O debate acirrado e, por vezes áspero, sobre “cesariana x parto normal” nunca vai morrer enquanto nascimento for uma clara e evidente manifestação da sexualidade feminina. Expressão do erotismo feminino, o nascimento guarda com a prática sexual relações emocionais, psicológicas, afetivas, físicas, hormonais e até espirituais. Exatamente por não ser uma questão restrita às variantes médicas e de segurança é que as mulheres se digladiam – as vezes de forma deseducada – sobre a questão do parto e suas opções. Nunca se estabelece um debate racional; ele é sempre carregado de afeto – e raiva, remorso, tristeza também são afetos. Sabemos que não é admissível, numa perspectiva subjetiva, julgar as escolhas de cada mulher sobre a sua sexualidade. Nenhuma mulher é menos mulher por namorar outra mulher, ou por se casar com um russo ou japonês, e isso nos parece bastante claro. A liberdade de fazer escolhas se expressa tanto nas suas opções amorosas quanto no nascimento de seus filhos.
A piada em questão aborda uma crítica (sim, mas em forma de humor) contra um MODELO, um PARADIGMA, que dificulta e até mesmo impede a livre expressão da sexualidade no nascimento (o parto normal) e oferece a elas como única opção digna a cesariana “salvadora”. Não é uma crítica contra as mulheres que, por uma razão ou outra, fazem escolhas sobre seus partos. Negar à elas a possibilidade de escolher é que é o verdadeiro crime, mas poucas mulheres se aventuram a falar sobre isso, e preferem desfiar justificativas intermináveis. O problema para mim nunca foi mulheres escolherem cesarianas (ou escolherem outras mulheres para amar, ou estrangeiros…) mas quando essa é a ÚNICA opção digna que se lhes oferece!!!
Da mesma forma, se a heterossexualidade fosse a única opção digna para o encontro amoroso (e há pouco tempo era visto assim…) eu estaria levantando bandeiras para que as mulheres pudessem amar quem realmente desejassem. Se o parto normal fosse IMPOSTO às mulheres eu também sairia às ruas como defensor das escolhas informadas. Infelizmente o que se lê nos debates sobre a cesariana ainda é a ladainha chata do “menas main” e as explicações enfadonhas para cesarianas realizadas, na sua maioria injustificáveis à luz da MBE (Medicina Baseada em Evidências).
E, de uma forma mais intensa e clara nos últimos anos, testemunhamos o fato de que as evidências científicas provando a superioridade inquestionável do parto normal sobre a cirurgia cesariana incomodam cada vez mais as consciências. Antes ainda era comum – e até aceitável – dizer: “Fiz, sim, essa escolha e não me arrependo“. Hoje em dia, com a avalanche de pesquisas provando os malefícios da cesariana (principalmente as com hora marcada) está quase impossível continuar sustentando essa afirmação.
E viva o humor, que nos oferece a oportunidade de falar dessas questões enquanto esboçamos um sorriso especial; aquele que damos ao rir de nós mesmos.