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Orgulho Hétero

Cuiabá decreta “Dia do Orgulho Hétero”. Resta saber como será o desfile.

Sugestões:

  • Haverá bandeirinhas penduradas em mastros artificialmente erguidos por Viagra.
  • Cada membro na marcha carrega um banner com o número exato de anos em que está mantendo sua heterossexualidade. Será a ala “Ainda, mas tá difícil”.
  • Haverá um grupo de homens vestidos de mulher dançando freneticamente. Será a ala “Viu, é só brincadeira”.
  • O porta bandeiras será um gordão peludo com um chinelo matando baratas e levando o lixo pra fora.
  • Na apoteose eles farão com seus corpos um desenho na pista (que só se vê com os drones) onde aparece a cara do presidente fazendo arminha com a mão.
  • Na rabeira do desfile uma série de executivos de maleta, paletó e gravata com os filhos e a mulher, segurando uma bíblia na mão. Será a ala “Casado procura no sigilo”

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Arquivado em Humor

A dor da diferença

Muitos heterossexuais julgam os homossexuais como sendo promíscuos, frágeis, egoístas (sexo sem prole) e incapazes de relacionamentos afetivos duradouros. Já muitos gays acham os heterossexuais covardes (já fui tratado assim), com vidas sexuais monótonas, chatos e sem graça. Conformistas e preconceituosos.

Tudo errado…

São todos preconceitos tolos. Nada existe na homossexualidade inerentemente promíscuo ou egoísta, e nada existe da heterossexualidade que leve o sujeito a ter uma sexualidade monótona. Em verdade, o fato é que as escolhas dos outros, quando divergem das nossas, são desafiadoras. Todavia, ao invés de aceitarmos como válidas as diferentes perspectivas que a vida oferece, nós as atacamos com a ilusão de diminuir nossa angústia por termos escolhido esse caminho – e não o outro.

Funciona como o ateu que se irrita com a fé alheia ou o ex fumante que não suporta ver alguém demonstrando publicamente tamanho prazer com o cigarro. Também aqueles que raivosamente publicam fotos de gente na praia durante a pandemia enquanto se refugiam nos seus apartamentos consumindo Doritos e Netflix. O prazer do outros nos causa angústia e dor.

O poliamor, por exemplo, agride meus sentimentos de exclusividade, mas quem disse que precisa ser assim? Talvez a posse dos corpos para os deleites do prazer seja obsoleto mesmo, e o futuro verá a monogamia com a mesma estranheza que hoje vemos o culto à virgindade ou o cinto de castidade.

De minha parte, melhor garantir o muito que tenho em uma só. Se já é difícil achar uma que suporte minha neurastenia, que dirá com muitas. Aliás, não conseguiria nem dormir, imaginando o complô para me exterminar.

(a partir de uma conversa com Deia Moessa Coelho)

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Rótulos

O mais provável é o erro estar nas próprias classificações artificiais que compulsivamente criamos, nos rótulos, no hétero, no bi, no gay, no trans. Ninguém cabe por completo em qualquer uma dessas definições, mas nossa sede de pertencimento nos faz procurar avidamente por algo que se assemelhe a nós.

Talvez, como diz o Zizek, a única coisa de valor nessa nomenclatura seja o “plus” aplicado ao final. No fundo, somos todos “plus”, inclassificáveis, pois nosso desejo é tão único que qualquer rotulação será absurdamente limitante.

Creio que no futuro haverá o tempo em que a frase do Ney Matogrosso fará sentido, e ninguém terá orgulho de ter uma determinada orientação sexual, subjetiva e pessoal, e seremos todos tão somente humanamente semelhantes e divinamente diferentes.

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“Menas Main”

O debate acirrado e, por vezes áspero, sobre “cesariana x parto normal” nunca vai morrer enquanto nascimento for uma clara e evidente manifestação da sexualidade feminina. Expressão do erotismo feminino, o nascimento guarda com a prática sexual relações emocionais, psicológicas, afetivas, físicas, hormonais e até espirituais. Exatamente por não ser uma questão restrita às variantes médicas e de segurança é que as mulheres se digladiam – as vezes de forma deseducada – sobre a questão do parto e suas opções. Nunca se estabelece um debate racional; ele é sempre carregado de afeto – e raiva, remorso, tristeza também são afetos. Sabemos que não é admissível, numa perspectiva subjetiva, julgar as escolhas de cada mulher sobre a sua sexualidade. Nenhuma mulher é menos mulher por namorar outra mulher, ou por se casar com um russo ou japonês, e isso nos parece bastante claro. A liberdade de fazer escolhas se expressa tanto nas suas opções amorosas quanto no nascimento de seus filhos.

A piada em questão aborda uma crítica (sim, mas em forma de humor) contra um MODELO, um PARADIGMA, que dificulta e até mesmo impede a livre expressão da sexualidade no nascimento (o parto normal) e oferece a elas como única opção digna a cesariana “salvadora”. Não é uma crítica contra as mulheres que, por uma razão ou outra, fazem escolhas sobre seus partos. Negar à elas a possibilidade de escolher é que é o verdadeiro crime, mas poucas mulheres se aventuram a falar sobre isso, e preferem desfiar justificativas intermináveis. O problema para mim nunca foi mulheres escolherem cesarianas (ou escolherem outras mulheres para amar, ou estrangeiros…) mas quando essa é a ÚNICA opção digna que se lhes oferece!!!

Da mesma forma, se a heterossexualidade fosse a única opção digna para o encontro amoroso (e há pouco tempo era visto assim…) eu estaria levantando bandeiras para que as mulheres pudessem amar quem realmente desejassem. Se o parto normal fosse IMPOSTO às mulheres eu também sairia às ruas como defensor das escolhas informadas. Infelizmente o que se lê nos debates sobre a cesariana ainda é a ladainha chata do “menas main” e as explicações enfadonhas para cesarianas realizadas, na sua maioria injustificáveis à luz da MBE (Medicina Baseada em Evidências).

E, de uma forma mais intensa e clara nos últimos anos, testemunhamos o fato de que as evidências científicas provando a superioridade inquestionável do parto normal sobre a cirurgia cesariana incomodam cada vez mais as consciências. Antes ainda era comum – e até aceitável – dizer: “Fiz, sim, essa escolha e não me arrependo“. Hoje em dia, com a avalanche de pesquisas provando os malefícios da cesariana (principalmente as com hora marcada) está quase impossível continuar sustentando essa afirmação.

E viva o humor, que nos oferece a oportunidade de falar dessas questões enquanto esboçamos um sorriso especial; aquele que damos ao rir de nós mesmos.

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Arquivado em Ativismo, Parto