Vou deixar bem clara a minha posição: não existe ninguém que lamente mais a eleição do governador Eduardo Leite para o governo do Estado e Sebastião Melo para a prefeitura de Porto Alegre do que eu. Ambos são representantes do que existe de mais atrasado em termos políticos: o neoliberalismo privatizante, o descaso com as populações mais carentes e periféricas, o desprezo com o meio ambiente e uma pauta cosmética, sem profundidade e sem atingir os pontos nevrálgicos da nossa sociedade. O preço a pagar pela eleição desses liberais privatistas estamos vendo agora: uma inundação que poderia ter seus efeito profundamente minorados não fosse o despreparo para as tragédias anunciadas, em especial no que diz respeito à capitalização de instrumentos do poder público para evitar e minorar os efeitos do desastre ou encurtar o sofrimento daqueles atingidos.
Por estas razões, surge aqui no Rio Grande do Sul a ideia de uma GLO. Sim, exatamente: existe um “zum-zum” no ar de que seria possível solicitar uma garantia da lei e da ordem e, através desse artifício constitucional, retirar os governador do seu posto. A partir daí seria designado algum representante do governo federal para assumir esta posição. Como as responsabilidades do atual governador na crise parecem ser bem severas e documentadas, esta GLO serviria para tornar mais diligentes as ações para a restauração da normalidade.
Quero deixar claro que me oponho veementemente a esta proposta, mesmo afirmando que sou oposição a este governo e que reconheço as responsabilidades dos mandatários atuais na crise grave das inundações. Entretanto, a frágil democracia brasileira precisa interromper este ciclo de impedimentos extra eleitorais de seus representantes. Não é aceitável que todo o presidente seja confrontado – desde o primeiro dia de mandato!! – com a ameaça de impeachment, em especial quando vemos que a imensa maioria destes movimentos são oportunistas, sem base legal, de caráter golpista e com o objetivo de ascender ao poder sem a necessidade de eleições. O mesmo devo dizer para governadores e prefeitos. Maus governantes merecem ser defenestrados nas urnas e apenas crimes de responsabilidade bem documentados poderiam retirá-los dos seus cargos. O impeachment de Dilma deveria ter nos ensinado que um congresso venal e corrupto como o que temos há várias legislaturas vai agir contra as leis e contra a constituição se assim for do seu interesse.
Ou seja: uma ação dessas no Rio Grande do Sul – mesmo que fosse necessária, algo que não estou convencido – abriria as portas para novos atentados golpistas. A vítima óbvia da próxima intentona golpista será a esquerda!! O presidente Lula será alvo de um ataque ainda maior por parte da direita rancorosa e, como bem o sabemos, não é difícil encontrar desculpas para um golpe, como ficou comprovado na fantasia das “pedaladas fiscais” do governo Dilma. Por isso, acredito que precisamos suportar esse governo neoliberal e derrotá-lo nas urnas; acreditar no congresso ou – pior ainda – na justiça burguesa é um erro que a esquerda não pode mais aceitar.





