo capitalista não existe a menor possibilidade de curar as mazelas do mundo, porque um mundo sem miséria seria intolerável para os ricos. A pobreza, e a divisão entre países ricos e pobres, está no CORAÇÃO do capitalismo, e é a base de sustentação do sistema de exploração. Também a eles não interessa o fim das guerras pois que estas geram riquezas imensuráveis para os países ricos produtores de armamentos. Um mundo dividido, desigual e em constante conflito é a única maneira de manter a iniquidade brutal que hoje observamos.

É como dizer para o sujeito rico: ao invés de comprar mais um carro importando poderia usar este dinheiro para pagar melhor seus empregados. Entretanto, se os seus empregados tivessem uma vida melhor não se submeteriam a trabalhar por muito menos do que produzem para o patrão. Desta forma, a pobreza e as baixas condições são o adubo para a exploração e a concentração de renda.

Pedir que o mundo se preocupe mais com os miseráveis é o mesmo que pedir o fim do modelo que os produz aos borbotões para servirem de escravos modernos para o capitalismo. Se isso fosse feito não sobraria dinheiro para construir foguetes ou fabricar mais armas.

Não devemos pedir que os ricos se preocupem mais com os pobres, isso é apenas ridículo. Devemos exigir que aquilo que é produzido o seja em benefício de todos e não apenas de quem controla o poder e o capital. Sem entender a luta de classes este tipo de manifestação ingênua só provoca risos entre os bilionários que controlam o mundo…

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A Perversidade da Riqueza Obscena

Conheço você há muitos anos, desde que fiquei grávida. Sempre admirei suas palavras, mas agora estou decepcionada. Nunca fui ao seu Facebook para criticar sua defesa ao Lula, então não vejo razão para você vir aqui esculhambar os posts que escrevo sobre o que acredito.

As palavras foram duras e a decepção parecia muito verdadeira. Apaguei o que havia escrito e pedi perdão pela intromissão. O post em questão tratava de uma exaltação do trabalho do Sr. Luciano Hang – o Véio da Havan – e sua distribuição de brinquedos para crianças pobres vestido como um Papai Noel azul – embutindo até nesse gesto uma crítica ao “comunismo”. A manifestação dessa minha amiga de Facebook sobre a notícia era ao estilo: “É desse tipo de pessoas que precisamos. Parabéns pela sua visão social“.

Minha frase de crítica havia sido simples e curta: “A tradicional hipocrisia do capitalismo“, mas foi suficiente para gerar ressentimento. Retirei imediatamente minha manifestação, mas fiquei absolutamente tomado pela curiosidade. A questão que não me deixava em paz era: “Por que continuamos a venerar a filantropia dos ricos? Por que acreditamos que um punhado de milionários como Bezos, Gates, Buffet, Musk, Lemann – e até o véio da Havan – tem algum compromisso em fazer um mundo melhor distribuindo uma fração microscópica de seus lucros com programas sociais?”

Somos herdeiros de uma tradição de castas, sejam elas explícitas, como na Índia, ou dissimuladas, imbricadas nas estruturas de poder de quaisquer sociedades. No topo da sociedade ocidental encontramos os europeus brancos; na base os negros, pardos, pobres. Pior ainda é quando naturalizamos essas diferenças e as colocamos como parte do destino, ou do “plano divino”. Ao lado disso, vemos que a distribuição de riquezas desse planeta – e nosso país em especial – é absolutamente perversa, onde a renda do 1% mais rico da população brasileira foi equivalente a 24% da renda total do país no período de 1926 a 2015, o que representa o dobro da concentração observada na maioria dos países do mundo. Apesar de todas as evidências de que a concentração de riqueza está piorando, continuamos a acreditar que a solução dos problemas do mundo pode recair sobre os ombros de milionários que CAUSARAM a maioria desses transtornos, e que consertariam um planeta disfuncional pela própria iniciativa, através da… caridade.

A injustiça estará sempre presente onde a caridade tomar o lugar da equidade.

Como diria Anand Giridharadas, jornalista e escritor americano, é como dar o emprego de bombeiro para o piromaníaco porque “ele sabe como manejar o fogo“. No Brasil, nossa economia é tradicionalmente entregue a banqueiros, mas agora nosso meio ambiente, a saúde da mulher, a agricultura e a educação foram entregues aos representantes da elite perversa que nos controla.

Para ser justo, neste caso não se tratava de uma “fascista” odiosa e inconsequente, apenas uma moça muito amável que acredita no fogo fátuo da benemerência dos bilionários. Alguém que acredita na fantasia de que a solução dos problemas ecológicos do planeta partirá da iniciativa de bilionários que vivem em bolhas de poder e abundância e que desconhecem a realidade da miséria no planeta.

Passados mais de dois séculos ainda confiamos em Marias Antonietas para dizer do que temos fome. Continuamos a aceitar passivamente o sistema de castas que nos oprime, até o dia em que não seremos mais tão facilmente manipulados. Espero que esse dia chegue através da democracia, pois que qualquer outra possibilidade será cara demais.

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